POEMA PARA ABRAÇAR O AMIGO
ao Sylvio Adalberto
Digerir o sol a cada manhã.
Repousar os olhos e viver
a sombra que aquece.
Saber que o silêncio silencia
mesmo que o maior ruído seja
o do coração lembrando a infância.
Curtir o canto sertanejo,
a viola caipira, o peixe no anzol,
as árvores que escurecem com a noite.
Pensar nos amigos que foram
: o regresso ficou para até quando.
O verso fere o conforto dos alienados.
Eu te abraço infantil
como o sopro no dente-de-leão.
ORAÇÃO
Deus é óbvio,
mas só enxergamos labirintos.
Quanto a noite assalta o dia,
para casa corremos:
são muitos os lobos que atravessam os jardins.
Os anjos colhem flores em silêncio.
Nossos corações, em sobressalto,
vêem o medo além das cortinas
e temem o abandono e a solidão
dentro da própria casa.
O que fazer, meu Deus, o que fazer?
Onde buscar, meu Deus, onde buscar?
Uma pétala e um cheiro de almíscar
e um raio de sol e um bocado de sândalo
desprendem-se no ar e sobre a fronte se espelham.
A casa está mais segura.
O medo (onde?) perdeu-se
entre os móveis e paredes vazias.
Os anjos colhem esperanças.
Deus permanece.
LUAR DE SAQUAREMA
ao amigo Gerson Valle
A lua tem júbilos de quem a retém
sem a morte pensar.
Breve companheira do céu, onde foram os namorados?
— Para a noite longa passear,
fazer carícias,
esconder os prantos.
Lua entre ondas de branco desenhada em vago mar,
corre notícia de pescadores assombrados,
de noites sem afago, de prantos sem namorados.
— Noite dessas vou armar rede
à espera de todos os barcos
que sumiram em vagas brancas de meu luar.
Corre, lua, corre, para dizer do outro lado do mundo
que o dia nasceu do lado de cá.
Volta, lua, volta, que eu também quero namorar.
CANTIGA
Os homens são pedras,
metamorfoses de rastros.
Os homens são peles,
itinerários de átimos.
Os homens são muitos,
performance de íntimos.
È preciso aprender as danças,
o samba da nuvem
a valsa da fuga.
Quem sabe o nome do tempo
sabe da chuva o retorno
e sabe da morte o termo.
Quem sabe do trem sabe
da brisa, sabe do homem
a pedra, o lastro, o norte.
CANTIGA
Traducción de Jesús Sepúlveda
Los hombres son piedras,
metamorfosis de rastros.
Los hombres son pieles,
itinerarios de instantes.
Los hombres son muchos,
performances de intimidades.
Es preciso aprender las danzar,
la samba de la nube
el vals de la fuga.
Quien sabe el nombre del tiempo
sabe el retorno de la lluvia
y el término de la muerte.
Quien conoce el tren
conoce la brisa, el hombre
la piedra, el lastre, el rumbo.
BALLAD
Translation by Steven White
Men are stones,
metamorphoses of tracks.
Men are skins,
itineraries of moments.
Men are many,
intimiate performers.
It´s necessary to learn the dances,
the samba of the cloud,
the waltz of the fugue.
He who knows the name of time
knows when the rain will return
and the length of death´s term.
He who knows of the train knows
of the Wind, knows about man
the stone, the ballast, the direction.
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