ÉLCIO XAVIER
(1922-
Nasceu em Bom Jesus de Itabapoana, Estado do Rio de Janeiro, Brasil e reside na cidade do Rio de Janeiro. Fez parte do grupo da “Revista Branca”.
Publicou: “Manual de Espumas” poemas, e “No País da Águas Verdes”, historia infantil e “Rosaquarium” (2017), e “O Véu da Manhã”, poemas.
A NOVA POESIA BRASILEIRA. Organizado por Alberto da Costa e Silva. Lisboa, Portugal: Escritório de Propaganda e Expansão Comercial do Brasil em Lisboa, 1960. 291 p. 19 x 27 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
TEMPO DIFÍCIL
A Antônio da Nova Monteiro
Ó pequeno jardim de casta província
onde pés acariciam e a música brinca
junto aos destinos e meus olhos!
Ó poros lívidos que geminam beijos
entre açucenas e brisas coradas
perdidas nas tardes o lírio!
Ó pensamentos meus na longínqua hora
das cavalgadas impunes e do mar:
—Fecharam minhas rotas na noite
e pelos rios não descem leves raparigas
como nas praias de Megdar.
As cores foram aprisionadas
e choram os sons nas velhas janelas
quando as folhas ensaiam a Luz.
Como poderei alcançar o hierofonte
e desprender-me no destino das coisas?
(De O véu da Manhã)
DUALIDADE
Para meu amigo Fausto Cunha
Fizeram-me argila e flor
e com perfume alimentei o mar:
vaso puro e rosaquarium
entre licores e a manhã
sou eterna essência e morro,
e realizo tardes sem sofrer.
A argila é fria e sonha. A rosa é alma e vive.
(Rosaquarium)
LAMENTAÇÃO
O grande mar de minhas vigílias,
dá-me o silêncio e minhas cartas!
Devolve-me a tarde em que me perdi
junto d figueira velha e d colina sem bondes!
Quero somente os sons, na eternidade em que me criaram.
Clamo pela alma que me deixa,
presa aos seus olhos e d brisa dos quadros marinhos.
Grito aos vultos trágicos de Xangri-Lá,
balouçantes nos mastros e janelas,
sempre sangrando os membros que me restam.
Não há música, não há sonhos como antigamente:
tenho apenas a noite e Maria Angu
com hervas-de-sangue e corvos sem caráter
perambulando sobre velas e crianças.
Não há luz na tarde e cobre a manhã
a pesada mortalha dos tempos primeiros.
Ah! onde está o barco que me lançou
nesta praia sem pássaros e sem sonhos?
Regressa, ó viajor infiel,
e traze-me a cítara de luz!
(Rosaquarium)
Página publicada em março de 2020
|