Foto http://sopanomel.blogspot.com/
AMÉLIA ALVES
Amélia Alves é poeta e educadora, nascida em Campos dos Goytacazes/RJ. Graduada em Letras, é Mestre em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro/UERJ, com especialização em TV Educativa e Processos de Educação à Distância. Estudiosa das áreas de comunicação, linguagem, literatura e formação dos processos de leitura. É autora de vários livros de poesias entre eles “Vácuo e Paisagem” e “Atrás das borboletas azuis”. Com “No reverso do Viés” conquistou o segundo lugar no Prêmio Pizarro Drummond (2009), categoria Poesia Inédita, dado pela União Brasileira dos Escritores (UBE-RJ). Amélia Alves é membro titular do Pen Club do Brasil desde dezembro de 2012.
BORDADO
A noção do traço
sugerindo a presença da linha
e o manejo da agulha
sendo cadência
após cadência
no macio do pano branco
pra depois haver o risco duro de premeditadas paisagens
onde matizes de fumaças
dizem de sustos
sortes
da palavra acorrentando-se
do desenho escapulindo entre dedos dormentes
da pá
do pó
do pé violentando caminhos
da propalada paz de papel
dessa vontade de viver
entre-mentes,
humana-mente.
CILADA
Embaixo da escada, passei várias vezes,
por malquerer e sorte
— desavisada.
E depois, sem mais que nada,
por dor, paixão e morte,
inscrevi destino e sina — reveses.
Recebi do azar dotes e porte,
em primeira mão,
de sim em sim e não em não.
E fui seguindo, sem noite nem seita,
varando a madrugada,
embora sabendo de uivos e lobos, à espreita.
***
MADRIGAL
Abre os braços, ó manhã,
na aura do dia novo que me enlaça,
enquanto esse vento de paz,
qual breve brisa que passa,
carrega o que me desafeta
e aquieta o que me obscurece
no tempo em que me tece
em riso e rasgos de doação.
Fiapo de esperança.
Música que acalenta
o amor. Em forma de ser criança.
Me pega pela mão
e reconstrói ao infinito
em posse do que acredito
fresta de luz e raio de sol
sorriso que me seduz.
ANTOLOGIA DA NOVA POESIA BRASILEIRA . Org. Olga Savary. Rio de Janeiro: Ed. Hipocampo, Fundação Rioarte, 1992. 334 p. ilus Ex. bibl. Antonio Miranda
FOGO-FÁTUO
A vida que se pariu
força da natureza
se dando
naturalmente
não constrói
uma apologia
ao mito morto
após as guerras.
É antes epígrafe,
dedicatória e lápide
(ao herói anônimo)
inscrita
no mapa — documento
(adubo)
da terra
por onde prensou
seus ossos.
Página publicada em setembro de 2020
|