NUVEM CIGANA*
BERNARDO VILHENA
Nasceu em 10 de janeiro de 2009 Depois de participar do movimento NUVEM CIGANA, nos anos 70, tornou-se o principal letrista dos discos iniciais do Lobão e do Ritchie, logo dedicando-se à produção de programas musicais na televisão carioca e de selos musicais.
De
POEMAS DISPERSOS (1975-1987)
vida bandida
chutou a cara do cara caído
traiu o melhor amigo
corrente soco inglês e canivete
o jornal não poupou elogios
sangue & porrada na madrugada
É preciso viver malandro
não dá para se segurar
a cana tá brava a vida tá dura
mas um tiro só não dá para derrubar
correr com lágrimas nos olhos
não é pra qualquer um
mas o riso corre fácil
quando a grana corre solta
precisa ver os olhos da mina
na subida da barra
aí é só de brincadeira
ainda não inventaram dinheiro
que eu não pudesse ganhar
revanche
eu sei que já faz muito tempo
que a gente volta aos princípios
tentando acertar o passo
usando mil artifícios
mas sempre alguém tenta um salto
e a gente é que paga por isso
fugimos pras grandes cidades
bichos do mato em busca do mito
de uma nova sociedade
escravos de um novo rito
mas se tudo deu errado,
quem é que vai pagar por isso?
a favela é a nova senzala
correntes da velha tribo
e a sala é a nova cela
prisioneiros nas grades do vídeo
e se o sol ainda nasce quadrado
quem é que vai pagar por isso?
o café, um cigarro, um trago,
tudo isso não é vício
são companheiros da solidão,
mas isso só foi no início
hoje em dia somos todos escravos
e quem é que vai pagar por isso
eu não quero mais nenhuma chance
eu não quero mais revanche
ATUALIDADES ATLÂNTICAS
é preciso viver
atualidades
reconhecer códigos
revirar noites
ser todas as raças
todas as épocas
entrar em todas
as barras
e não sujar
em nenhuma
falando o que querendo
ouvindo o que não querendo
perseguindo a realidade
e a fantasia aí
poesia é momento
em que a gente se encontra
sendo
não por dom
pelo entorpecente trabalho
de pensar no tempo
nos contemporâneos
obstinadamente
feito um tubarão
TEXTOS EN ESPAÑOL
ONCE POETAS BRASILEROS. Edición bilíngue. Selección y prólogo Sergio Cohn. Traducción John Galán Casanova. Bogotá: Alcaldía Mayor de Bogotá, Secretaría Distrital de Cultura, Recreación y Deport, Instituto Distrital de las Artes, 2013. 125 p. (Libro al viento. Circulación gratuita) 12,5x16,5 cm. ISBN 978-958-57736-7-7 Apoio: Embajada deBrasil en Colombia.
Inclui o prefácio “Cincuenta anos de poesía brasileña”, por Sergio Cohn e textos dos poetas Roberto Piva, Leonardo Fróes, Chacal, Bernardo Villena, Paulo Leminski, Alice Ruiz, Paulo Henriques Britto. Alberto Pucheu, Ricardo Aleixo, Ana Martins Marques, Angélica Freiras. Ex. bibl. Antonio Miranda
Vida bandida
Pateó la cara del tipo caído
traicionó al mejor amigo
corriente manopla y navaja
el diário no ahorró elogios
sangre & porrada en la madrugada
hay que vivir, malandro
no aguanta contenerse
la cana está brava la vida está dura
un sólo tiro da para derribar
correr con lágrimas en los ojos
no es para cualquiera
pero la risa corre fácil
cuando la plata corre suelta
hay que ver los ojos de la chica
a la orilla de la playa
ahí es pura gozadera
a[um no inventan el dinero
que yo no pueda ganhar
Actualidades atlánticas
hay que vivir
la actualidad
reconocer códigos
repasar noches
ser todas las razas
todas las épocas
entrar em todas
las barras
y no ensuciarse en
ninguna
hablando de lo que se quiere
oyendo lo que no se quiere
persiguiendo la realidade
y la fantasia
poesía es el momento
en que nos encontramos
siendo
no por un don
sino por el trabajo embrutecedor
de pensar en el tempo
en los contemporâneos
obstinadamente
como un tiburón
Revancha
sé que hace ya mucho tempo
retomamos los princípios
intentando ajustar el passo
usando mil artifícios
pero siempre alguien intenta un salto
y todos pagamos por eso
huimos hacia las grandes ciudades
bichos de monte en busca del mito
de una nueva sociedade
esclavos de un nuevo rito
pero si todo falló
¿quién va a pagar por eso?
la favela es la nueva masmorra
cadenas de la vieja tribu
y la sala es la nueva celda
prisioneiros en las rejas del vídeo
y si el sol aún nace cuadrado
¿y quién va a pagar por eso?
no quiero ningún otro chance
no quiero más revanchas.
*“Nuvem Cigana foi um dos raros coletivos que alterou toda a cultura de seu
1 tempo, e deixou rastros visíveis até hoje. Se não tivesse existido, em meados da década de 1970, certamente não teriam surgido, ou ao menos com tanto impacto, algumas das principais manifestações culturais dos últimos trinta e poucos anos: a poesia falada, o teatro de besteirol, o rock brasileiro da década de 1980, a renovação do carnaval de rua carioca, entre outros. Por isso, surpreende que pouco se saiba sobre o grupo.” Sergio Cohn
SÉRGIO COHN, poeta e editor, organizou e publicou a obra NUVEM CIGANA – POESIA & DELÍRIO NO RIO DOS ANOS 70 (azougue editorial, 2009)), com todo o historial do grupo e suas descendências. Mais informações em WWW.azougue.com.br
Extraído de:
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BRIC A BRAC 21 ANOS MAIOR IDADE. Brasília: Caixa Cultura, 2007. 112 p. ilus. col. 23x21 cm.. Exposição comemorativa . Curadoria e projeto expositivo: Marilia Panitz. Coordenação Geral: Luis Turiba. Inclui poemas visuais e arte gráfica. Inclui poemas visuais de Luis Turiba, Manoel de Barros, Paulo Leminski, Zuca Sardanga, Nanico, Franciso Kaque, Wagner Barja, Paulo Andrade, Antonio Miranda, Bernardo Vilhena, Paulo Cac, Ariosto Teixeira, Elizabeth Hazin, José Paulo Cunha, Fred Maia, Nicolas Behr, Claudius Portugal, Ronaldo Cagiano, TT Catalão, Francine Amarante, Adeilton Lima, Maria Maia, Ronaldo Augusto, Augusto de Campos, Arnaldo Antunes, José Rangel Farias Neto, Menezes e Morais, Cristiane Sobral, Eduardo Mamcasz, Vicente Sá, Nance Las-Casas, Bic Prado, Angélica Torres Lima, Flavio Maia, Ronaldo Santos, Joanyr de Oliveira, Sylvia Cyntrão, Carlos Roberto Lacerda, Carlos Henrique, Fernanda Barreto, José Edson, Vera Americano, Alice Ruiz, André Luiz Oliveira, Carlos Silva, Charles Peixoto, José Roberto Aguilar, Estrela Ruiz, Renato Riella, Chico César, Francisco Alvim, José Robert o da Silva, Eudoro Augusto, Amneres, Gustavo Dourado, Alexandre Marino, e ilustradores: Resa, e fotógrafos, etc.
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Página ampliada em julho de 2017. |