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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ERICSON PIRES

 

(1971-2012)

 

 

poeta, performer, ator, músico, produtor e agitador cultural, além de mestre e doutor em Literatura pela PUC-RJ e um dos fundadores do CEP 20.000, ao lado de Guilherme Zarvos e Ricardo Chacal. Foi também faixa preta e professor de jiu-jitsu, além de professor adjunto do Instituto de Arte da UERJ. Criou o coletivo musical HAPAX, o RRRadical et alii.

Publicou, como poeta, os livros Cinema de garganta (Azougue, 2002) e Pele tecido (7Letras, 2010). Como ativista, publicou o livro Cidade ocupada (Aeroplano, 2007), um manifesto que defendia a ocupação urbana pela arte. Como acadêmico, publicou Zé Celso Oficina-Uzyna de corpos (Annablume, 2004), que é um desdobramento de sua dissertação de mestrado.

Morreu aos 40 anos de idade, em 17 de março de 2012.

Biografia e foto: https://escamandro.wordpress.com/

 

 

 

Poesia.br  2000.  Org. Sérgio Cohn.  Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2012.   144 p.  13,5 x 17,5 cm.     (Poesia Br: 10)  ISBN  978- 85-7920-117.2    Ex. bibl. Antonio Miranda.

 

 

 

         Canto do tecelão

O fio da noite é também o fio do dia.
Todo tecido é a invenção do dito

O tecelão segue:
Tecer o sol no dia o ventre da terra
a terra no tempo
Tecer a memória na casa o esquecimento na árvore
o vínculo na água
— a água sempre
escoando, escoando —
Tecer a palavra  — cada palavra — ponto a ponto traço a traço
Tecer a palavra a si mesmo
Esquecer a palavra mesmo
Tecer a si mesmo enquanto palavra esquecida
Tecer um tecido
Um tecido líquido espesso
Um tecido roto único
Um tecido vivo
Palavra:
Trair o tecido inventar palavras
Inserir cada nova linha em seu meio
Trair a linha cantar palavras
Catar cada outra dobra que vela
Trair a dobra dobrar palavras
Dobrar sobre elas a outra superfície

Tecido palavra sem fim
O tecelão segue

 

 

 

        Mar de rosas

 

Moro na cidade com mãos atadas peito aberto ouvidos atentos
Todos os caminhos já me são conhecidos
Não sei mais se posso escapar como posso escapar

(escapar)

A cidade continua envolvendo completamente
Seus mil olhos de quem não me vê
Seus tantos braços de quem não me ouve inteiro

completamente

A cidade segue sendo fluxo ininterrupto das horas
E eu já não sei mais onde estou nem onde estive
Que horas são como vai você que é você nunca soube

 

                                                               horas

A cidade passa por mim
E eu espectador passivo tento manter meu olhar atento
Ela fluída imaginária concreta bate na minha cara com

seus dissabores

        A cidade se bifurca
E na medida em que me lanço sobre ela
Esqueço onde estive nunca soube que era sempre

 

                                                               há pouco

 

        A cidade são cidades impossível retê-las em um só punhado
Não moro mais na cidade
Quero o agora

 

                                                       nos jardins dos instantes

 

 

 

 

Página publicada em abril de 2020

 




 


 

 

 
 
 
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