LUIZ FILHO DE OLIVEIRA
nasceu em Campo Maior, Piauí, em 1968. Formado em Licenciatura Plena em Letras, pela Universidade Federal do Piauí – UFPI, professor de Língua Portuguesa na rede particular de ensino.
Premiado em vários concursos de poesia. Ganhou o segundo lugar no Concurso Literário de Piauí de 2000, cuja obra BARDOAMAR saiu publicada, com os demais premiados, na coletânea CONCURSOS LITERÁRIOS DO PIAUÌ. (Teresina: Fundação Cultural do Piauí, 2005. p. 99-166) de onde extraímos os seguintes versos.
“... os versos de Luiz Filho de Oliveira são assinalados pela ousadia de criar uma marca pessoal, um modo particular de falar de si mesmo e das relações com os lugares em que transitamos (os espaço do prazer, da busca, da dor, da utopia humana), inscrevendo-se poeticamente no mundo. Esse gesto diz respeito ao espírito inventivo de que se aventura nesse labirinto de palavras chamado poesia, haja vista existirem aqueles que acreditam que nos tornamos mais originais e criativos quando ultrapassamos o medo de imitar os modelos de obras já consagradas. Um poeta jovem não precisa se limitar ao cânon. Destarte, nenhuma linguagem ou forma sacralizada de fazer versos basta a ele, que acredita na força do seu poema, no poder que a Palavra ou o Verbo possuem de construir realidades, transformar o mundo.” Elio Ferreira
BardoAmar
velhos personagens
vinha esse verbo velho
tinto em cenas líqüidas
brinde pois conosco
enquanto imóveis a senso
corpemente excetos
onde estes chãos marem-se em
música vinho poemas
caminho a tormentas
por risco você
em linhas fie sentidos
aqui dentro eus nós
velozesamarras
velas a mar a velarem-se
no que o verso encerra.
sedentro
enquanto
pelo teu corpo
espasmo encontro
em – be – ber – te – em – vi – nho
os – go – les – se – cre – tos
te – tra – go – os
vi cio
tua alegria minha
droga bem vinda viva
a me – tragar
a espasmos o sensível
no quando – líqüido – me – pescas
se ondas vinho
estiagem no poema
o sol traga
a vinha alma do poeta
que espera
versiflorem
sulcos as brancaragens
destas páginas
68 flores de maio
o tempo de contribuir com uns versos
vomito teu vinho em poemas malinos
onde o mal dito, bem, digo, o segredo
churrasco o a-mor
espeto fogo garfo
a amórfagos
os ped acin hos da
cerebral emoção corpumana
mais ninguém há de comer o sem
tido todo: todos
próprio de casal
amar: quando intenso
a esparsar o quanto exceto
de nós: móveis certos
de esparso a espaço
graças à perspectiva
num horizonte em linha
tocamos a estrela que vigia
fenixmente
com a convicção do pássaro divino
te – semento me este amar (ave!)
onde ardo quando chamas
a vingar a vida o humano momento
com estes vôos vinho no cinza
de sempres
atirado (não à balada)
eu olhar
a me – estilhaçar
eu retalhos
teu corpo
campo minado
onde me – atiro
seu medo de
em cada avanço: de frente
explodir teu o sexo alvo
De
Luiz Filho de Oliveira
ONDE HUMANO
Teresina: Nova Aliança, 2009. 114 p.
dos quintais do humano há poemas tais vindos
por registro nas telas páginas
aqui gravadas escritas terrenas
o humano sentido assim está poema
e gravemente o desbravar vales de imagens
sonidos odores gostos toques (sumos cimos!)
vida tudo isso nesses tons cerebrinos grafemas
onde dadas as palavras guardadas
estão a mil as sensações percorridas
neste sítio literal arquivo em corpo vivas
(Em Pedro II, num salto gritador até S. Raimundo Nonato primitivo.)
sobre o realismo plástico artista: um homem em sua obra*
de tinta de sangue
fez-se teu nome – Fernando –
personalíssimo & transferível ao poema
pelo bendito ódio à vida
que se-gerou imagem sangüenta
de tanta pintura & quanta violência!
ah... quadro profundo!
teus punhos teu ventre teu grito teu estilo
compunham tua mais crua obra prima & derradeira
(No Primavera; próxima, a praça que tem, sim, seu nome próprio.)
