ARISTÊO SEIXAS
Nasceu em Resende, no Estado do Rio, em 21 de julho de 1881. Mas foi em São Paulo, para onde se transferiu ainda moço, que realizou sua carreira literária. Poeta lírico e crítico de espírito polêmico e sarcástico, teve discussões que fizeram época, com algumas figuras notáveis de seu tempo.
Livros do autor: Noites de Luar, 1905; Epitalâmio, 1909; No Limiar, 1924 e Livro de lua (extraído da obra anterior).
JUÍZO FINAL
Raive o sol, pulse a dor, lateje o grito,
E o fel tragado seja, gole a gole.
Todo o amor, todo o bem seja proscrito,
Todo o perfume deste chão se evole...
Caia de cima o aerólito e, bendito,
Esmigalhando vá prole por prole...
E embaixo, a atroar em chamas o infinito,
Pedra por pedra sobre pedra role...
Senhor meu Deus! são vendilhões: matai-os!
Em vão se estorça a humanidade espúria!
E veja cada qual, nessa hora incerta,
O céu, em ódio, desprendendo raios,
O mar cuspindo vagalhões em fúria
E a terra inteira em túmulos aberta!...
CAMELOS
Incitando o viajor, golpeando a audácia humana,
O deserto e o simum... De longe em longe, oscila,
Solitária, a palmeira; e, a arfar na luta insana,
Atupidos de carga os camelos em fila...
Bons e pacientes, vão — almas de caravana,
Por onde a água não brota, onde a ave não pipila,
Ao calor que os anima e, a um tempo, os desengana,
Do sol que, em cima a arder, faz papoitar a argila...
Servos da solidão, párias do amor fecundo,
Para o nobre mister, para o mister hediondo
Os mais úteis da terra e os mais tristes do mundo!
E a fila de animais no deserto coleia...
E, passo a passo, vão, resignados, transpondo,
Qual uma frota viva, o Atlântico de areia...
De Pôr do sol, 1924.
Página publicada em agosto de 2015
|