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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
PARNASIANISMO  / POETAS PARNASIANOS
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B. LOPES

 

Bernardino da Costa Lopes nasceu no arraial de Boa Esperança (Rio Bonito), Província do Rio de Janeiro. Casado, desorganizou sua vida por motivos de ordem sentimental e entregou-se ao álcool. Foi ri­dicularizado no fim da vida por conta de um soneto infeliz, de louvor ao marechal Hermes da Fonseca.

O poeta negro B. Lopes nasceu antes do fim da escravidão, mas como filho de pais livres e membros da classe média pobre: o pai, Antônio, escrivão, e a mãe, Mariana, costureira.

Membro da boemia intelectual, sua poesia recolhe diferentes tendências da passagem do século XIX ao XX. Da primeira etapa, vista como parnasiana, é Cromos (1881), com o qual obteve reconhecimento nacional. Seus cromos representam, conforme Alfredo Bosi, “uma linha rara entre nós: a poesia das coisas domésticas, os ritmos do cotidiano”.

Em 1890, Cruz e Souza chegou ao Rio de Janeiro: ele, B. Lopes, Emiliano Perneta e Oscar Rosas formaram o primeiro grupo de simbolistas brasileiros. Desse novo período, fazem parte Brasões (1895) e Val de Lírios (1900), entre outros.

Em 1906, morre de tuberculose. A hibridez de sua poesia, de marcas parnasiana e simbolista, continua a merecer novos leitores. [fonte: www.dla.furg.br/ecodosul/biobl.htm

[Considerado parnasiano ( e “impressionista/impressionismo)  por Sânzio de Azevedo ( ROTEIRO DA POESIA BRASILEIRA: PARNASIANIMSO. São Paulo: Global. 2006) e como simbolista (simbolismo) por outro, pois viveu os esplendores das duas correntes literárias de sua vida.

Obra poética: Cromos (1881), Pizzicatos (1886), Dona Carmen (1894), Brasões (1895), Sinhá Flor (1899), Val delírios (1900), Helenos (1901), Patrícoa (1904) e Plumário (1905).

 

TEXTO EN ITALIANO

 

VIII

 

Abrem duas janelas para a rua,

Com trepadeira em arcos de taquara;

A cortina de renda, larga e clara,

Alveja ao fundo da vidraça nua.

 

Em frente o mar, e sobre o mar a lua,

A estrelejar a onda que não pára; ­

Aflam asas por cima e solta a vara,

N'água brilhante, o mestre da falua.

 

Ecos noturnos e o rumor estranho

Da meninada trêfega no banho

Voam da praia ao chalezinho dela;

 

Move-se um corpo de mulher,no escuro;

Gira, após, o caixilho; e o luar puro

Ilumina-lhe o busto na janela!

 

 

X

 

Fim de tarde serena e violetada ...

No céu — duas estrelas, e arrepios

Na safira do mar, toda coalhada

De emaranhados mastros de navios.

 

Longe, entre névoas, traços fugidios

De uma cidade branca derramada

— Casas, torreões e coruchéus esguios,

Por toda a clara fita da enseada.

 

Aqui bem peno, aqui, na argêntea praia,

Contra um rochedo nu, calcáreo e rudo,

Do poente a frouxa claridade estampa,

 

Balouçando-se n'água, uma catraia;

E, agasalhados no gibão felpudo,

Pescadores que vão subindo a rampa ...

 

Brasões (1895)

 

 

PRAIA

 

Pitangueiras, arriando, carregadas

— Esmeralda e rubim que a luz feria —

Cintilavam, em pleno meio-dia,

Na argêntea praia de um fulgor de espadas.

 

Sob o largo frondal eram risadas,

Toda uma festa, um chalro, a vozeria

De um rancho alegre e simples que colhia:

Moças — frutas; e moços — namoradas.

 

Em cima outra aluvião, por todo o mangue,

De sanhaçus, saís e tiés-sangue,

Policromia musical da mata.

 

E através da folhagem miúda e cheia

Bordava o sol, ao pino, sobre a areia

Um crivo de oiro num sendal de prata!

 

Helenos (1901)

 

 

PARAÍSO PERDIDO

 

Outro, não eu, que desespero, ao cabo

De, em pedrarias de arte e versos de ouro,

Ter dissipado todo o meu tesouro,

Como os florins e as jóias de um nababo;

 

Outro, não eu, que para o chão desabo

Esquecendo-te as culpas e o desdouro,

E a teus pés de marfim, como o rei mouro

Em torrentes de lágrimas acabo;

 

Outro conspurca-te a beleza augusta,

Cujo anseio de posse ainda me custa

Como um verme faminto andar de rastros.