*Em memória de Fernando, um artista plástico do meu bairro, nessa rota pela Costa de suas artes piauienses.
reinscreve um poeta a seu passo a nova capital & a passada capitania de Piaguí *
tristeresina15: um quê de semelhante
estás ao que era nosso antigo estado
(rico de nativos mortos por gados)
em este mote alheio & cambiante
se a ti tocou-te a máquina mercado
esse ouro que apaga muito brilhante
a nós todos aqui tem-nos-tratado
com os dous ff dum poema dantes
deste estado – a quem não deste por renques
as carnes como o-fez à gente ruda
de Bahia Pernambuco Minas (mortes!) –
há quem alegoricamente tente
fazer ainda uma vaca bojuda
para carnes & poemas de corte
(De Oeiras, Salvador; Ouro Preto, Recife a Teresina, em estados de Brasil.)
*A Cineas, homem com letras, de cimos Sãos & Santos.
Piaguí (p.48) Ludwig Schwennhagem, em Os Fenícios no Brasil: Antiga História do Brasil – de 1.100 a.C a 1.500 d.C., ao explicar a etimologia dessa palavra, disse: “A chave para compreender a fundação das ‘Sete Cidades’ dá-nos o antigo nome de Piauhy, que era ‘Piaguí’. Nos documentos históricos que juntou F. A. Pereira da Costa na sua excelente ‘Cronologia’ [Cronologia História do Estado do Piauí, 1909], encontramos as formas: Piaguí, Piaguhy, Piagoy e Piagohi, mas nunca Piauhy, que apareceu pela primeira vez em 1739 (...) e ignorantes explicam esse nome como ‘riode peixe piau’. Piaguí – portanto – não pode ter outro significado do que ‘casa, respectivamente terra dos piagas’ “
Tristeresina (p. 48) Neologismo criado por Torquato Neto em seu poema Todos cantam sua terra, também vou cantar a minha, cujo título são versos de Casimiro de Abreu no poema Minha Terra.
negócios negócios
acordoBrasil
do lar ... cor da ... dá-la: acorda!
acórdão superfaturado dólar
dão de cor e então a cor dobra
verdes laranjas pardos & gatunos
(todos os ratos disfarçam seus colarinhos)
decoro em coro o povo cobra
e encara o agente publicamente
a amar o elo das mil minas brasis
e o banco a mil para poucos por certo
e por centos milhares milhões
no ônus do país ao mês
há anos
nós nus
(Sentado num banco central duma praça, em Brasília.)
Poemas do livro
“DAS BOCADAS INFERNÉTICAS”
Desbocada Poética das Bocadas a Poesia Infernética
"Das Bocadas Infernéticas", meu terceiro livro, editado pela Editora Penalux (Guaratinguetá, 2016. 146p.) é um livro de poesia satírica, cujo título faz um trocadilho-homenagem ao primeiro poeta satírico brasileiro, Gregório de Matos, o "pai da matéria" por estas plagas, e, por extensão, à poesia satírica brasileira, do Boca do Inferno a Glauco Mattoso, passando por Tomás Antônio Gonzaga, Luiz Gama, Juó Bananere, Oswald de Andrade, Cuíca de Santo Amaro, Millôr Fernandes, Chacal...
I. A poetastros ou estrelas metidos a donos da Poesia
Estazinha Poesia é o que
quiser, o que o-for: que redun-
dante-se cômica, divina,
confessioral, se subjetiva
o lírico de eu-satíricos
na Rede, o escambau!
Nem mesmo um Poeta-astro
ou essoutros sem verve (verbos fracos!)
vão-se-meter nela, senão para poemaltratá-los.
