NOGUEIRA TAPETY
(1890-1918)
Benedito Francisco Nogueira Tapety nasceu na fazenda Canela, em Oeiras, a 30 de dezembro de 1890. Era filho de Antônio Francisco Nogueira e Aurora Leite Nogueira. Morreu na cidade natal, a 18 de janeiro de 1918, aos 27 anos.
Jornalista desde o tempo-de estudante de Direito, colaborou no Diário de Pernambuco, do Recife. e em outros jornais da época, como "O Piaui", "O Diário", de Belém, e, depois, no Diário da Madeira. Bom aluno, orador fluente e poeta inspirado.
Formou-se pela Faculdade de Direito do Recife, em 1911. Fez o curso jurídico assinando Benedito Francisco Nogueira. Conforme Cristino Castelo Branco, seu companheiro de faculdade, a denominação Tapety, apelido de família, ele resolveu incorporar ao próprio nome - Benedito Francisco Nogueira Tapety, literariamente Nogueira Tapety.
Formado, o bacharel exerceu a profissão com brilhantismo. Em 1912, foi promotor público de Oeiras.
No ano seguinte, em 18 de novembro, foi nomeado delegado-geral de Teresina, lotado no gabinete do governador Miguel Rosa (19121916). Recebeu o cargo de Lucídio Freitas, outro contemporâneo seu de faculdade.
Ainda em Teresina, foi professor do velho Liceu Piauiense (atual Colégio Estadual Zacarias de Góes), onde lecionou Filosofia, Psicologia e Lógica.
Senhora da Bondade
Não te quero por tua formosura
De rainha da graça entre as mulheres,
Quero-te porque és boa, porque és pura
E ainda mais porque sei que tu me queres.
A beleza exterior nem sempre dura.
E a d'alma, estejas tu onde estiveres,
Ungiras de meiguice e de doçura
Tudo em que a bênção deste olhar puseres.
Eu sou artista: encanta-me a beleza,
Em ti, porém, abstraio-a, inteiramente,
E penso amar-te assim com mais nobreza;
Pois, se te esqueço a forma e a mocidade,
É para amar em ti unicamente
A encarnação suprema da bondade.
Holocausto
Eu devia prever que toda essa locura
E esta dedicação com que te tenho amado,
Não podiam mover-ter a impassível ternura
Pois nunca existiu o bem com o bem recompensado.
Entretanto, bendigo a terrível tortura
E os súplicos cruciais por que tenho passado,
Pois sofrendo por ti, eu sinto que a amargura
Tem o doce sabor de um fruto sazonado.
Olha bem pra mim: vê que vinte e seis anos
Não podiam me ter por tal forma abatido
Nem roubar minha força e vigor espartanos,
Se estou precocemente exausto e envelhecido,
É do efeito fatal dos tristes desenganos
E do atroz desespero em que tenho vivido.
Quos Ego
Nunca direi que te amo — esta expressão
É muito fraca para traduzir
Esse mundo infinito de afeição
Que de dentro do meu ser anda a florir ...
O que sinto é quase uma adoração,
Um desejo infinito de fundir
Nossos dois corações num coração
E as nossas almas numa só reunir;
É ânsia de ligar, de amalgamar
As nossas vidas que o destino afasta
E que o próprio destino há de juntar;
Uma afeição consciente e excepcional
Que é humana demais para ser casta
E demais pura para ser carnaval.
Poemas extraídos de
TAVARES, Zózimo. Sociedade dos Poetas Trágicos. Vida e obra de 10 poetas piauienses que morreram jovens. 2 ed. Teresina, Piauí: Gráfica do Povo, 2004.
122 p.
Colaboração de Elimira Simeão, página publicada em julho 2007.
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