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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ANDRÉ GIUSTI

 

André Giusti nasceu em maio de 1968 no Rio de Janeiro e mora em Brasília desde a década de 90. Entre contos, crónicas e poemas, A Maturidade Angustiada (Penalux, 2017) e Os Filmes em que Morremos de Amor (Patuá, 2016) são seus livros mais recentes. Também é jornalista. Mantém site e blog em www.andregiusti.com.br

 

MEXIDÃO POÉTICO – A Poética brasiliense no Mexidão cultural do ver. Marcos Freitas, org.  Brasília, DF: 2017.  S.p. Impressão sem paginação nas folhas. Imagem da capa: Luiz de Alcântara. Organização, revisão e prefácio: Marcos Freitas. ISBN 9781549632716  Edição artesanal. E uma edição digital: https://www.amazon.com.br/Mexid%C3%A3o-Po%C3%A9tico-Po%C3%A9tica-Brasiliense-Cultural-ebook/dp/B07582XTN1

Inclui no livro os poetas participantes do evento: Abhay K., Adão Paulo Oliveira, Alceu Brito Corrêa, Alexandre Marino, André Giusti, Angélica Torres, Antonio Miranda, Carla Andrade, Dina Brandão, Flora Benitez, João Bosco Bezerra Bomfim, Jorge Amâncio, José Roberto da Silva, Jossonhir Britto, Kilito Trindade, Luiz Felipe Vitelli, Luis Turiba, Marcos Fabrício, Marcos Freitas, Menezes e Morais, Murilo Komniski, Nicolas Behr, Noélia Ribeiro, Olivia Maria Maia, Rêgo Júnior, Ruiter Lima, Sóter, Tita Lima e Silva, Vanderlei, Vicente Sá, Wélcio de Toledo, Yonaré Flávio.

 

Você acordou cansado
e levantar já parece
a mais dura tarefa do dia:
o corpo pesa mais que um
velho hipopótamo.
Durante a madrugada,
uma alquimia corrompida
substituiu

músculos ossos nervos,

toda a carne cinquentenária,
por concreto areia brita

e vergalhões enferrujados,

aqueles, transmissores de tétano.
O corpo pesa,
e dói tanto a espinha

que no meio dela
é como se houvesse brotado

uma hérnia de disco
em forma tamanho e peso

de um piano de calda.

Se pudesse, fugiria,
mas a exemplo de Minas

do poeta consagrado,
seu Rio de Janeiro não existe mais:

sucumbiu à imoralidade de seus palácios.
Com o que lhe resta de crença,

você ora ora ora

e chora chora chora.
Ao final, exercida a sobra de fé,

ressecadas as lágrimas vencidas,

o céu lhe responde

em forma de certeza íntima
renovada pelo exercício do choro:
escrever é o que resta,

posto que a poesia
é a única das forças
que ainda não lhe arrancaram.
Escrever escrever escrever,
mesmo que sejam cartas
ao primeiro ministro da Namíbia,
mensagens de reclamação ao serviço de entrega,
poemas de amor a amadas inventadas,
que dramaticamente nos traem
apenas por vingança.
Porque escrever é o jeito
que você encontrou
de ter esperança.

 

 

 

CORPORATION TRADE CENTER

 

Qual o premio pela minha cabeça?
Quem paga mais para arrematá-la e arrebentá-la

com uma tosca marreta de chumbo

no meio da praça

sob o olhar das feras

2- feira depois do almoço?

 

Quanto vale destruir

um sonho de moco

e vê-lo escorrer

até onde as sarjetas se unem

e formam coro no abandono da noite?

 

Quanto vale a minha cabeça

na cotação do maquiavelismo deles?

Quanto vale um reles cara do povo

ser visto entrando derrotado

na jaula das cobras?

 

Quem dobra o lance
para me empurrar no abismo
com bolas de ferro atadas
a grossas correntes
enroladas no pescoço?

 

Quem paga mais para ser o lobo
que vai me jantar
na frente de todos
na sala da diretoria
na fila do cartão?

 

Quem paga mais para soprar mais forte
a única vela que terei comigo
para tentar vencer a escuridão?

 

 

 

1ª.  BIENAL DO B – A POESIA NA RUA.  26 a 28 de Setembro de 2012.   Brasília: Açougue Cultural T-Bone, 2011. 154 p. ilus. col.  17x25 cm. 

 

       Eu sempre vou morar na 405 norte

Dona vizinha me para e conta
de quando chegou aqui em 1980,
dos filhos formados, que cresceram
brincando na portaria.

As sombras verticais da tarde
também seguindo minhas filhas até o infinito, eu comento,

e dona vizinha ainda me conta que os dela
nunca deixaram de correr na portaria da memória,
que até hoje brincam na portaria da lembrança
(dona vizinha tem nos olhos uma saudade
que vai do primeiro ao último dos pilotis do bloco.)

Eu gosto da dona-de-casa
que passa com hora marcada
para fazer a unha,
da estudante que some no arvoredo
a caminho da faculdade,
de que veio do Maranhão
do Piauí
e nunca mais voltou.

Há sempre lua alta que a madrugada derrama
nos azulejos da cozinha
quando bebo água no meio da noite.

Há sempre uns pingos da última chuva
pesando nas folhas,
virando breves cristais de sol
nas manhãs afobada da minha pressa.

Há sempre o vento dando no alto das árvores,
e o barulho  das árvores conta de um tempo que
não volta,
mas que também não vai embora.

Por falar em tempo, dona vizinha,
vamos conversando no caminho,
senão perderemos
o baile de inauguração da cidade)

 

                                          

 

 

Página publicada em dezembro de 2017; página ampliada em novembro de 2020


 

 

 
 
 
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