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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CHICO BUARQUE

                                        

 

“Levei doze anos até me decidir a publicar uma página sobre o Chico. Existem centenas!! Tem também as tais restrições sobre os direitos autorais... mas as letras de música — perdão, poemas — em muitos blogues, repositórios  e as músicas estão à disposição no Youtube, em qualquer canto pela Internet.

 

Sou admirador do cantautor desde a minha juventude e pude assisti-lo, no início de sua carreira, em várias oportunidades lá no Rio de Janeiro, quando os dois éramos jovens. Decidi publicar mais pensando nos nossos internautas fora do Brasil e, mais ainda, para reconhece-lo, embora ele não precise..., como verdadeiro poeta. Poucas de suas tantas criações, apenas para estar com ele algum tempo, e para sempre.”             ANTONIO MIRANDA

 

 

A canção popular de Chico estetiza um sistema de significações dos sentidos culturais de um modo de vida urbano geracional. A análise estética da letra da canção um dos dois sistemas semióticos de base deste gênero híbrido (que conecta o linguístico e o musical) demonstra como o letrista incorpora as informações simbólicas presentes nos signos sociais e recupera um ideário mitopoético historicamente tematizado.

          A obra poética desse artista múltiplo se lida no cotejo simultâneo das duas vias, mão e contramão, é capaz de melhor e mais coerente do que qualquer livro didático disciplinar, contar a história social, antropológica e psicológica do Brasil nos últimos 50 anos, mas não só. Sua lírica tanto figura como des-figura o trânsito promovido pelo imaginário coletivo, promovendo, assim, sua expansão. In:
CYNTRÃO, Sylvia, org.  Chico Buarque: sinal aberto!   Rio de Janeiro; 7Letras, 2015.  204 p.  ISBN 978-85-421-0324-3 

 

Chico Buarque: Prêmio Camões 2019
pelo conjunto da obra!!!!

 

 

 TEXTOS EM PORTUGUÊS  -  TEXTO EN ESPAÑOL

 

 

Recomendamos esta obra para quem quiser aprofundar seus conhecimentos. através de textos de críticos especializados, dos melhores!:

 

 

FERNANDES, Rinaldo, org.  Chico Buarque: o poeta das mulheres, dos desvalidos e dos perseguidos.  Ensaios sobre a mulher, o pobre e a repressão militar nas canções de Chico.  São Paulo: LeYa, 2013.  408 p.  15x23 cm.  ISBN 978-85-8044-858-0   Inclui textos de Adélia Bezerra de Meneses, Aleilton Fonseca, Anazildo Vasconcelos da Silva, Charles A. Perrone, Cleusa Rios Pinheiro Passos, Christiano Aguiar, Daniel Piza, Evelina Hoisel, Igor Fagundes, Lígia Fagundes Telles, Luca Bacchni, Luciano Rosa, Luís Augusto Fischer, Luiz Antonio Mousinho, Luzilá Gonçalves Ferreira, Nelson Barros da Costa, Pedro Lyra, Ravel Giordano Paz, Regina Dalcastagnè, Sônia L. Ramalho de Farias, Sônia Maria van Dijck Lima, Sylvia Cyntrão, Tércia Montenegro Lemos e Waltencir Alves de Oliveira.  Chico Buarque de Holanda / “ Rinaldo Fernandes”   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Seja como for, ouvir uma canção sem atentar à letra também pode significar prejuízo, e às vezes grande, em relação a algo que merece serouvido. Chico Buarque é, reconhecidamente, um compositor que, semdescurar da riqueza rítmica e melódica, preza pela qualidade e mesmo o

preciosismo das letras. Muitas vezes, aliás, esses elementos se casam tãoperfeitamente que formam um todo indissociável. O que leva alguém, por exemplo, a cantarolar "A banda", a canção que alçou o jovem Chico ao estrelato? A poesia simples, mas tocante, a linha melódica igualmente

simples, mas belíssima, ou a "levadinha" marcial meio bossa nova, maissimples ainda, mas de uma leveza capaz, realmente, de alegrar o dia mais

triste? Ou, enfim, tudo isso junto?  RAVEL GIORDANO PAZ

 

 

               A BANDA

 

Estava à toa na vida

O meu amor me chamou

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor

 

