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Foto: https://cinema10.com.br 

 

 

FELIPE LION

 

FELIPE LION é um cantor, compositor e poeta carioca, radicado em São Paulo. Seus trabalhos mais recentes são o livro de poemas A Arte da Automutilação e o álbum Bossa Nova Hotel, com a banda Last Aliens in Rio. Para saber mais visite o site www.felipelion.com e o canal do Last Aliens in Rio no YouTube.

 

 

LION, Felipe.   A arte da automutilação.  Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2013.  16x23 cm.   ISBN 978-85-7480-6   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

        o devorador de borboletas 

eu ontem passei o dia devorando borboletas

bichinhos de todas as cores, formas e tamanhos

as pequenas engolia por inteiro, sem nem encostá-las nos dentes

as grandes ia pelas patas e depois mastigava o corpo

(adoro aquele crock, crock, crock, sabe?)

por fim chupava suas asas multicores, para ver se me coloriam
                                                                                     0…a língua

 

quando, noite alta, fui pro quarto dormir

ainda podia senti-las, voando dentro de mim

piruetando pelo estômago, pelos rins...

algumas, mais espevitadas, zanzando em minha cabeça!

mas, confesso, que não consegui pegar no sono

não por causa delas, apesar das cócegas que me faziam

 

é que logo que deitei ao teu lado

percebi que você passara o dia devorando aranhas

e agora me olhava de um jeito intenso e faminto

enquanto me envolvia com pernas

longas... finas... como teias

sem possibilidade de fuga

 

 

 

espinhos dentro de mim  

 

eu trago espinhos dentro de mim
rosa invertida e deformada
por fora a seiva corre contaminada
por dentro pétalas já se abrem murchas

 

raízes que se movem em direção de minha alma
no caminho apertam meu coração, esmagam-no!
não, não sinto o vento em minhas folhas escondidas
nem gozo da chuva que escorre nas entranhas expostas

 

tenho sede, tenho fome, mas tudo é claro e perfeito
sei que o sol está lá fora e a tudo ilumina
e eu existo, apesar de tudo que contemplo
e eu existo, apesar de oculto em silêncio

 

sei também que, um dia, algum pássaro ou larva

irá ferir meu caule torto

o que me encherá de ar e de luz

até ser, simplesmente, insuportável

 

 

 

Página publicada em março de 2018


 

 

 
 
 
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