CELINA PORTOCARRERO
Celina Portocarrero é tradutora e poeta, pesquisadora e antologista.
Nasceu no Rio de Janeiro em dezembro de 1945.
Coordena oficinas de tradução literária no Rio de Janeiro.
Traduz há quase 40 anos dos idiomas francês, inglês, espanhol e italiano.
Organizou a antologia "Vou te contar: 20 histórias ao som de Tom Jobim", 2014, Ed. Rocco.
Organizou a antologia poética "Amar, verbo atemporal: 100 poemas de amor", 2012, Ed. Rocco.
Publicou em 2013 seu primeiro livro infantil, "A princesa e os sapos", com ilustrações de Juliana Fiorese (Ed. Memória Visual) e é autora de "Retro-Retratos" (poesia, Ed. 7Letras, 2007).
Prestou serviços de redação e revisão à Academia Brasileira de Letras no biênio 2012/13.
É membro do Pen Clube do Brasil.
POESIA SEMPRE –No. 32 – Ano 16 – 2009. Poesia contemporânea do Irã. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2009. Editor: Marco Lucchesi. Capa: Rita Soliéri Brandti. ISSN 9770104062006.
Ex. bibl. Antonio Miranda.
Pneumotórax pós-moderno
Febre, dispneia e tremores diurnos. Sem hemoptise.
Vida inteira que se foi e recomeça a ser.
Tosse, pouca.
Não veio o médico,
que em tempos novos há que se ir a eles.
— Respire.
(Onde foi parar o trinta e três?)
— É preciso confirmar com raios-X.
Infecção na base do pulmão direito.
Antibióticos de
doze em doze horas.
Repouso.
— Mais alguma recomendação, doutor? Eu deveria...?
— Não. nada tão grave, basta um pouco de bossa-nova.
Em causa própria
Que se redija uma lei que impeça amigo de virar estrela.
(Estátuas também serão proibidas.)
Por tal lei estará obrigado qualquer amigo
a se fazer ouvido
ainda que quando e se depois de ido.
Que se promulgue um decreto (nada discreto)
que determine a invalidade da ausência.
E um adendo que não permita sofrimento,
e que, pela eternidade do momento,
de tal amigo nos garanta
a sempiterna sempre terna permanência.
Pelos séculos dos séculos,
amém.
Quebra-quebranto
Urge criar invisível muro
que me proteja
de funestos males,
silentes nuvens,
pesados fluidos
que à noite rondam
e se intrometem,
entre mim e o sono
entre o sonho e a paz.
Urge tecer delicado manto
que me resguarde
do sopro denso
de alheias penas,
que a mim isole
do fardo imenso
de quem não sabe
ou não quer mesmo
dormir feliz.
Urge entoar
cantos e cânticos,
aprender passos,
receber passes,
pedir bênçãos.
Urge
com todas as ervas
de todos os matos
me lavar,
em todas as cores
de todas as flores
me banhar.
Urgemrezas,
mandingas,
oferendas
que me libertem
dos maus bruxedos
e me permitam
sem quaisquer medos
amanhecer
sem tons pastel.
Página publicada em julho de 2019
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