CLÁUDIA ROQUETTE-PINTO
nasceu no Rio de Janeiro, em 1963. Formou-se em tradução literária pela PUC-RJ. Dirigiu, durante cinco anos, o jornal cultural Verve. Tem cinco livros de poesia publicados: Os Dias Gagos (Edição da autora, RJ,1991); Saxífraga (Editora Salamandra, RJ, 1993); Zona de Sombra (Editora 7 letras, RJ, 1997); Corola (Ateliê Editorial, SP, 2001 – Prêmio Jabuti de Poesia/2002) e Margem de Manobra (Editora Aeroplano, 2005).
Página da autora: www.claudiaroquettepinto.com.br
Veja também textos em PORTUGUÊS E ESPAÑOL
POEMA SUBMERSO
olho: peixe-olho que
desvia a mão enguia
a pele lisa a
té o umbigo e logo
a flora de onde aflora
(na virilha) o
barbirruivo a
ceso bruto an
fíbio: glabro
dedos tão tentáculos
e crispam esmer
ilham dorso abaixo a
cima abaixo brilha
o esforço — bravo
peixe tentando escapar mas
ei-lo ao pé da frincha que
borbulha (esbugalha?)
roxo incha e mergulha em
brasa estala
e agora murcha
peixe-agulha e
vaza
vaza
RETRATO DE PABLO, VELHO
da sombra seu rosto se lança
um peixe
uma lua africana
boiando à superfície gasta e gris
a calva não dava um aviso
dos olhos vivos
de água, vivos
que engendram antes de ver
a testa de touro tem brio
empurra um nariz repartido:
uma face enfrenta,
a outra subtrai
o resto são rugas e ricto
papiro
e o som de cascos ancestrais
NO ÉDEN
peça a ela que se desnude
começa pêlos cílios
segue-se ao arame dos
utensílios diários
(insônia alinhavando-se
de tiros,
a infância seus disfarces)
é preciso
que se arranque toda a face
deixar que os olhos descansem
lado a lado com os sapatos
na camurça oscilante
de um quarto
isso, se quer (sequer desconfia)
tocar o que se fia (um par
de presas, topázios)
entre os vãos das costelas
abra o fecho ela desfecha
no escuro o quadrante onde vaza
a luz e suas arestas
Poemas extraídos de NA VIRADA DO SÉCULO: poesia de invenção no Brasil, organização de Claudio Daniel e Frederico Barbosa. São Paulo: Landy, 2002. 348 p.
ISBN 85-87731-63-7
De
ROQUETTE-PINTO, Claudia.
Claudia Roquette-Pinto / por Paulo Henriques Britto.
Rio de Janeiro: EdUERJ, 2010. 84 p. (Coleção Ciranda de Poesia)
ISBN 978-85-7511-177-2
“Já uma peça como “Blefe”, porém, o manejo dometro é muito mais flexível, com enjambements, quebras de ritmo e efeitos de som e sentido (como adjetivo “gago” comentando a sucessão de “quês” do mesmo verso) que prenunciam a maestria écnica dos livros posteriores —
catódica essa luminosidade
estranha o sol repele o sol. Intacto
o tique que quedou meus dias gagos
—, tudo isso respeitando as convenções do decassílabo clássico.”
PAULO HENRIQUES BRITTO
Blefe
pois esse é o mês bastardo, azinhavre
engole o que há de doce nos metais
silêncio embaça a pele dos diários
lençóis têm cor de áridos lençóis
existe azul, mas é um azul de asma
que a nitidez da tarde faz em cápsula
espelhos só devolvem olheira e pragas
um gesto que de fácil despedaça
catódica essa luminosidade
estranha o sol repele o sol. intacto
o tique que quedou meus dias gagos
a rima fica lívida nos lábios
e dor sem voz passeia o seu contágio
um gato eletrifica. arrisco maio.