 

E mais deploro este meu sonho falso

Ao recordar que andei no teu encalço

Pelo caminho rútilo dos astros!

 

Helenos (1901)

 

 

ORGULHO

 

Este, que me sustém e que me eleva

Ao Pindo, leve como um grão de trigo,

E com a força viril do braço amigo

A um golpe irado me remiu da treva;

 

Este, que o sangue do meu brio ceva

E, fascinado, por desertos sigo,

Monstro de alma e razão, calma e perigo,

Que só pode cair sob os pés de Eva;

 

Este, que me sacode fibra a fibra

E a largos berros o meu nome vibra

Da garganta infernal na áspera tuba,

 

É, da selva do Dante, em que mergulho,

O meu fulvo, potente e ousado orgulho,

— Leão soberbo sacudindo a juba ...

 

Helenos (1901)

 

CROMO

Pitangueiras, arreando, carregadas
— Esmeralda e rubim que a luz feria —
Cintilavam, em pleno meio-dia,
Na argêntea praia de um fulgor de espadas.

Sob o lago frondel eram risadas,
Toda uma festa, um chalro, a vozeria
De um rancho alegre e simples que colhia:
Moças — frutas, e moços — namoradas.

Em cima outra aluvião, por todo o mangue,
De sanhaços, saís e tiés-sangue,
Policromia musical da mata.

E através da folhagem miúda e cheia
Bordava o sol, ao pino, sobre a areia
Um crivo de oiro num sendal de prata!


PER PURA


Clara manhã; rutilante
Ascende o sol no horizonte;
Corre uma aragem fragrante
Por vale, planície e monte,
Trazendo nas frias asas
Um lindo som de cantigas.

De cima daquelas casas,
Casinhas brancas e amigas,
Sobem fumos azulados;
E há pombos pelos telhados.

Cresce o rumor das cantigas...

Surge um farrancho de gente
Alegre, farta e contente,
De samburás e de gigas.
Andam colhendo as espigas
Do milharal pardo e seco;
É dali que vem o eco
De tão bonitas cantigas...

Cantai, cantai, raparigas!


QUANDO EU MORRER


Quando eu morrer em véspera tranqüila,
Num pôr-do-sol de goivos e saudade,
Da velha igreja, que a Madona asila,
O sino grande a soluçar Trindade;

Quando o tufão do mal que me aniquila
Soprar minh´alma para a Eternidade,
Todas as flores dos jardins da vila,
Certo, eu terei da tua caridade.

E, já na sombra amiga do cipreste,
Há de haver uma lágrima piedosa,
A edênica gota, a pérola celeste,

Para quem desfolhou, terno, e as mãos cheias,
O lírio, o bogari, o cravo e a rosa
Pelas estradas brancas das aldeias.


BERÇO

Recordo: um largo verde e uma igrejinha,
Um sino, um rio, um pontilhão, e um carro
De três juntas bovinas que ia e vinha
Rinchando alegre, carregando barro.

Havia a escola, que era azule tinha
Um mestre mau, de assustador pigarro...
(Meu Deus! que é isto? que emoção a minha
Quando estas cousas tão singelas narro?)
Seu Alexandre, um bom velhinho rico
Que me acordava de manhã, e a serra...

Com seu nome de amor Boa Esperança,
Eis tudo quanto guardo na lembrança
De minha pobre e pequenina terra!

TEXTO EN ITALIANO

 

 

Extraído de

MIRAGLIA, TolentinoPiccola Antologia poetica brasiliana.  Versioni.  São Paulo: Livraria Nobel, 1955.  164 p.  Ex. bibl. Antonio Miranda  

 

CULLA

Ricorddo: Piazza verde, una chissetta,
Una campana, un fiume, un ponte, un carro
Di tre paia di buoi che, senza fretta,
Stridente e allegro, transportaba barro.

C’era la scuola, un’umile casetta
Col maestro dal solito catarro…
(Mio Dio! Che è quet’emozione schietta,
Quando cose sì semplici io narro?)

Sior Alessandro, un buon vecchetto ricco,
Che ricevè regnanti;-il :tico-tico”, (1)
Che al mattin mi svegiava: quella serra.

Col suo nome d’amor: — Buona Speranza. —
Ecco ciò che alla memoria avanza
Dell amia cara e piccolina terra!.


 (1) Ucello del Brasile

 

SMERALDA

Smerald, nell’araldico diadema,
Nel lóbulo all’orecchio color rosa,
Nel collo, arde di luce splendorosa
La triplice collana di un sistema.

