DENISE EMMER
Poeta, cantora e musicista. Nasceu no Rio de Janeiro. Graduada em física e pós-graduada em filosofia. Autora de muitos livros de poesia, e compositora com CDs no mercado alternativo.
Os poemas a seguir foram escolhidos da antologia 41 POETAS DO RIO, organizado por Mocyr Félix, publicada em 1998 pela Funarte.
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTO EN ESPAÑOL / TEXT IN ENGLISH
Vias avessas
Chegas por vias avessas escuto teus passos surdos
Deuses que movimentam a incoerência do mundo
Regem relógios quietos de horas que não existem
Feliz a insanidade das multidões irascíveis
Se há mares em teus abraços mergulho em sóis afundados
Decifro a nova linguagem que inutiliza tratados
E despedaça países fundidos em calmarias
O amor desgoverna os ventos assombros em abadia
Viajo os rumos trocados as ruas que se invertem
Distâncias que se encontram pernas que se perseguem
Olhos que confabulam dentro de rios quentes
Percebo outras cidades nos vãos de uma nova lente
O que me faz alcançar as caravelas aéreas
Andaimes velozes cumes a indizível matéria
São teus incêndios a luz que espalhas pelo Universo
E por meu corpo acendendo meus lampiões submersos.
À NOITE
A noite ela se embriaga
e vai bailar nos espaços
usando um traje de pássaros
viaja para o infinito
abro a janela do mundo
e já não vejo seu rastro
me leva lagoa lua
à grande festa das águas
em que outra madrugada
esconderás teu espelho
nas esquinas que não vejo
onde a noite vira asa?
(do livro Teatro dos elementos, 1993)
OS ANIMAIS QUE MORREM
Os animais que morrem
viram luzes
assombros tão pequenos
entre escuros
espectro sereno
sobre muros
os animais que morrem
são futuros.
(do livro Cantares de amor e abismo, 1995)
SINAL DE ALERTA
Faça a noite que faça
as fábricas soltam fumaça
e como avistar quem passa
através de um claro vidro?
Os operários levitam
seus espíritos vencidos
ao cume das chaminés;
que flutuam ente os telhados
marés de moços causados
qual uma cinza tristeza.
E esta pálida natureza
vai colorindo de morte
os jardins de nossos filhos
os fios de nossos pássaros.
E enquanto as mulheres abraçam
crianças de olhos fundos
vão se calando o mundo
como um velho homem com tosse.
Tão curvado e solitário
um moribundo canário
canta a manhã da cidade
que a todo dia reage.
(do livro Canções de acender a noite, 1982)
AS GALÁXIAS
As galáxias
se expandem
e nem ouvimos
seus gritos
os labirintos
se aprofundam
sem que saibamos
seus números
esperamos
que um cão azul
decifre
o infinito
e que nos esclareça
a álgebra
do abismo
a lógica
do insondável
a física
do ilimitado.
Por que é tão dramática
a visão de um céu estrelado?
(do livro o Inventor de enigmas, 1998)
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De
LAMPADÁRIO
prefácio de Alexei Bueno
Rio de Janeiro: 7 Letras, 2008
ISBN 978-85-7577-477-9
O BEIJO
Levou-me sem feitas frases
Somente passo e camisa
Roubou-me um beijo de brisa
Na quadratura da tarde
Jogou-me contra a parede
Rasgou-me a blusa de linho
Roubou-me um beijo de vinho
Diante das aves vesgas
Puxou-me para seu fundo
Rompeu a rosa pirâmide
Roubou-me um beijo de sangue
E bateu asas no mundo.
NOITE MAGA
Andei contigo nas dunas
Nas páginas das areias
Pensei avistar sereias
Mas eram sóbrias escunas
E ao perguntar quem eras
O mar moveu seus navios
Olharam-se as éguas no cio
Voaram fêmeas sem sela
Enquanto me assombravas
Os sais trocavam segredos
Abraçava-me com medo
Torpor, o que me falavas
Então comecei morrer
Por rua mão de veludo
Que me levava entre surdos
No tênue amanhecer
Desmanches de beijo e vício
Aroma de folha e chuva
Teu sorriso atrás da curva
Na ponta do precipício
Longe vai a noite maga
Em seu palácio estranho
Não te decifro és sonho
A povoar minhas águas.
