CLÁUDIO MELLO E SOUZA
é jornalista, tendo iniciado sua carreira em 1959 como repórter no "Diário Carioca" e, em seguida, como crítico de cinema. Em 1960 vai para o "Jornal do Brasil", onde exerce as funções de copydesk e redator das notícias de primeira página. No governo Jânio Quadros, dirigiu a Fundação Cultural de Brasília. Com a renúncia do presidente, voltou ao JB como editor do Caderno B. Em 1966 transferiu-se para a TV-Rio, onde redigiu e apresentou, juntamente com Heron Domingues, os telejornais da noite. De 1967 a 1969, dirigiu a revista "Fatos e Fotos", sendo então convidado por Adolpho Bloch para assumir o cargo de Diretor das sucursais das revistas do Grupo Bloch na Europa, inicialmente em Portugal e, depois, em Paris. De volta ao Brasil, trabalhou no Departamento de Projetos Especiais da Rede Globo, sendo também colunista e, meses depois, editor de esportes do jornal "O Globo". Após dois anos e meio nessa área, passou a ser o criador de campanhas especiais da Central Globo de Comunicação. A convite de Roberto Marinho, assumiu o cargo de assessor da presidência da Rede Globo, em 1990.
Seus primeiros poemas foram publicados por Mário Faustino, no Suplemento Dominical do JB, em 1959. Tem três livros de poesias publicados: "O Domador de Cavalos", "Corpo e Alma" e "O Passageiro do Tempo". Lançou, em maio/2001, o livro "Helena de Tróia - O papel da mulher na Grécia de Homero", pela Lacerda Editores - Rio de Janeiro.
Fonte: http://www.releituras.com/cmellosouza_menu.asp
De
O DOMADOR DE CAVALOS
(Rio de Janeiro: Record, 1978)
O PEIXE
Outrora fora o reino: entresilente
espada levitando nele essência,
na fome de seu fio, numa ausência
que exala de sua forma semovente.
Sobre o concreto agora e ao compasso
do sangue trabalhando o movimento
de sua angústia, íntimo alimento,
em que elabora o sal de seu cansaço.
Em si mesmo fechado, na avidez
de sua lâmina acesa, o que o corrói
por dentro se contém sob a mudez
da coisa despojada do que foi.
Mas que resiste, em causa e conclusão,
no mar de sua própria solidão.
O CÃO
Nada mais próximo da morte: o cão
dormindo na calçada. Na medula
do sonho se mantém, e não se anula
ao modo de mosaico, ralo e chão,
sobre cuja epiderme, alto-relevo,
desenha a sua sombra, que o ocupa
como a tudo que a morte desocupa
acentuando o cárcere e o relevo.
Por entre as coisas próprias de uma rua
persiste indecifrável, pelo, instinto,
e sempre distinguido do comum
quando a morte o constrói e o faz nenhum,
a figura do cão, só, no recinto
do sono transbordante em que flutua.
OS CAVALOS
Em seu tempo compacto, na tração
contida pelos músculos do ventre,
com suas âncoras baixadas entre
os imãs de seus campos de atração,
suas máquinas cessam, e então presas,
em suas raízes, como no degredo
em que melhor ponderam o segredo
do que é neles latente, e são represas.
Medindo-se nos ciclos da corrente
dos momentos de mar e contenção,
esperam que seu faro vá levá-los
ao desespero penso do intervalo
em que trabalham toda uma explosão
que lhes dará sentido, eternamente.
PAISAGEM
Sou o que me vês
mais o que vejo em ti
quando me vês.
Pelo que me vês me vejo:
a distância insular
entre mim e eu mesmo.
És o que vês em mim
quando te vejo:
buscar-me em ti, em fim.
Em teus olhos vejo
azulejar-se o olhar,
sêmen, amar, semear.
Em teus olhos o olhar
colorido transitar
que vai do ser ao se doar
És o meu no teu corpo:
uno instante de fazer
ao de sobreviver.
Olhar prenhe de horizonte:
bem do mar que o ar risca
ou do azul que é seu, faísca?
Dentro de ti meu degredo:
sou o que nunca me viste;
nem, imprevisto, existe.
Dentro de mim teu segredo:
és o que sou, minha flama,
no raso ventre da cama.
Página publicada em janeiro de 2008. |