R. PETIT
Raimundo de Araujo Chagas, pseudônimo: R. Petit nasceu em 1894 em Belém do Pará e faleceu em Sorocaba, SP, em 1969.
Obra: Ante os abismos (poesia, 1924), Livro Miss Piauí (poesia, 1924), Noitadas (poesia, 1937) e Noite sertaneja (teatro).
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Em 1919, R. Petit escreveu os versos do Hino do Parnahyba Sport Clube, com música de Ademar Neves. E logo se fez popular na cidade. Com o aparecimento do Almanaque da Parnaíba, pólo máximo de incentivo à escrita de poesia no Piauí, na primeira metade daquele século. Durante anos e anos, escreveu, e publicou no Almanaque, uma série de Cromos, referentes ao calendário de cada mês,; poemas de amor pela cidade; poemas de costumes e uma série de sonetos de humor em versos curtos com temas sertanejos. Por fim, tornou-se o poeta mais cantado na Paranaíba, desde que substituiu alguns versos do antigo Hino do Parnahyba transformando-o em Canção da Parnahyba, que depois oficializou-se como Hino da Parnaíba, obra máxima da poética de R. Petit.
“...não ouviram falar de R. Petit, poeta que nasceu no Pará, mas que se fez o mais parnaibano de todos os poetas de Parnaíba.” Benjamim Santos.
SELEÇÃO DE POEMAS DE
BENJAMIM SANTOS
Publicados originalmente em O BEMBÉM,
Ano 1, N. 8, N. 8, Parnaíba, Piauí, 21 de agosto de 2008, p. 5
JUDAS
Antes de vir o Sol, a vila já alarmada,
mostra em cada garoto um grande espadachim,
que anda de rua em rua, em louca disparada,
atrás de um Judas vil, de crânio de capim;
De um Judas moleirão de cara amarrotada,
de pança desconforme e cheia de estopim,
que liga um buscapé a uma bomba encerada,
pronta para estrugir, em honra do festim.
Num bulício infernal, a garotada infrene,
espera com prazer, do sino a voz solene
para então reduzir em cinzas o espantalho!...
E os vampiros reais, os judas elegantes,
vivem sempre a cantar, como viviam dantes,
desdenhando do Bem, da Vida e do Trabalho.
(1924)
O CANÁRIO DE BERTHA
Júlia tinha um canário, tu bem viste,
mas Bertha tinha um outro extraordinário
que muitas vezes o seu canto ouviste
como se fosse um sonho imaginário.
Júlia tratava os dois de modo vário!
Tanto assim que o de Bertha fez-se triste
porque ela dava alpiste ao seu canário
dando arroz ao de Bertha em vez de alpiste.
Como o canário original de Bertha,
estristeci, vendo na vida incerta
esse grupo de cínicos que existe,
que estende a mão de amigo sendo algoz,
vão criando canários com arroz
e alimentando amigos com alpiste...
(1931)
FASES DO ANO
Janeiro! Eleva-se o rio.
Fevereiro — alaga os campos.
Março e Abril! Noites de frio,
bordadas de pirilampos.
Maio! Festa... sacramentos.
Junho — geme o órgão dos ventos,
buscando o luar de agosto.
Setembro e Outubro. É o verão.
Novembro, espalha alegrias
nas praias de Amarração.
Natal! Dezembro. O ano expira.
Trezentos e muitos dias
só de ilusões ... de mentira!
(1934)
SAUDADE
Eu vivo como o mar, bebendo os rios,
rios da Dor que crescem, com certeza,
em meu ser, quando o inverno da Tristeza
chega e vence ao cair dos tempos frios.
Eu vivo como os pássaros sombrios,
dos quais a tempestade em luta acesa
roubou dos ninhos frágeis e macios,
isolando-os da própria natureza.
Eu vivo como as águas das cascatas
que a força eterna de um tremendo fado
desfia em prantos no painel das matas.
Eu vivo sem viver, esta é a verdade,
pois não pode viver um torturado
que se alimenta apenas da saudade!...
(1941)
O HOMEM
Garboso rei supremo das quimeras,
que vieste, por momentos, como eu vim,
a este orbe, onde por grande que pareças,
um dia hás de ter sempre o mesmo fim
que têm as borboletas, os vampiros,
as lesmas, as serpentes e os abutres.
No entanto,à luz de exemplos tão frisantes,
somente de vaidades, enfim, te nutres.
Se comercias, ninguém mais honesto
no serviço do peso ou da medida.
Tens filho? — Hás de supor que os teus parecem
as almas mais perfeitas desta vida.
Contudo és grande: regulaste o tempo,
mediste a terra, devastaste o espaço.
Tudo tens feito aos rasgos do teu gênio
seguido pela força do teu braço.
E assim te elevas, orgulhosamente.
Do mundo gozas todos os conceitos.
Tudo sabes fazer, mas, por desgraça,
não sabes conhecer os teus defeitos!
Baixa, pois, desce até chegar aos vermes.
Busca o teu nível, sofre e te consola.
Não julgues nunca que és alguma cousa
diante do pobre que te pede esmola.
Humilha-te, portanto, ante os humildes.
Sonda tua alma, purga os teus pecados.
“Os que se humilham neste mundo, no outro
serão pelos feitos exaltados”.
(1924)
ANTOLOGIA DE SONETOS PIAUIENSES [por] Félix Aires. [Teresina: 1972.] 218 p. Impresso no Senado Federal Centro Gráfico, Brasília. Ex. bibl. Antonio Miranda
ÂNSIA DE SER FELIZ
Ânsia de ser feliz... De ter o ouvida aberto
A palavras de amor perfumadas e quentes...
Ânsia de ser feliz. De viver sempre perto
De uma alma que me quer com desejos ardentes.
Ânsia de ser feliz... O coração coberto
Pelo véu virginal das almas inocentes,
Sentindo, em cada dia, o seu sonho desperto
Pelo riso jovial dos que vivem contentes.
Ânsia de ser feliz... O coração coberto
Pelo véu virginal das almas inocentes,
Sentindo, em cada dia, o seu sonho desperto
Pelo riso jovial dos que vivem contentes.
Ânsia de ser feliz... De ver alucinado
Por um prazer profundo, intenso e duradouro,
A redenção final de todo o meu pecado!
Ânsia mórbida e eterna! Ânsia de ser feliz!...
De adormecer num sonho infindo e imorredouro,
A sentir e a gozar tudo que o amor me diz...
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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/piaui/piaui.html
Página publicada em março de 2023
Página publicada em setembro de 2008 a partir de material gentilmente enviado por nosso colaborador Diego Mendes Sousa.
Metadados: Malhação do Judas – folclore;
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