FLAVIO NASCIMENTO
Nasceu em 1945 e espalha poesia pelas ruas da cidade, desde os anos 60, desde a geração mimeógrafo, até que um patrocínio justo reuniu a obra dela. Cordel urbano, moderno, desvairado, de inspiração popular, autêntica.
“Flávio pode e deve fazer poesia, porque o faz por necessidade. E de poesia andamos todos bem necessitados.” Chico Buarque
“Prá cada poeta que vai / Surgem Flavios favos em nascimento // Poesia: flor sempre-viva/ Sem mãe nem pai / Flor bastarda florescendo no quintal / Imortal porque sempre em movimento.” Mano Melo
A seguir, dois poemas colhidos de POESIA NA RUA Antologia (1967-1997). Rio de Janeiro: Ibis LIbris, 2003.
NASCIMENTO, Flávio. Poesia na rua: antologia de 30 anos de poesia popular participativa (1967-1997). Prefácio de Bráulio Tavares; posfácio de Zózimo Bubul.; apresentações críticas de Chico Alencar, Valdemar Valente Jr., Márcio Libar. Rio de Janeiro: Ibis LIbris, 2003. 152 p. 14x21 cm. ISBN 85-89126-10-2 “ Flávio Nascimento “ Ex. bibl. Antonio Miranda
II - Outros Passos
Desintegração
Banco
me tranco?
Rua
a vida afunda ou flutua?
Bar
que tem o céu
com a terra e o mar?
Prédio
é tédio.
Propaganda
não é varanda,
não é ciranda.
Água iluminada,
sou nada.
Tapete verde,
tudo se perde,
Estrada molhada
nada
Jardim
de mim?
Momento
tormento
coqueiro
fui inteiro...
museu
o que se deu?
De arte moderna
viaduto
qual fruto?
Restaurante
avante
telefone
sem nome
praça
quem abraça?
Cigarro
agarro, escarro
tonto, conto, ponto.
Profecia (Estilhaços)
Porque a vida
é a tua mesa de comida
sem toalhas comportadas.
Porque fizeste
de um pedaço de chão
um leito leve de amor.
Porque és porta e coração abertos.
Porque tens a cada hora
uma aurora sempre perto.
Porque a tua vida
não é feita de feras.
Porque o teu tempo
não tem esperas.
Porque tens um abraço
para cada instante
e tua vida
é uma partida constante.
Porque não tens o sangue frio
do asfalto.
Porque o teu mundo não é de aço
e nem és um robô.
Porque espalhas estilhaços
de amor.
Porque a tua sede é calma
de alma verde.
Porque a tua fome
é fonte
de onde nasce o homem.
Porque tens a tua vida solta
e tua vida não tem volta.
Porque tens o cabelo selvagem
e cada passo teu
vai de encontro
a uma viagem.
Porque o mundo que descobriste
se deu conta
de que existe.
Porque te fizeste fundador
de um novo espaço.
Porque teu corpo
não tem norte nem sul.
Porque não há algemas
que segurem tuas mãos.
Porque a tua estrada
não tem mancha de solidão
e o céu, o sol, o som
se espalham nos dedos de tua mão.
Porque não medes distâncias
que venham ao teu lugar.
Porque não se mede o longe
de teu andar.
Segue e vai
na rebeldia de tua paz,
mesmo a guerra
fará silêncio à tua passagem.
Ah! Caminhante,
o mundo inteiro
será teu
mais adiante!
NASCIMENTO, Flávio. Poesia. Nova Friburgo, RJ: 1998. 34 p. 14x21,5 cm. Capa: Maria Luiza Borba. Ex. bibl. Antonio Miranda
“Nosso organismo linguístico e cultural precisa, entre tantas outras coisas, da poesia de Flávio Nascimento. Pode parecer uma poesia “descartável”, efêmera, que vive em função do momento de ser dito, mas basta vê-la nesse momento e depois examiná-la no papel, no silêncio de uma noite a sós, para perceber o que ela tem de clássica, de lúdica, de deliberada, de consciente do que quer atingir e dos meios para fazê-lo.”
BRÁULIO TAVARES
TABATINGA
Contra qualquer mau cheiro
fedor
catinga.
USE O BARRO DE TABATINGA! (BIS).
Se o cara te esculhamba
esculacha
xinga.
USE O BARRO DE TABATINGA!
Beba água de fonte
de mina
de moringa
USE O BARRO DE TABATINGA!
Se você toma cachaça
pinga
jacutinga.
USE O BARRO DE TABATINGA!
Em Carangola
Carapicuíba
Caratinga.
USE O BARRO DE TABATINGA!
Contra cera
quizumba
catimba.
USE O BARRO DE TABATINGA!
Se você está duro
teso
na maior pinimba.
USE O BARRO DE TABATINGA!
Em Niterói
Itaipu
Piratininga.
USE O BARRO DE TABATINGA!
Catilina, Catatau
Berimbau, Catapimba.
USE O BARRO DE TABATINGA!
Toque ganzá
maracá
marimba.
USE O BARRO DE TABATINGA!
Página publicada em fevereiro de 2009. Ampliada em junho de 2018 |