CAZUZA
BRASIL, BRASIS + BRASIL, MOSTRA A TUA CARA
Todo poema tem seu ritmo, um som próprio e até música quando O autor é capaz de dar a ele esse andamento peculiar. Há poemas que sugerem valsas, outros têm a melodia de modinhas, quem duvida? Outra coisa é a letra de música, daquela que é escrita em cima do pentagrama, no curso da composição. Fora da melodia, sem conhecer a origem, fica difícil entendê-la como peça musical. Algumas intenções saiam do texto e se completavam na melodia, nos silêncios, nos andamentos da música e na força interpretativa de cantores e músicos.
Quando a gente conhece a musica de antemão, ao rever a letra, a música se impõe na leitura. Impossível evitar a relação simbiótica que açude à memória, seja ouvindo a música, seja lendo o texto.
Tive uma experiência curiosa com a música do Cazuza. Meu amigo Danilo Lobo montou o espetáculo “500 anos experiências poéticas e musicais” para celebrar o quinto centenário do “descobrimento” do Brasil. Partiu de grandes compositores como Villa Lobos e Ernesto Nazaré, de poetas célebres como Raul Bopp e Cecília Meireles, numa revisão poético-musical de nossa criação cultural. E terminou o espetáculo com... Antonio Miranda e Cazuza, isso em 1999 e 2000, durante as apresentações em Brasília e em outras praças, a partir da Universidade de Brasília. Era o fecho do show, na concepção do poeta, ensaísta, pesquisador e cantor Danilo Lobo: combinou um dos cantos de meu livro “Brasil, Brasis” com a música “Brasil”, de George Israel, Nilo Roméro e Cazuza. Um fecho extraordinário, simbólico, significativo, mais do que isso, pedagógico de nossa atualidade. “Brasil /Mostra a tua cara / Quero ver quem paga /Pra gente ficar assim / Brasil / Qual é o teu negócio? / O nome do teu sócio / Confia em mim”, depois daqueles versos iniciáticos de denúncia e contestação: “Não me convidaram / Pra essa festa pobre / Que os homens armaram pra me convencer / A pagar sem ver / Toda essa droga / Que já vem malhada antes de eu nascer”. Como dissociar esta letra de sua música original, embora os versos sejam fortes e expressivos?
Lógico que a combinação de meus versos com os de Cazuza funcionaram bem. E podem ser vistos no vídeo que guarda a memória de Danilo Lobo, que nos deixou para sempre, mas que está vivo nesta apresentação que reverencia a sua memória:
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