Foto de Inês Sarmet
ÂNGELA SARMET MOREIRA
Médica pediatra, nascida e residente em Campos dos Goytacazes - RJ, aniversaria em 2 de fevereiro, Dia de Iemanjá. Foi professora do curso de medicina da Faculdade de Medicina de Campos. Desde o início de sua vida profissional tem dedicado esforços a projetos de saúde pública, no intuito de ajudar a disseminar as atenções básicas que devem ser dedicadas à infância. Atualmente, com muita alegria, também estende seu atendimento atencioso e competente a adultos vinculados ao Programa Saúde da Família.
Ao lado de atuação em associações médicas, é membro do Instituto Campista de Literatura e do Grupo de Seresta Boa Noite, Amor, onde tem oportunidade de compartilhar com o público suas mais queridas composições poéticas, apresentadas também em diversos outros saraus na cidade. Publicou os livros Eu só sei falar de amor e Rumando ao infinito, este trazendo ilustração de Inês Sarmet. Rumando ao infinito recebeu o 2° lugar no 10º Concurso Nacional de Obras Publicadas, promovido pela Academia de Letras e Ciências de S. Lourenço - ALECI–SL -, em Minas Gerais.
Em Ângela, a sensibilidade explode em rimas e o cotidiano adquire cor, luz e cadência próprias. É a vida pura e simples feita poesia tão natural e espontânea, a fluir como água de fonte que corre sem esforço. Simplesmente porque nasceu água e para ser corrente.
THERESA CALIXTO DAMIAN RIBEIRO, sobre o livro EU SÓ SEI FALAR DE AMOR
Sua poesia fala sempre de coisas comuns, da sua vida, de suas angústias, da pobreza, da fome, da injustiça, da doença, da morte, da esperança e, sobretudo, do amor. Ela é forte justamente por isso. Ângela não é a médica que exalta sua onipotência falsa, não é a mulher que finge ser feliz. Busca o encontro, o amor (...).
ADILSON SARMET MOREIRA, no livro EU SÓ SEI FALAR DE AMOR
A poesia de Ângela nos leva a tomar contato com uma sensibilidade aguçada pelos dilemas da existência, sem, entretanto, a perda da confiança pelo amor que tudo sabe e constrói. Eis um casamento feliz entre a médica pediatra que, por meio das palavras e das cores, também cultiva a velha, boa e complexa arte poética. Vale a pena ler, sentir, pensar e se emocionar com esse belo “Rumando ao infinito”.
OTÁVIO CABRAL
E esta vida infinita na poesia de Ângela permite-nos ignorar o caos, a desordem, a miséria, a desesperança e penetrar um pouco no seu grande mundo povoado de estrelas, de sol, luz, esperança, beleza, saudade, lembranças. Sentimento transbordante, equilibrado, suave, mas contundente, firme, forte, especial, como só ela é capaz de nos transmitir.
CARMEN CÉLIA AZEVEDO MORETTO, no livro RUMANDO AO INFINITO
ALGODOEIRO DA PRAIA
algodoeiro da praia...
nem sei... te chamas assim?
se soubesses a lição
de vida, que tu me deste
talvez te risses de mim...
vou lembrar-te a tua história...
em minha casa, na praia,
na calçada cimentada,
concretada, estruturada,
tu descobriste uma fenda...
ali nasceste, cresceste
e até floriste... te lembras?
um dia foste cortada
bem rentinho à tal calçada.
nem isto te liquidou!
pois renasceste pujante,
e como arbusto importante
a calçada arrebentou...
ouça agora a minha história:
eu era mulher vibrante,
plena de vida, estuante,
plena de sonhos, de luta.
aí veio o desamor,
a indiferença, o sufoco,
e veja só que desgraça,
a mulher vibrante que eu era
foi sumindo, foi morrendo...
e hoje estou mesmo um trapo!
as emoções em pedaços,
quase com pena de mim...
mas vou descobrir a fenda,
vou encontrar o jeitinho
e vou renascer de novo...
vou à guerra, vou à luta,
criar meu próprio caminho...
então, talvez de lambuja,
eu tenha de novo carinho...
(poema transcrito de Eu só sei falar de amor, 1987)
CANSAÇO
Ilustração de Inês Sarmet
Estou cansada.
Da vida
Dos homens.
De tudo
De nada
Sigo sozinha
sem perspectivas,
qual locomotiva
caminha na linha...
É a vida que passa...
É o tempo que corre
Aí... a gente morre...
Que vida sem graça!
(poema transcrito de Rumando ao infinito, 1999)
RETORNO À INFÂNCIA
Ilustração de Inês Sarmet
Ouço o mugir dos bois da minha infância,
o ranger da cancela, o grito do socó...
Ouço sons familiares, e eu os havia perdido
no tempo, no espaço... e me sentia só...
O canto das cigarras... o alvoroço
do amanhecer em simples galinheiro,
escuto o som do vento em meio ao bambual
naquele mágico e belo ritual,
feito de amor e paz tão verdadeira...
Eu vejo o por do sol... e a cada dia
ele era diferente ... e cada vez mais belo
tingindo de mil tons, vermelhos e amarelos
o céu de minha infância, e o leito do meu rio.
Vejo a minha paineira, toda cor de rosa
que se enfeitava, faceira e graciosa,
se preparando para dar seus frutos...
Mergulho nas lembranças e agora estou chorando.
É um choro de paz... só de saudades feito,
de um tempo feliz, mas que passou...
Não tem mais jeito!...
(poema transcrito de Rumando ao infinito, 1999)
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Ilustração de Inês Sarmet
Depois de uma semana tão nublada,
tão chuvosa, tão tristonha,
eu vejo, de minha janela,
no céu um pouco de azul...
Não é um azul vivo, está em meio a nuvens
mas me deixa feliz... de modo estranho.
Depois de um longo período tão sombrio,
tão sem carinho, cheio de fracassos...
será que, da janela da minha alma,
verei um pouco de azul?
Será que terei de novo o seu abraço,
o seu afeto, a sua companhia?
Recuperarei talvez a alegria?
Conseguirei ser feliz... de modo pleno?
(poema inédito, constante de livro em elaboração) |