CARLOS TAMM
Carlos Tamm é carioca NASCIDO EM 1960. Psiquiatra, psicanalista e mestre em Letras pela PÜC-Rio, colaborou com Poemas, contos, traduções ou ensaios com o Jornal Verve, revistas Poesia Sempre, O Carioca, Azougue, Ficções e Trieb, entre outras publicações, tendo sido premiado nos concursos de poesia Raimundo Corrêa (1983), Jornal Verve (1989) e Stanislaw Ponte Preta (1992). Em 1996, publicou o livro de poemas Osso e Vento, pela Ed. 7 Letras.
Dos poemas aqui reunidos, "Paisagem", "Rupestre", Movimento", "Sono", "Espuma" e "Vozes" foram publicados anteriormente na Revista Azougue de abril de 1999. Este último foi escrito a partir de poemas de Ana Cristina César e Armando Freitas Filho, bem como "Palimpsesto", a partir de
poemas de Jorge de Lima e Ana Cristina César.
TAMM, Carlos. Sob luz branca. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2002. 64 p. 12,5x18,5 cm. Tiragem: 600 exs. Col. A.M. (EA)
paisagem
Duas montanhas descem
entre o fundo azul vazio.
Algumas árvores pontuam
o sereno espaço aberto.
Alguns queriam assim, limpo
mas abaixo de tudo isso
vê-se pequenas figuras se movendo.
Aqui, abaixo de tudo isso
desejo e desespero.
Rio, 16/11/96
habitat
Cresce em plena luz
na ponta de um longo caule
brotando do tronco nodoso
de um cadáver de árvore.
Sobre rocha plana
ou barranco seco
de estrada.
A estrutura desagua
na inflorescência do verão
em pétalas pontudas
de um laranja cego.
O que queima vale
pelo que germina.
Macaé de Cima, 30/12/96
imagem
luz, até
que a superfície do mar
deforme, descolorindo.
Que a montanha eclipse
a cor das casas.
Que a garoa rompa
a linha já esgarçada
do contorno da imagem.
Até que um anti-ciclone
dissolva o fio do reflexo
a luz quebra no solo
e salva do desastre.
Rio, 10/1/97
POESIA SEMPRE – Ano 13 -Número 20. 2005 Editor Luciano Trigo. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 2005. 264 p. No. 10 385
Exemplar da biblioteca de ANTONIO MIRANDA
Foto
A névoa envolve o pano
contra os olhos que saltam
do corpo abstraído: já não é.
O esqueleto parte da música
do silêncio só.
Perna, braço, a mão
esbarra na ausência
do outro que converge e confunde:
mar de almas e lama.
Todo esse ferro-velho
um dia foi humano.
Rua do Perdão
O destinatário
daquela primeira carta
não respondida.
O eco do erro do gago
mudo.
Os primeiros olhos
cegos ao espetáculo
do início.
A lápide emerge da terra
para ser esmurrada
até que ela, a mão
a terra, a mãe
sejam um.
Esses tempos
A lama convida ao naufrágio
do cavalo de casco duro.
Resfolega, bufando
contra o mar que se eleva do fundo.
Meio pescoço já soçobra
em meio aos corpos que a correnteza leva.
Mãos de mulher e criança
bicos de pássaros
patas de companheiros.
Não há um consolo vazio
mas a verdade em pelo
o que existe.
Crosta de dor sobre o couro
o bicho galga o abismo
e insiste.
Íntimo
Faz frio. Arde o sol
com açoites de vento e gelo.
Não há quarto gótico
ou frasco alquímico
que junto ao sutil som, revele
o que aproxima o cérebro
do que o coração procura.
Os sentidos não fazem sentido,
não traz a música das esferas.
O pensamento se firma
mas quanto mais grave
volátil, vira chuva.
Ritmo de órgãos
tum-tum da terra
nada sobrenatural.
O doutor mexe o caldeirão
e o que pensa ser visão
apenas espelha.
*
Página ampliada e republicada em maio de 2025.
Página publicada em julho de 2012.
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