ELIDA ESCACIOTA
Carioca, com formação em Letras. Freqüentou oficinas e participou de antologias literárias.
De
Fora da Moldura
Rio de Janeiro: Editora da Palavra, 2007
ISBN 978 85 98348 11 7
Meu currículo é bem menos
que breve
O que dizem os diplomas
não se escreve
Nenhum título
me faz monge
O mérito de nossos erros
Não se pendura
Sou o que habita
fora
da moldura
A CASA DOS MEUS OITO ANOS
tinha mais cá fora
que lá dentro
— Hora do banho, criança —
era porta fechada
até passarinho cantar outra vez.
As noites caíam em capítulos,
juntando a gente em volta do rádio.
Da parede, São Jorge pedia
pra minha mãe esperar.
O barulho dos pratos era pouco,
mas o pão nosso Deus dava todo dia.
A cama dividida não me aborrecia.
O mundo cabia no meu quintal
assim que o sol acordasse.
Pobreza mesmo era dia de chuva.
LUA SEM REMORSO
Essa noite não vou dormir
sob as colinas
Bastam-me um chão
de púrpura
uma lua sem remorso
alguém que me coma a carne
e eu lhe roa os ossos
AMANHÃ DIREI SEU NOME
Diante da morte
as palavras vingam-se
e fogem
Descansam como nuvem
quase água
talvez medo
VISITA INCERTA
O sonho que não está
em parte alguma
procura seu pouso
Dança suave, de leve
Como serpentina envolve,
laça o sonhador
O sonho que anda perdido
encontra casa e comida
LESBOS, 2004
Teu olhar de lua inteira
espuma a última onda
aonde me atiro nua
Somos ainda desejo e olhos
Pesa sobre a brisa
fogo serpente e pressa
Mais lira que verso
mais Eros que bolero
vieste e me perdi
Corpos entre deuses e dança
devorando o tempo
de sermos lembrança
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Página publicada em março de 2008 |