FAIT-ACCOMPLI
antes que houve ou vice-
versa, os céus de nice
antes que florença me invadisse
a bici-
cleta abrisse o zíper
da tardinha (venice beach) an-
tes que a mão cúmplice no rinque
em viena descobrisse a
nova língua, perna-a-perna
antes vence, antes
cacos de matisse al
guém ergueu um verso liso sem
indício de andaime — e nem
por isso tinha pisa um hall de hotel
(de Saxífraga)
CHAMA
as tulipas acenderam
— espadas, coroas,
cabelos —
seu ruído no quarto
na cama sem repouso
um rosto avesso ao rosto
intransigente, do espelho,
busca equilíbrio
sobre o cânion dos lençóis
paira, fogo contido,
gêmeo do incêndio das flores
ardendo em contínuo
silêncio,
no halo da lucidez
(de Zona de Sombra)
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TEXTOS EN ESPAÑOL
CLAUDIA ROQUETTE-PINTO
Claudia Roquette-Pinto nació en Rio de Janeiro en 1963. Tiene formación en traducción literária. Dirigió durante cinco años el periódico Verve, publicación mensual de arte y cultura. Publicó três livros de poesia: Os dias gagos (1991), Saxífraga (1993) y Zona de Sombra (1997).
Poemas extraídos da revista TSÉ=TSÉ n. 7/8 otoño 2000,
[Traducciones de Florencia Fragasso, revisadas por C.R.-P.]
mínima moralia
só a pétala mais rara
carna-
dura estriada
sem transparência de luz
só a pétala folheada
de água
onde mora (aguarda)
o som de uma floresta
pulsação dos fluidos das floresta
quando o tímpano estala
mínima moralia
sólo el pétalo más raro
carna-
dura estriada
sin transparência de luz
sólo el pétalo hojoso
de agua
donde mora (aguarda)
el sonido de un bosque
pulsación de los fluidos del bosque
cuando el tímpano estalla
os reinos
1. tempo
a se desprender do tempo
lenço a lentamente
elucidar-se em frêmito
enquanto cai
2. insone
crivo por crivo
ergueu-se do exíguo leito
e abandona a sombra atônita,
desatada
3. nimbo
globo que assoma
de halo hialino
explode
contra a lâmina das águas
los reinos
1. tiempo
a desprenderse del tiempo
lienzo a elucidarse
lentamente en áspero rumor
en cuanto cae
2. insomne
punto por punto
se yergue del exíguo lecho
y abandona la sombra atônita
desatada
3. nimbo
globo que asoma
de halo hialino
explota
contra la lámina de las águas
vão
palavra-persiana
poema-lucidez
imanta o ar fora do cômodo
das frases um outono
rente à janela
ouro tonto sobre a tarde derrubada
entrementes, entre dentes
(e quatro paredes)
tua boca ainda invoca
equívoca e pobre.
na penugem além da vidraça
os deuses-de-tudo-o-que-importa
cerram as pálpebras de cobre
vano
palabra-persiana
poema-lucidez
imanta el aire fuera de lo cômodo
de las frases un otoño
junto a la ventana
oro tanto sobre la tarde derrumbada
entremedio, entre dientes
(y cuatro paredes)
tu boca aún invoca
equívoca y pobre.
en la pelusa más Allá del vidrio
los dioses-de-todo-lo-que-importa
cierran los párpados de cobre
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De
Heloisa Buarque de Hollanda
Otra línea de fuego - Quince poetas brasileñas ultracontemporáneas.
Traducción de Teresa Arijón. Edición bilingüe.
Málaga: Maremoto; Servicio de Publicaciones, Centro de Edciones de la Diputación de Málaga, 2009. 291 p
ISBN 978-84-7785-8
Cinco líções de inglês
That summer he missed his lover — Ele puxou do bolso, com máximo
cuidado, a última carta, a qual imediatamente rasgou-se ao longo das
dobras puídas.
The letter confused her — Mesmo depois de ler e reler a carta, ela não
conseguia impedir que suas maiores expectativas e seus piores temores
—crianças numa gangorra— se alternassem em sua mente.