A minha gente sofrida

Despediu-se da dor

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor

 

O homem sério que contava dinheiro parou

O faroleiro que contava vantagem parou

A namorada que contava as estrelas parou

Para ver, ouvir e dar passagem

 

A moça triste que vivia calada sorriu

A rosa triste que vivia fechada se abriu

E a meninada toda se assanhou

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor

 

O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou

Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou

A moça feia debruçou na janela

Pensando que a banda tocava pra ela

 

A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu

A lua cheia que vivia escondida surgiu

Minha cidade toda se enfeitou

Pra ver a banda passar cantando coisas de amor

 

Mas para meu desencanto

O que era doce acabou

Tudo tomou seu lugar

Depois que a banda passou

 

E cada qual no seu canto

Em cada canto uma dor

Depois da banda passar

Cantando coisas de amor

 

 

https://www.youtube.com/watch?v=O6qP5Gtj2LI

 

 

CONSTRUÇÃO

 

Amou daquela vez como se fosse a última

Beijou sua mulher como se fosse a última

E cada filho seu como se fosse o único

E atravessou a rua com seu passo tímido

Subiu a construção como se fosse máquina

Ergueu no patamar quatro paredes sólidas

Tijolo com tijolo num desenho mágico

Seus olhos embotados de cimento e lágrima

Sentou pra descansar como se fosse sábado

Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe

Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago

Dançou e gargalhou como se ouvisse música

E tropeçou no céu como se fosse um bêbado

E flutuou no ar como se fosse um pássaro

E se acabou no chão feito um pacote flácido

Agonizou no meio do passeio público

Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

 

Amou daquela vez como se fosse o último

Beijou sua mulher como se fosse a única

E cada filho como se fosse o pródigo

E atravessou a rua com seu passo bêbado

Subiu a construção como se fosse sólido

Ergueu no patamar quatro paredes mágicas

Tijolo com tijolo num desenho lógico

Seus olhos embotados de cimento e tráfego

Sentou pra descansar como se fosse um príncipe

Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo

Bebeu e soluçou como se fosse máquina

Dançou e gargalhou como se fosse o próximo

E tropeçou no céu como se ouvisse música

E flutuou no ar como se fosse sábado

E se acabou no chão feito um pacote tímido

Agonizou no meio do passeio náufrago

Morreu na contramão atrapalhando o público

 

Amou daquela vez como se fosse máquina

Beijou sua mulher como se fosse lógico

Ergueu no patamar quatro paredes flácidas

Sentou pra descansar como se fosse um pássaro

E flutuou no ar como se fosse um príncipe

E se acabou no chão feito um pacote bêbado

Morreu na contramão atrapalhando o sábado

 

 

https://www.youtube.com/watch?v=P7mHf-UCZp0

 

 

RODA VIVA

Tem dias que a gente se sente

Como quem partiu ou morreu

A gente estancou de repente

Ou foi o mundo então que cresceu

A gente quer ter voz ativa

No nosso destino mandar

Mas eis que chega a roda-viva

E carrega o destino pra lá

Roda mundo, roda-gigante

Roda-moinho, roda pião

O tempo rodou num instante

Nas voltas do meu coração

 

A gente vai contra a corrente

Até não poder resistir

Na volta do barco é que sente

O quanto deixou de cumprir

Faz tempo que a gente cultiva

A mais linda roseira que há

Mas eis que chega a roda-viva

E carrega a roseira pra lá

Roda mundo (etc.)

 

A roda da saia, a mulata

Não quer mais rodar, não senhor

Não posso fazer serenata

A roda de samba acabou

A gente toma a iniciativa

Viola na rua, a cantar

Mas eis que chega a roda-viva

E carrega a viola pra lá

Roda mundo (etc.)

 

O samba, a viola, a roseira

Um dia a fogueira queimou

Foi tudo ilusão passageira

Que a brisa primeira levou

No peito a saudade cativa

Faz força pro tempo parar

Mas eis que chega a roda-viva

E carrega a saudade pra lá

Roda mundo (etc.)