De
O INVENTOR DE ENIGMAS
Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1989
DA MORTE
Os mortos não sobem aos céus
nem elevam-se abstratos
tornam-se apenas retratos
lado a lado nas paredes.
Retrato do avô imóvel
austero e silencioso
do tio tuberculoso
que esquivo me espia.
A avó já está fria
mas me olha com ternura
tece uma colcha escura
para as bodas da família,
Mortos não sobem trilhas
de inconsistentes arranjos
não viram anjos nem brisas
nem cristos nem assombrados.
Sequer passam dos telhados
sequer vão a outros mundos
quando morrem se enraízam
e se alastram é pelos fundos.
Não lhes peço algum milagre
também não lhes rogo bênçãos
de dentro de seus quadrados
não podem mover o Tempo.
Quadros em salas quietas
emoldurados cinzentos
memória em fragmentos
— as vezes nem lhes percebo.
De
Denise Emmer
A equação do noite.
Capa: Jú Barros. Ilus. Kaj.
Rio de Janeiro: Philobiblion, 1986
85 p. Coleção Poesia, sempre 8)
Neste seu quarto livro Denise Emmer já nos autoriza a anunciar a presença de uma poeta que, com quatro livros, está a reclamar um lugar no quadro global de nossa poesia”. Pedro Lyra
Foi no desdobrar do sexo da estrela
outra luz que veio repartiu-se em ondas
elípticas e claras nove pontarias
pariu-se a cor do mundo em nove candeeiros
o brilho veio como se soubesse
ser deste sol o filho coração primeiro
e já engatinhando pelas labaredas
na rotação estranha de um Mercúrio.
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Coxas entreabertas...
arco-íris que escorre sêmen água
cheiro de peito entre montanhas gordas
canais e larvas menstruadas rosas
mãe solar e círculo sagrado
a dor centrífuga força parideira
pares no cosmo de qualquer maneira,
então, a filha-água fêmea Terra.
VOZES DE AÇO. XX Antologia Poética de Diversos Autores. Homenagem à poeta e musicista Denise Emmer. Volta Redonda, RJ: Gráfica Drummond, 2018. 128 p. Apresentação Jean Carlos Gomes. ISBN 978-85-63913-83-8 Ex. bibl. Antonio Miranda
Comentário sobre a autora Denise Emmer escritos por Ivan Junqueira, Sérgio Fonta, Alexei Bueno, Rachel de Queiroz, Álvaro Alves de Faria e Luiz Otávo Oliani.
Incluimos a seguir os dois primeiros poemas da seleção incluída no livro-homenagem:
LAMPADÁRIO
Minha mãe anda distante
Meu pai a leva nos braços
Avisto lençóis no espaço
Os avós já vão mais longe
Viajam todos num barco
Levados por um ciclone
Transitam vias sem nome
Que desembocam no frio
Onde estarão os antigos
Antepassados, os tios
As asas do irmão sombrio
Tudo é poeira e palavra
Haverá além do nada
Um povoado abstrato?
Já não me bastam retratos
Se não me cabe o silêncio.
AINDA AO PARVO
E a música de onde adviria?
Da união de um piano
Com um relâmpago?
A poesia bem sei veio do espanto
Quando nadei do útero ao mundano.