II. Outro poemaldizente para desbocar essa poética
– Soo Poeta no pixel das telas,
sou digital papel líquido à Terra,
às redes dessas histórias de merdas!
Voo dígitos, Eus nas páginas e
vou a outras telas em vômito,
que quase nada tem de cômico.
III. Núltimo poema a teclar aliterações na poética de seu blog
Abre, Poeta, a porra desse Windows (uma das portas!)
e perspectiva um eu-satírico em estado bem puto,
a quem nada apraz senão o teclar o seu prumo.
Descreve o Poeta o que era naquele tempo os cliques em br de Brasília
Em cada sítio, um foda de um blogueiro
que a vida desses picaretas inferniza,
e a cada postagem dá ao mundo inteiro
o que pras leis não é considerado lícito!
Aquele hacker, bem orientado, o vídeo,
os sítios pessoais e o e-mail da Presidanta
captura, com informações ao estrangeiro.
Muitos sítios tão bem-avergonhados
exibem aos cliques o caralho desses da elite,
que riem a cair na Infernet, deslavados!
Todos os que não postam, muito fodas.com, e
dos de Brasília as postagens compartilham!
Eu inscrito à pele em fala ao poético de Hughes à Infernet
– Eu sou negro mesmo,
como os meus antepassados todos,
passados na África, antes da Diáspora trágica!
Eu estudo no Brasil, numa escola pública;
aqui se-comemorou a Abolição da Escravatura,
mas só se-falava na tal da canetada no gabinete da princesa!
Eu escuto umas histórias,
cantadas por minha velha vó negra,
e ela fala dos sofrimentos de uma raça caçada!
Eu leio uns escritores negros;
com eles, eu aprendo a ser eu mesmo,
fragmento reunido a outros em continente novo!
Eu canto umas canções antigas,
respostas de bocas sabidas magistas;
a fazer o trabalho virar em cigarra a formiga!
Eu escrevo uns poemas negro!
Eu construo um futuro, agoraqui, passado
no alho, nos olhos, nos atos, nas positivas palavras ,
atitudes de afirmação de orgulho dos que são da cor da noite!
Eu jogo capoeira na América brasileira,
arte-manha das armas do meu corpo musculoso;
Ginga, que, Rainha, vinga luta contra a opressão do meu povo!
Eu danço, livre mente, mesmo;
marcando, com passos alegres, a tristeza do meu canto,
tradição traduzida para as raízes do blues, jazz, reggae, samba!
Eu ensino numa escola,
superior àquela que em ontens me-deram,
para ministrar o caminho que o mundo africane (creio)!
Depois do leiteiro morto foi o padeiro após o concurso de biscoitos finos
Estoutro poeta creu
em estar bem classificado,
assado, e – crau! – assim
comeu-ele um grupo
de crus jurados, osquais,
escrutando seu trabalho,
à mesa, sentados, para
o bardo-padeiro, receitaram:
“Mais atenção ao preparo;
crua, ainda, a massa;
procure mais amaciá-la;
o povo dela só provará
quando ela, descansada!”
Assalto à mão teclada
Com a tela toda encoberta
por um tecido de códigos,
cobrindo o rosto de propósito,
um hacker le-assaltou há
segundos atrás num chat,
quando le-apontou um mouse velho
e levou do bolso do poeta o quanto
ele teclou texto em sua conta.
– Copylantra!
FAKE IN BRAZIL
Há água na água de coco engarrafada;
milho, no café e na cerveja de casa;
no leite, não só água, soda cáustica!
As bebidas (do uísque à cachaça!), batizadas;
as camisas (muitas marcas!), piratas;
a justiça, a política, de nelson, de nada.
Há povo há muito tempo enganado
por muitas gentes e anos de trapaça;
é o que por muitos aquis ainda grassa.
Página publicada em fevereiro de 2008; página ampliada e republicada em setembro de 2010; página ampliada em julho de 2020
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