Foto extraída de: http://www.geocities.ws/
ARNALDO DE ALVERNAZ RODRIGUES NUNES
nasceu aos 2 de janeiro de 1890, em Valença, Estado do Rio.
Professor no Rio de Janeirol, onde vive. Idealizador da Festa das Estações, tendo chegado a realizar uma, a da Primavera, no salão da rua da Constituição, 22, com "muita luz, muitas flores, muitos versos, muita música e muitas moças", e na qual fez a palestra sobre a Estação o saudoso poeta e académico Luís Carlos.
Com outros poetas ideou, também, a Festa da Poesia, lançada por "O Globo", na segunda metade de 1930. Colaborador de diversos jornais e revistas, notadamente do Estado do Rio e da Capital do País. Da Academia Fluminense de Letras e da Associação dos Escritores e Artistas, de Cuba.
Bibliografia: — "Poesias", 1919; "Escalada", 1935; "Relâmpagos", 1935; "Religião da Beleza", 1936; "América" (poema), 1936, 2.» ed., 1939, 3.a, 1945; "Laguna" (poema), 1940; "Discursos" (de posse, na Ac. Fluminense de Letras), 1942; "Basílio da Gama", 1942; "A Alma Valenciana" (conferências), 1944; "A Sílaba Métrica e o Tempo Musi¬cal", 1946; "A Côr das Vogais e o Verso-Membro de Frase Musical", 1947; "O Ritmo Poético e a Música do Estilo", 1949; "Agnelo França, Poeta dos Acordes" (biografia), 1947; "Hermano Brunner, Poeta Desventurado", 1951; "Valença e sua História (A fundação da Aldeia)", 1953; "Um Anjo no Inferno (A verdade sôbre Alvares de Azevedo e a eterna cintilação de seu espírito)", 1954; "Cantos da Terra Natal", Rio, 1955; "Sinfonia Crepuscular", compreendendo "Asas e Abismos", "Livro Exótico" e "Cantos da Terra Natal"), Rio, 1955; e "Autógrafos de Casimiro de Abreu", Niterói, 1956.
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REZENDE, Edgar. O Brasil que os poetas cantam. 2ª ed. revista e comentada. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1958. 460 p. 15 x 23 cm. Capa dura. Ex. bibl. Antonio Miranda
QUADRO AMAZÔNICO
Pelas nuvens olímpicas do poente,
A combustão crepuscular se escoa
E vai se refletir, suntuosamente,
No fundo cristalino da lagoa.
Surge o jaguar à borda, lá em frente;
Hino solene a passarada entoa,
E sobre enorme folha, indiferente,
A garça vê passar uma canoa.
Sonho! Deslumbramento! E, flor de neve,
A pouco e pouco, as pétalas desata
Linda Vitória-Régia que, de leve,
À tona d'água, embalsamando a mata,
Numa beleza que se não descreve,
Toda a pompa amazônica retrata!
("América")
O J A P I M
(Lenda amazônica)
Lindo, aurinegra plumagem,
Bico de verde brilhante,
O Japim, para o selvagem,
É altamente interessante.
Busca sempre as vivas cores,
Ama o céu amplo e doirado,
É muito amigo das flores,
Da catléia enamorado.
Todos ouvem com respeito
Seu trinar cheio de encanto.
Não há outro mais perfeito
Na variedade do canto.
Conta a lenda que ele imita
Voz de ouro, privilegiada —
Com perfeição infinita
Quase toda a passarada,
Menos o velho inimigo
Tanguri-pará, que certa
Vez a atenção lhe desperta
Para iminente perigo:
"Vê, diz, meu bico encarnado!
É do sangue e lembra o alarme
De teu avô trucidado,
Pela audácia de imitar-me".
Desde então, o Japim quando
Percebe êsse reles poeta
Lá a seu jeito cantando,
Cala e não raro se inquieta,
Que o medo, a raiva, o desprezo,
Isso tudo a um tempo, fá-lo
Sentir na alma um grande peso,
Um perturbador abalo.
E, em zangada arremetida
Ei-lo que, pelo ar, peneira,
Da frondosa samaumeira
Completamente florida
Para o tapete da relva,
As pétalas que tanto ama
E que vão servir de trama
Ao leito nupcial da Selva!...
("América")
CURUPIRA
(Lenda amazônica)
A árvore geme, ao golpe do machado,
A passarada voa, espavorida?
Cuidado!
Como a floresta, há alguém de alma ferida,
Alguém que sente o coração golpeado...
Cuidado!
Ah! quem é êsse famoso curupira
Que, de longa data,
Tanto poema,
De par com tanto medo, inspira?
É o gênio tutelar da mata,
Em cuja defesa se extrema.
Pintam-no ruivo, peludo,
Meninote, calcâneos para a frente.
Ouve, distante, aquele silvo agudo!
É ele que algo pressente:
Alguém que busca um tronco ou uma caça?
Ei-lo que, contente
De ser útil, ao largo passa!...
Êle é assim,
Nada ruim...
Ai daquele, porém, que, por maldade,
Macule a flora, a fauna fira.
Tê-lo-á todo mudado em tempestade
De ira,
Ver-se-á atraído
Para a imensidão
Da floresta, perdido,
Sem salvação!
Êle é assim, Muito ruim...
Atenta agora para o céu. Parece
Que não tarda o temporal.
Sim, não tarda, eis o sinal:
— Novos silvos, estalos, pancadinhas!...
É o curupira pelas árvores vizinhas,
Aflito, inquieto, a averiguar se estão
Em condição
De resistir ao prestes vendaval!
É assim o famoso curupira,
O gênio tutelar da mata,
Que de longa data
Tanto poema, tanta cousa inspira.
("América")
Página publicada em dezembro de 2019
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