 

 

https://www.youtube.com/watch?v=g1M7cgm6Yqk

 

FOLHETIM

 

Se acaso me quiseres

Sou dessas mulheres

Que só dizem sim

Por uma coisa à toa

Uma noitada boa

Um cinema, um botequim

 

E, se tiveres renda

Aceito uma prenda

Qualquer coisa assim

Como uma pedra falsa

Um sonho de valsa

Ou um corte de cetim

 

E eu te farei as vontades

Direi meias verdades

Sempre à meia luz

E te farei, vaidoso, supor

Que és o maior e que me possues

 

Mas na manhã seguinte

Não conta até vinte

Te afasta de mim

Pois já não vales nada

És página virada

Descartada do meu folhetim

 

 

 

 

https://www.youtube.com/watch?v=I18x5dZ3HcY

 

 

 

 

S O N H O DE UM C A R N A V A L

Carnaval, desengano
Deixei a dor em casa me esperando
E brinquei e gritei e fui vestido de rei
Quarta-feira sempre desce o pano

Carnaval, desengano
Esta morena me deixou sonhando
Mão na mão, pé no chão
E hoje nem lembra não
Quarta-feira sempre desce o pano.

Era uma canção, um só cordão
E uma vontade
De tomar a mão
De cada irmão pela cidade.

No carnaval, esperança
Que gente longe viva na lembrança
Que gente triste possa entrar na dança
Que gente grande saiba ser criança.


        Ouça:  https://www.letras.mus.br/chico-buarque/86053/

 

  

 

SONHO DE UM CARNAVAL

 

Carnaval, desengano
Deixei a dor em casa me esperando
E brinquei e gritei e fui vestido de rei
Quarta-feira sempre desce o pano

Carnaval, desengano
Esta morena me deixou sonhando
Mão na mão, pé no chão
E hoje nem lembra não
Quarta-feira sempre desce o pano.

Era uma canção, um só cordão
E uma vontade
De tomar a mão
De cada irmão pela cidade.

No carnaval, esperança
Que gente longe viva na lembrança
Que gente triste possa entrar na dança
Que gente grande saiba ser criança.

Ouça na voz de Chico Buarque:

https://www.letras.mus.br/chico-buarque/86053/

 

 

 

QUEM TE VIU, QUEM TE VÊ

 

Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
Você era a favorita onde eu era mestre-sala
Hoje a gente nem se fala mas a festa continua
Suas noites são de gala, nosso samba
ainda é na rua

Hoje o samba saiu lá lalaiá, procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer

Quando o samba começava você era a mais brilhante
E se a gente se cansava você só seguia adiante
Hoje a gente anda distante do calor
do seu gingado
Você só dá chá dançante onde eu
não sou convidado

O meu samba se marcava na cadência os seus passos
O meu sono se embalava no carinho dos seus braços
Hoje de teimoso eu passo bem
em frente ao seu portão
Pra lembrar que sobra espaço
no barraco e no cordão

Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha
de alta classe
De dourado eu lhe vestia pra que
o povo admirasse
Eu não sei bem com certeza porque
foi que um belo dia
Quem brincava de princesa acostumou na fantasia

Hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeria
Quero que você assista na mais fina companhia
Se você sentir saudade por favor não de na vista
Bate palma com vontade
Faz de conta que é turista

Hoje o samba saiu...

 

 

        Ouça a música: https://www.vagalume.com.br/chico-buarque/quem-te-viu-quem-te-ve.html

 

  

 

                             

 

TEXTO EN ESPAÑOL


COTIDIANO

 

Cada día ella siempre hace todo igual
me despierta a las seis antes que el sol
me sonrie con sonrisa puntual
y me besa con boco de mentol

Todo el día ella dice "te has de cuidar"
cosas que dice siempre una mujer
dice que está esperándome a almorzar
y me besa con boca de café

Todo el día yo pienso en poder parar
al mediodía pienso en decir no
luego pienso en la vida y continuar
y me callo con boca de arroz

En la tarde, a las seis, era de esperar
ella viene y me espera en el portón
dice estar como loca por besar
y me besa con boca de pasión

Cada noche me pide a su lado estar
medianoche y me jura eterno amor
y me aprieta hasta hacerme sofocar
y me besa con boca de pavor

 

 

 

https://www.youtube.com/watch?v=oFiG1684Tmw

 

 





Página publicada em julho de 2014; ampliada e republicada em outubro de 2015.


 

 

 
 
 
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