CARMEN CINIRA
(Cinira do Carmo Bordini Cardoso) Nasceu: 16/07/1902 (alguns registros também anotam 1905) Local: Rio de Janeiro – RJ Faleceu: 30/08/1933 - Rio de Janeiro – RJ
Humberto de Campos, em A Morte da Libélula nos conta que conheceu Carmen Cinira quase menina, numa tarde, na Academia Brasileira de Letras. E descreve: “Morena, grandes e profundos olhos turcos, de veludo negro, trazia nos traços e, nessa tarde, no vestuário, os atributos de uma jovem princesa oriental. Toda ela era graça infantil e atordoada, de borboleta que acaba de sair da crisálida e penetra num rosal, tonta de sol e em luta com o vento da manhã primaveril. (...) Carmen Cinira tivera como esposo um atleta, notável jogador de futebol, que havia morrido tuberculoso quando contava apenas 20 anos. (...) Viúva aos vinte anos! E contraíra a doença por ter sido a enfermeira dedicada de um esposo tísico...”
Apesar da passagem meteórica pela vida terrestre, plena de ingredientes para transformar-se numa tragédia, Carmen Cinira foi uma jovem arrojada para seu tempo. Através de sua poesia e de sua conduta, desafiou o status quo que condenava a mulher a ruminar os sonhos de amor em silêncio. Provou ser imortal, ter capacidade para pensar. Pensar e influir nos costumes sociais vigentes através de sua obra poética. Fonte: Mila Cauduro
OBSERVAÇÂO: No livro "Poetas Diversos", antologia por Dora Incontri aparece: "nasceu e desencarnou em São José dos Campos (SP) e dedicou-se desde cedo à poesia. " VER MAIS ABAIXO...
DESASSOMBRAMENTO
Que me aguarde, por pena, o mais triste dos fados,
e clamores hostis me sigam pela vida,
que floresçam vulcões nos montes sossegados
e trema de revolta a Terra adormecida…
Que se ergam contra mim os seres indignados
como um quadro dantesco em fúria desmedida,
e que, na própria altura, os astros deslocados
rolem numa sinistra e tremenda descida…
Hei de ser tua um dia e ofertar-te, sem pejo.
vibrante, ébria de amor, á chama de teu beijo,
esta alma virginal que há tanto assim te espera…
E então hei de sentir vaidosa, intensamente,
desabrochar em mim, num delírio crescente,
o instinto de mulher em ânsias de pantera!
A MULHER NA POESIA DO BRASIL. Coletânea organizada por Da Costa Santos. Belo Horizonte, MG: Edições “Mantiqueira”, 1948. 291 p. 14x18 cm. Capa de Delfino Filho. “ Da Costa Santos “ Ex. bibl. Antonio Miranda
SER MULHER
Ser mulher não é ter nas formas de escultura,
No traço do perfil, no corpo fascinante,
A beleza que, um dia o tempo transfigura
E um olhar deslumbrado atrai a cada instante
Ser mulher não é só ter a graça empolgante,
O feitiço absorvente, a lascívia e a ternura
Ser mulher não é ter na carne provocante
A volúpia infernal que arrasta e desfigura ...
Ser mulher é ter n'alma essa imortal beleza
De quem sabe pensar com toda a sutileza
E no próprio ideal rara virtude alcança !
É ter, simples e pura, os sentimentos francos,
E, ainda, no fulgor dos seus cabelos brancos,
Sonhar como mulher, sentir como criança !
INCONTI, Dora. Poetas diversos. (Espíritas) 2ª. edição. São Bernardo do Campo, SP: Edições Correio Fratern, 1999. 252 p. 14 x 21 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
CONSELHOS SIMPLES
Viajante em plena ascensão
Pelo rumo que enveredas,
Guarda esta simples lição:
Feliz quem devolve flores
Aos obstáculos e pedras
Que a vida nos dá por dores.
Revolta é lama que vem
Em tempestade voraz
Empanando todo o bem.
Apenas na fé em Jesus
Encontra a fonte de paz
O que sofre e busca a luz.
Sofrimento é o pai bendito
Que nos corrige e transforma
Dando força ao nosso espírito.
É o freio dos desatinos
Que nos induz à reforma
Para melhores destinos!
Viajante em evolução,
Se onde pisas há só espinhos
Ouve esta simples lição:
Transforma em flores de amor
Nos tortuosos caminhos
Todas as nesgas de dor!
Página publicada em dezembro de 2018.
Poesia mística - Poesia religiosa – Poesia espírita
Página publicada em agosto de 2014; ampliada em novembro de 2016.
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