ERICO BRAGA BARBOSA LIMA
Nessa perspectiva de revelação do humano, objeto primordial de toda a escrita, é que funda seus alicerces esta nova obra de Érico Braga, de sexualidades desbragas, de furores viris, de escavação de poros objetivados em desejo profano, com humores e odores de thanatos, a encontrar, quem sabe, fazer encontrar, toda a força e a beleza da atividade erótica, e o quanto ainda nos custa, por humanos, demasiado humanos, vive-las plenamente.
PAULO BAULER
De
Erico Braga Barbosa Lima
ESTILHAÇOS DE BABEL – Volume 1
Rio de Janeiro: Antigo Leblon, 2005.
216 p. ISBN 85-98513-10-5
TIO SAM EM ESPERANTO
As grotescas crises do eu não mais me apetecem
No meu bem-estar signos alheios ditam meu ritmo
minha sorte desbaratada e alguma
desdita de novela (nunca a minha [não a identifico])
Assim, meu poema desvencilha-se de
si mesmo, de mim mesmo,
e na linguagem em si
encíclica nodal desanuvia-se
desanuvia-se, sem culpa,
em sintaxe íntima e sempre
outra que só a do
poema
que nunca mais
poesia
AS MULHERES,
parecem cachorro de porta de açougue:
no fim, se humilham, babam
e abanam o rabinho
por qualquer "trezentas grama"
de linguiça
SOBRE UMA FOTO DE SEBASTIÃO SALGADO (URBAINIDADE)
Desgraça é tão somente
o infinito que encarcera o ato
Grade é liberdade em círculos —
ir a lugar nenhum
Cidade — trouxa de gente
numa síncope de espaços
Belo é apenas
tudo aquilo que nos faz chorar
MATEMÁTICA SOCIAL
ceticismo a um
cinismo a dois
hipocrisia a três
separatismo a quatro
ignorância à mil
O ANZOL DO AMOR
Você me tem é pelos culhões:
chuta
e logo depois por eles agarra
fisga
e me traz
A GENTE COLHE O QUE PLANTA
Somadas todas as conquistas, no fim,
sobre a cabeça, recolheremos
louros, flores...
e muitos chifres
TENHO ÓDIOS RANCORES
e recalques frutos
de desejos ulcerosos inconciliáveis
Cuido como demônios
privados,
amo-os como diabos
de estimação
A VIDA É MATÉRIA
tão ardilosa
que inventou a morte,
para se fazer
eterna.
Página publicada em maio de 2011
|