CARLOS AUGUSTO CORRÊA
é poeta, cronista e ensaísta. Autor de Elegia sem posse e outros poemas [Gerarte:1988]. Desde 1972 vem colaborando na imprensa do país (Jornal do Brasil, Tribuna da Imprensa, Estado de São Paulo, revista Encontros com a Civilização Brasileira, revista Vozes, revista Poesia Sempre), publicando poemas, resenhas e ensaios. Tem ainda a ser publicado Terra Presente (poesia) e O sorriso da Vila (crônicas).
POESIA NO ESQUELETO
Nem sempre a poesia pergunta
por seus meios e rumos.
Às vezes, em estado de praça,
abraça a desordem
de que uma Central transborda.
E então, poesia no esqueleto, ela fala
com sol na carcaça.
E aí não se move uma prole de sentidos
senão três. Três sentidos, três palavras.
Três, porém, que se ramificam
e clareiam, enegrecem, mergulham
de novo clareiam, sobretudo lampejam
como um sol que brilha
em ziguezague
sobre o rosto da América.
HIATO
violentas e comedidas
as coisas proferidas
buscam o peso do cimento
e duração do aço
mas apesar
haverá sempre um hiato
entre o que digo na desdita
e a história que transcorre
faca na medula
ANTOLOGIA DA NOVA POESIA BRASILEIRA . Org. Olga Savary. Rio de Janeiro: Ed. Hipocampo, Fundação Rioarte, 1992. 334 p. ilus Ex. bibl. Antonio Miranda
OS QUE PERGUNTAM
felizes os que se perguntam:
deles é a boca da noite
com seus dentes que abocanham
com seu medo e sua meiguice
(o mundo desaba o filme
de cracks e mil megatons
de tudo o que não se explica
e amarga no mar de meu tempo)
felizes os que se perguntam
os que sem rumo perguntam
zombeteiros e comovidos
silenciolhando por cima
felizes os que se perguntam
pergunta que só se pergunta
pois na engrenagem e na noite
tudo é final de montanha
Página publicada em setembro de 2020
|