EMMER, Denise. Poema Cenário. Design Marcia Grossmann Cohen. São Paulo: Editora de Cultura, 2013. 16 páginas em folha única dobrada. 14x21 cm. Ilus. col. ISBN 978-85-293-0163-1 Col. Bibl. Antonio Miranda
TEXTO EM ESPAÑOL
Vías adversas
Traducción de Jesús Sepúlveda
Llegas por vías adversas escucho tus pasos sordos
Dioses que mueven la incoherencia del mundo
Rigen los relojes quietos de hras que no existen
La insanidad felz de las multititudes irascibles
Si hay mares en tus brazos me sumerjo em soles hundidos
Descifro una nueva lengua que utiliza los tratados
Y despedaza países fundidos en mares quietos
El amor desgobierna los vientos asombrados de la abadia
Veo rumbos que cambian las calles que se invierten
Distancias que encuentran piernas que se persiguen
Ojos que confabulan dentro de rios calientes
Percibo otras ciudades en el espacio vacío de un nuevo lente
Todo me hace alcanzar las carabelas aéreas
Andamios veloces escalan la matéria inefable
Tus incêndios son una luz que se dispersa en el Universo
Y por mi cuerpo ascienden mis lámparas sumergidas
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TEXT IN ENGLISH
Opposite Ways
Translated by Steven White
You come by opposite ways I hera your silent steps
Gods that move the world´s incoherence
Still watches rule with hours that do not exist
Happy the insanity of irritable multitudes
If there are seas in your armas I dive into sunken suns
I decipher the new language that nullifies treaties
And tears apart countries casts in calm seas
Love cuts loose the astonished abbey Wind
I see the directiosn changed the streets turned upside down
Directios that meet legs that pursue eache other
Eyes that confabulate in hot rivers
I perceive other cities in the empty space of a new lens
It all makes me reach the airbone caravels
Rapid scaffoldings peak to unsayable material
Your fires are the light you disperse through the Universe
And trough my body ascending my submerged lamps.
Fuente: HELICÓPTERO. V. 3 – 4. 2000
NEW BRAZILIAN POEMS. A bilingual anthology after Elizabeth Bishop. Translated & edited by Abhay K.. Preface by J. Sadlíer. Rio de Janeiro: Ibis Libris, 2019. 128 p. 16 x 23 cm. ISBN 978-85-7823-326-6
Includes 60 poets in Portuguese and English.
DENISE EMMER:
Á noite
A noite ela se embriaga
e vai bailar nos espaços
usando um traje de pássaros
viaja para o infinito
abro a janela do mundo
e já não vejo seu rastro
me leva lagoa lua
a grande festa das águas
em que outra madrugada
esconderás teu espelho
nas esquinas que não vejo
onde a noite vira asa?
At night
At night she gets drunk
and goes to dance in places
wearing a bird costume
travels to infinity
I open a window to the world
and I don't see your trace anymore
take me to the lake-moon
to the great feast of the waters
which other dawn
will you hide your mirror
in the corners that I do not see
where the night becomes a wing?
TEXTOS EN ESPAÑOL
Traducción de Cecilia Pavón
VARGAS & MIRANDA Compiladores. Selección y revisión de textos por Salomão Sousa. TRANS BRASILIANA ANTOLOGÍA 36 MUJERES POETAS DO BRASIL. MARIBELINA – Casa del Poeta Peruano. 2012
134 p. Ex. biblioteca de Antonio Miranda
VÍAS ADVERSAS
(Traducción de Jesús Sepúlveda)
Llegas por vías adversas escucho tus pasos sordos
Dioses que mueven en la incoherencia del mundo
Rigen los relojes quietos de horas que no existen
La insanidad feliz de las multitudes irascibles
Si hay mares en tus brazos me sumerjo en soles hundidos
Descifro una nueva lengua que utiliza los tratados
Y despedaza países fundidos en mares quietos
El amor desgobierna los vientos asombrados de la abadía
Veo rumbos que cambian las calles que se invierten
Distancias que encuentran piernas que se persiguen
Ojos que confabulan dentro de ríos calientes
Percibo otras ciudades en el espacio vacío de un nuevo lente
Todo me hace alcanzar las carabelas aéreas
Andamios veloces escalan la materia inefable
Tus incendios son una luz que se dispersa en el Universo
por mi cuerpo ascienden mis lámparas sumergidas.
ALLOUETTE
Mi amor, veo el brillo de la luna
¿Por qué vas a partir de ahora
La noche sigue siendo baja
Es la reina del mundo
Restos de un segundo, un segundo a la izquierda
Ven conmigo
La luz del día nos descubrirá ninguna
Sólo por la noche y se esconden con nosotros
Es el amor que no puede oír nada en el mundo
Restos de un momento, sigue siendo un tiempo del
Quédate conmigo.
Por lo tanto, tienes tiempo
El ruiseñor ELT que hizo reveiller
Un segundo a la izquierda,
Olvídate del mundo
Ven conmigo.
*
Página ampliada e re publicada em novembro de 2008; página publicada em janeiro de 2019
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