ADELINA AMÉLIA LOPES VIEIRA
Adelina Amélia Lopes Vieira (Lisboa, 20 de setembro de 1850 — Rio de Janeiro, 2 de fevereiro de 1923) foi uma escritora, poeta, contista, teatróloga e educadora brasileira.
Veja também: http://www.antoniomiranda.com.br/Brasilsempre/adelina_lopes_vieira.html
A MENSAGEIRA – Revista literária dedicada à mulher brasileira. VOLUME II. São Paulo. SP: Imprensa Oficial do Estaddo S.A. IMESP. Edição fac-similar. 246 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
A Lancha Negra
Para velar da lua a face refulgente
Nuvens pesadas vão correndo acumuladas,
E na treva do oceano as vagas compassadas
Passam uma por uma interminavelmente.
Mais do que a sombra, escura, avulta de repente
A lancha negra, vem. . .. dos remos as pancadas
Ferem o mar, que chora, em gottas prateadas,
As lagrimas sem fim da sua dor pungente.
Eil-a a meus pés a lancha, e nella, silenciosa
Embarca a doce e branca imagem de outra edade.
E vejo-a ir... sumir-se ... a lancha mysteriosa....
Então, dentro de mim, n'um soluço, a saudade
Murmura, a prescrutar a sombra tenebrosa:
Nunca mais voltarás, nunca mais, mocidade!
Adelina A. Lopes Vieira
DOIS OÁSIS
A Presciliana Duarte
Ha dois oásis no deserto extenso
Da nossa vida, onde se apagam dôres:
Um, tem fontes e sombras e fulgores
Outro, o dormir no seio bom do Immenso.
Queimaste os pés n'esse brazeiro intenso ?
Morres de sede? Um diz, tens agua e flores
Bebe! Revive ! Esquece os amargores .. .
Eu sou o Amor, que a desventura venço.
E o outro diz com voz sonora e calma:
Cançaste? Vem! desprende o pensamento
Deixa-o voar nas azas brancas d'alma,
Acolhe-te a meu seio, e n'um momento
Um somno dormirás que a angustia acalma.
Eu sou a Morte, eu sou o esquecimento.
Adelina Lopes Vieira / Maria Clara da Cunha Santos
1891.
MAIO DE 1888: Poesia distribuídas ao povo, no Rio de Janeiro, em comemoração à Lei de 13 de maio de 1888 / Edição, apresentação e notas de José Américo Miranda: pesquisa realizada por Thais Velloso Cougo Pimentel, Regina Helena Alves da Silva, Luis D. H. Arnauto. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 1999. 220 p. (Coleção Afrânio Peixoto, 45 )
Ex. bibl. Antonio Miranda
AO SOL
A natureza em festa ao sol desata
As grinaldas de rubras trepadeiras;
Revolve os seus diamantes a cascata
Ao sol, que doira as relvas e as roseiras.
O mar cantando rola ondas de prata,
Brilham as alterosas cachoeiras;
Ao sol, a abelha célere arrebata
Mel e perfume à flor das laranjeiras.
Pombas passam no azul com voo incerto;
E ao sol, sem medo à intensa claridade,
Na ramagem as aves dão concerto.
Tudo na terra exulta! a Humanidade
Alegra, expande, aquece o seio aberto,
Ao sol sem mancha, ao sol da Liberdade.
O MAR
Coros de maldições, calai-vos, pranto.
Cessai pra sempre; é findo o atroz tormento;
Cheios de glória, num festivo canto,
Filhos, folgai, sois livres como o vento.
Do mais sombrio e místico recanto
Brotam hinos de paz; o firmamento
É todo luz... escuta-se entretanto
O cavo som do mar como um lamento!
Se o céu na terra a imensa luz projeta
Por que suspira o mar com amargor?
Que falta à festa para ser completa?!
Quisera, sei, não pôde, o lutador
Trazer à Pátria, de prazer repleta,
Dela o melhor amigo: o IMPERADOR!
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Página ampliada em abril de 2021
Página publicada em julho de 2019
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