CRISTINA PIEDRAS
Nasceu no Rio de Janeiro onde estudou, casou e formou-se em biologia. Mudou para Brasília nos anos 80. Desenvolveu suas atividades profissionais em ensino, pesquisa e gestão de ciências biológicas e da saúde. Foi professora da UFRJ e da UnB e analista de C&T do CNPq.
Em paralelo sempre cultivou sua paixão pela música, pela pintura e pela literatura. Desde os anos 90 participa como cantora de grupos vocais. Além de estudar canto, hoje integra o Grupo Coral Sarazate como primeiro soprano. Em sua passagem pela pintura tem alguns trabalhos que pretende usar para ilustrar seu primeiro livro de poesias.
Em 2000 participou da Antologia multilíngúe, Letras de Babel, onde publicou cinco (5) de suas poesias. Aposentando-se, em 2007, passa a dedicar tempo na organização e revisão de poemas escritos desde a sua adolescência, atualmente reunidos em uma coletânea: (In) Quietudes. Escreve também contos infan-to-juvenis tendo, nesse ano de 2009, enviado dois para concurso literário.
Reside em Brasília, tem um casal de filhos, já casados, que a presentearam com dois netos pura fonte de amor e inspiração.
O RESGATE DA PALAVRA: I Antologia do Sindicato dos Escritores do DF. Brasilia: Thesaurus, 2009. 156 p.
ISBN 978-85-7062847-3 Ex. bibl. Antonio Miranda
Vontade
Às vezes, sinto uma vontade imensa
de correr por colinas verdes
de mãos dadas com você,
como se nada mais existisse
além de nós, simples elementos...
Sinto vontade, às vezes,
de sorrir e gritar e chorar,
de esquecer tudo e todos,
de fazer do hoje um sempre,
de parar o tempo, de amar,
de lembrar e viver eternamente
apenas, o instante...
Às vezes, vontade eu tenho
de sentir o todo em nós,
de alcançar esse mistério,
de misturar-me, de esvaziar-me
como se tudo fosse uma só coisa...
Que vontade, eu tenho
de sentir o vento nas folhas
como se eu fosse árvore,
de trinar como passarinho,
de ser uma pedra, um sol,
um rio, uma estrela, uma flor...
Às vezes, sinto uma vontade imensa
de me derramar junto com as nuvens
como se eu também chovesse,
de acariciar a areia molhada
como sendo lua e espuma do mar,
de deixar de ser apenas eu,
de ser você, de ser nós,
de integrar-me a natureza
e diluir-me em todo o universo...
Ah! Que vontade, eu tenho...
Figuras
Esteve aqui,
há poucas horas,
a mulher do salto dez.
Sem nada ver cá dentro,
fiscal dos bons costumes
cabelos presos, sem queixumes
entrou e logo saiu, a bela senhora.
Chegou de férias,
ainda agora,
a mulher da touca rosa.
Tomou banho, ficou
bem cheirosa foi à praça
rever amigos de muito tempo,
riu, comeu pipocas, sentiu o vento.
E assim, seguem
figuras distintas,
sempre a se evitar.
Não percebem, ainda,
pequenos ajustes e sutis
variações, gerando fissuras,
afetando a rigidez de seus papéis.
A mulher do salto
dez sente doerem
os pés.Tira os sapatos
relaxa, suspira, solta os
cabelos, mas vê nesses atos
uma irreverência à sua natureza,
por excelência, sempre muito séria
A outra tira a touca,
modera os impulsos,
pensa, reflete um pouco,
arruma as coisas em seu
devido lugar e descobre na
sensatez puro complemento
de sua inata soltura, por ironia.
Provavelmente,
quem sabe, um dia ,
veremos a bela senhora
sentada bem feliz no banco
da praça comendo pipocas e a
mulher sem a touca rosa muito séria
equilibrando-se em cima de um salto dez!
Página publicada em julho de 2020
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