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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

JOSE DE RIBAMAR VIEIRA FEITOSA

 

JOSE DE RIBAMAR VIEIRA FEITOSA nasceu a 2 de abril de 1946, em Parnaíba, no Piauí", mas reside em São Luís desde os seis meses de idade. Estuda Comunicação Social na Universidade Federal do Maranhão, de onde também é servidor, lotado no Departamento de Sociologia e Antropologia do Centro de Estudos Básicos. "Ato público" foi premiado em 29 lugar no I Festival Universitário de Poesia Falada.

Obras publicadas: Planície quase minha (1969;    com o pseudônimo de José Rimarvi); Mais   um   homem   no mundo (1978; com   o pseudônimo de José Maria Medeiros); Pedras de cantaria, Pró-missão (1979);    Mural Vivência (1980) e Balada clandestina (1981).

 

 

NOVOS POETAS DO MARANHÃO.  São Luís: Edições UFMA, 1981.  79 p    ilus   15 x 22 cm.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

ATO PÚBLICO

 

De repente, os gritos e o povo
Lá na praça.

Enquanto os tigres urravam no silêncio
de seus cassetetes.

De repente, o tinir das algemas no pêndulo
das 19 horas.

 

Nossos filhos tinham ficado em casa,

sozinhos na sua magreza e na vigilância da fome.

Lá na praça,

os mastins nos vigiavam com os seus capacetes
de ódio.

Nossos jovens renegaram suas escolas malditas
e as instruções que os abutres quiseram edificar.
Nossos jovens, de mãos dadas, trouxeram um pássaro

                                                                            enorme

e o semearam na praça da liberdade.

 

As 19 horas, e o povo reunido: o grito!
Enquanto os cães se agitavam em seus esgares de ódio

                                                                            e fuzis.

De repente, eles nos cercaram gesticulando

no bale feroz da violência,

buscando esmagar nossos passos de anseios,

ferindo a noite com uma escuridão medonha.

Ah! o povo e seus abraços dilacerados!

Ah! o povo esperando, anelando por um pedaço de luz!

Ah! o cassetete e a sua dança de rapinantes...

 

0 povo que explodia em suas esperanças.
0 povo que construía o seu próprio rio.
0 povo que vinha conjugando a sua planície

                   contra os montes de lixo,

                   contra os restos de alimento,

                   contra a miséria de mil crianças

                   e do povo-todo-mendigo;

 

                   Contra o arrancar de sonhos
e o esmagar de dedos,

                   contra a tortura, o torturador e o mandante.

 

Ah! a tortura implantada em mil salas ocultas

e dentro dos instantes dos carrascos nunca-azuis...

Então, os mastins avançaram sadicamente

                   contra os nossos passos brancos...

 

seus jipes e carros pretos uivando,

seus escudos de fibra de vidro e o gás

que nos lacrimejava, que sufocava nossas esperanças

e nos fazia tossir toda a nossa revolta.

 

Então, um grito maior tornou-se o hino.

0 povo, lã na praça, sangrava e agonizava.

As fauces imensas do despotismo também gritavam,

tentando engolir a voz do povo e calar a libertação.

 

Mas, de repente, de braços dados, os jovens se ajoelharam

e plantaram, no chão de um futuro próximo, a certeza

de que o homem é livre,
de que o homem só vive
se respirar no sol pleno de libertação!

 


SUPLEMENTO CULTURAL & LITERARIO JP Guesa Errante  ANUÁRIO.  São Luís (MA), n. 5 – p. 1-129, 2007.  
Ex. bibl. de Antonio Miranda

 

PRELÚDIO EM ROSA PARA
A ESTRELA AZUL

 

Estrela azul sonhando por aqui
É meia-noite eu vou logo embora
De Gorki um livro eu trouxe em minhas mãos
Poemas feitos onde eu mais sofri

Estrela azul guardei-me quase em tudo
Estrela grande aqui é meia-noite
Aqui morreram aves, foram-se ontens
As praças loucas meu caminho mudo

Menina vinda lá do meu impossível
Bebi sonhei teu olhar azul também
Estrela em que já me queres bem

Cavalos estes suas crinas louras
O teu cabelo lindo estrela e brilho
Serás a mãe do meu futuro filho




        PUNHAIS DE TUA AUSÊNCIA

       
Esperar-te enquanto maresia
       E sereias cantando ao entardecer.
       Lá, um morrendo decodificando estrelas.
       Aqui, um sino azul a badalar punhais.

       Esperar-te, sabendo que não virias.
       A galáxia inteira soluçando em cedros
       Plantados ipês no coração do sonho,
       Mesmo sabendo que não voltarás.

       O perfume do teu seio esquerdo
       Na mão direita do meu poema,
       E um claro grito do teu rio-e-mar

       Esperar-te enquanto ventania,
       Bailando pipas no meu céu de barcos
       Todos partindo, se não vais voltar.


        FONTE DAS PEDRAS

       
Um lento borbulhar de sonhos quando
       O roxo do passado, em teimosia,
       Ainda prevalece murmurando
       Palavras de uma antiga poesia.

       São pedras e segredos feitos cânticos,
       Sussurros de batalhas de outras eras,
       Um nicho de sutil sabor romântico,
       São águas de distantes primaveras.

       Um pássaro prefere aquelas sombras,
       Gorjeia, da cidade, a se esquecer.
       Tornando mais suave o entardecer.

        E a fonte destas pedras, gotejando,
       Parece, ao sentimento, convidar:
       De dia, paz, saudades, ao luar...

*

Página ampliada e republicada em novembro de 2023

 

 

 

 

Página publicada em agosto de 2019


 

 

 
 
 
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