Sul petto-cielo aperto-luce e trema,
Tra nuvola, di tulle, vaporosa,
Verde cosstellazion maravigliosa,
Il principesco e signorile emblema.

Le circond il suo polso un braccialetto,
Che glauca luce emana. E il lieve cintoo
Un fiore di smeralde tiene stretto.

Le belle dita, eguale pietra scalda…
Ma tutto quel fulgore viene estinto
Dai suoi due grandi occhi di smeralda.

 

MAIO DE 1888:  Poesia distribuídas ao povo, no Rio de Janeiro, em comemoração à Lei de 13 de maio de 1888 / Edição, apresentação e notas de José Américo Miranda:        pesquisa realizada por Thais Velloso Cougo Pimentel, Regina Helena Alves da Silva, Luis D. H. Arnauto.  Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 1999.   220 p.  (Coleção Afrânio Peixoto, 45 )
Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

         EM RAZÃO DA MESMA

A Glória, a Glória pelas ruas valsa,
Doida, gritando às gargalhadas — abre!
E a gente aplaude mulher de calça,
Desembainhando o sabre,
Sabre impoluto, rútilo, sem mancha,
Que corta apenas os grilhões do escravo!
E grita o povo — bravo!
Quando ela agita o braço e dá de prancha.

Há na cidade grande entusiasmo
Como ainda não houve;
Zé-Povinho engomado fica pasmo
De ver luzes metidas em cartucho...

Andam as moças tão alegres, como
Num viveiro de luxo
Canários novos beliscando couve.
— Risos nos lábios e no olhar — feitiço.
Tudo por quê?...
Mas que não sabe disso?
Até eu mesmo tomo
Parte neste folguedo que prescinde
De chapéu alto e luva.
Ai! tomara que Deus não mande chuva!

       Bailes ao ar, como na Europa!... veja!...
Quero fazer um brinde:

 

       Dêem-me daí um copo de cerveja!

 

                                                  B. LOPES



CUATRO SIGLOS DE POESÍA BRASILEÑA.  Introd., traducción y notas de Jaime Tello.         Caracas: Centro Abreu e Lima de Estudios Brasileños; Instituto de Altos Estudios de        América Latina; Universidad Simón Bolívar, 1983.   254 p     Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Traducción de Jaime Tello: 


ESMERALDA

Esmeraldas constelan la diadema
Y la oreja, sutil color de rosa;
El cuello arde en la luz maravillosa
De un collar triple de la misma gema.

En el pecho gentil de albura extrema,
Entre nubes de seda vaporosa,
Verde constelación, en forma airosa
De principesco rango, sigue el tema.

Asegúrale el puso un brazalete,
Brotando glaucas chispas; y en el cinto
Un florón de esmeraldas  por corchete;

En el dedo una piedra igual escalda…
Más dejan todo ese fulgor extinto
¡Sus dos inmensos ojos de esmeralda!

 

LIVRO DOS POEMAS.  LIVRO DOS SONETOS; LIVRO DO CORPO;  LIVRO DOS DESAFOROS; LIVRO DAS CORTESÃS; LIVRO DOS BICHOS.  Org. Sergio Faraco.   Porto Alegre: L.P. & M., 2009. 624 p.   ISBN 978-85-254-1839-1839-5                   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

                                                       Seção:   Livro das cortesães

 

             MAGNÍFICA

Láctea, da lactescência das opalas,
alta, radiosa, senhoril e guapa,
das linhas firmes do seu corpo escapa
o aroma aristocrático das salas.

Flautas, violinos, harpas de ouro, em alas!
Labaredas do olhar, batei-lhe em chapa!
Vênus que surge, roto o céu da capa,
num delírio de sons, luzes e galas!

Simples coisa é mister, simples e pouca,
para trazer a estrela enamorada
de homens e deuses a cabeça louca;

quinze jardas de seda bem talhada,
uma rosa ao decote, árias na boca,
e ela arrebata o sol de uma embaixada!

*

VEJA e LEIA  outros poetas do RIO DE JANEIRO  em nosso Portal:

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/rio_de_janeiro/rio_de_janeiro.html

 

Página ampliada e republicada em fevereiro de 2023

 

Página publicada em janeiro de 2023



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VEJA e LEIA outros poetas do RIO DE JANEIRO em nosso Portal:

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/rio_de_janeiro/rio_de_janeiro.html

 

Página publicada em fevereiro de 2021


Página ampliada e republicada em janeiro de 2008; ampliada em dezembro de 2015.

 

 

 


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