She felt very sad — Ela andava, dia e noite, como se levasse no peito a
vidraça que uma pedra acabara de acertar.
He was angry — Ele batia com insistência a ponta do sapato no rodapé,
e, repentinamente, repetia entre dentes alguma frase incompreensível,
que pontuava com um soco.
She begged him to stay — Ela agarrou-se à manga de sua camisa sem
dizer palavra.
Cinco lecciones de ingles
That summer he imssed bis lover — Saco dei bolsillo, con sumo cuidado,
la última carta, que se rasgo a lo largo de las dobladuras gastadas.
The letter confused her — Aun después de leer y releer la carta, no conseguía impedir que sus mayores expectativas y sus peores miedos
— niños en el subibaja — alternaran en su mente.
She felt very sad — Andaba, día y noche, como si llevara en el pecho elcristal que una piedra acabara de quebrar.
He was angry — Golpeaba con insistencia la punta del zapato contra el zócalo, y, repentinamente, repetía entre dientes alguna frase incom-prensible, que puntuaba con un puñetazo.
She begged him to stay — Se aferró a la manga de su camisa sin decir ipalabra.
VILLARREAL, José Javier. Poesía brasileña, Antología esencial. Madrid: Visor Libros, 2006. 587 p. (Colección La Estafeta del Viento, vol. 13) Dirigida por Luís García Montero y Jesús Garacía Sánchez. ISBN 978-84-9895-098-4 Inclui os poetas brasileiros Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Jorge de Lima, Mário de Andrade, Murilo Mendes, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade, Mario Quintana, Vinicius de Andrade, Manoel de Barros, João Cabral de Melo Neto, Lêdo Ivo, José Paulo Paes, Haroldo de Campos, Ferreira Gullar, Adélia Prado, Roberto Piva, Armando Freitas Filho, Carlito Azevedo, Claudia Roquette-Pinto.
A antologia inclui seis poemas de Claudia Roquette-Pinto, em português e em español. Selecionamos dois — os mais curtos — por razões de direitos autorais, apenas com a intenção de promover as traduções de José Javier Villarreal.
HOMEM: MODO DE ABRIR
Com os lábios e com a língua
e qualquer palabra que sirva
para a imagen a ser descascada:
uva túrgida,
auto-suficiente,
súbita inclinando-se ao
verter do próprio sumo
se adequadamente envolta
pela boca
sábia que adivina (conhece?)
a concentração de urgencia e
doçura
dormindo, agora, ali.
(De Margem de manobra, 2005)
HOMBRE: MODO DE ABRIR
Con los labios y con la lengua
y cualquier palabra que sirva
para la imagen de quitar la cáscara:
uva redonda,
auto-suficiente,
de pronto inclinándose al
verter su propio jugo
si adecuadamente envuelta
por la boca
sabia que adivina (¿conoce?)
la concentración de urgencia y
dulzura
durmiendo, ahora, allí.
MARESIA
Para Antonio Cícero
Por duas vezes a lâmina manchada
(furacão no lume do espelho)
que o aço, ao oxidar-se, escavou.
No reflexo sobre a pia do banheiro
(onde, antes, mãos com asas
risos, beijos de manhã).
No círculo de prata
de um CD antigo
(ali cochilam, irrecuperáveis,
seis noturnos).
(De Margem de manobra, 2005)
OLOR A MAR
Para Antonio Cícero
En dos ocasiones la hoje manchada
(huracán en el destello del espejo)
que el acero, al oxidarse, carcomió.
En el reflejo sobre el lavabo del baño
(donde, antes, manos con alas
risa, besos matinales).
En el círculo de plata
de un antiguo CD
(allí dormitan, irrecuperables,
seis nocturnos).
Página publicada em janeiro de 2009; ampliada e republicada em dezembro 2010; ampliada em dezembro de 2016. Ampliada em abril de 2020 |