SIMBOLISMO – POETAS SIMBOLISTAS
JONAS DA SILVA
O livro de estréia de Jonas da Silva traz na abertura um soneto impresso em vermelho, e as demais composições em cor de sépia. Em carta-prefácio, adverte B. Lopes, cuja influência pesa gravemente sobre essas Ânforas, que dourava os versos do livrnho a mesma "pamponilha" com que ele, o prefaciador, enfeitava os seus. Ânforas não é um livro simbolista, mas Ulanos, publicado dois anos depois, com o mesmo soneto inicial em vermelho e desta vez com cercaduras coloridas nos versos, já é paroxisticamente do novo credo. Jonas da Silva chega a um mundo gongórico em seus versos, gritantes de cor e ardentes de imaginação; suas comparações e metáforas são abundantes como a dos mouros da Espanha, e por vezes túmidas como as do cultismo e até mituradas: num lírico soneto, o Sol "buzina a luminosa trompa", é "ave do azul" e "monge do espaço". Os sonetos que selecionamos de Ulanos refletem esse verdadeiro plano alucinatório pelo qual rola o Poeta, com seu verso intensamente colorido e figurado.
Não são muitas as informações biográficas que nos chegaram sobre esse discípulo de B. Lopes, em quem Fernando Góis também vê influência de Figueiredo Pimentel na parte final de Ulanos, "Evangelho de um Mau".
Nasceu Jonas Fontenelle da Silva em 17 de dezembro de 1880 na cidade de Parnaíba, no Piauí. Fez os preparatórios no Amazonas e estudou Odontologia em Salvador e no Rio, onde se diplomou em 1899. Participou do movimento simbolista baiano, segundo Murici. Mais tarde residiu em Manaus, onde se aposentou como dentista do Instituto Benjamim Constant e dirigiu uma empresa cinematográfica. Faleceu em Manaus, no ano de 1947.
BIBLIOGRAFIA DO AUTOR
Ânforas, Rio, Tip. (lo Instituto Profissional, 1900; Ulanos, Rio Tip. Leuzinger, 1902; Czardas, Manaus, Tip. da revista Cd e Ld, 1923.
PÉRICLES EUGÊNIO DA SILVA RAMOS, in POESIA SIMBOLISTA Antologia. São Paulo: Melhoramentos, 1965, p. 375-376.
VESPERAL
Erma tarde litúrgica em declínio...
Há no espaço uma estranha barcarola
E o cadáver do Sol em nuvens rola,
0 apunhalado príncipe sanguineo.
Que na terra haja o luto, haja o assassínio!
Mas ao crente amedronta e desconsola
O crime junto aos céus, junto a corola
Das estrelas — as rosas de alumínio.
Logo depois que os mármores vetustos
Desças, ó Noite, do pesar, dos sustos,
Depois que as asas de albatroz envergues,
Há de a Lua surgir pálida e etérea,
A Lua, a triste lâmpada sidérea,
O sorriso do azul para os albergues.
Há nos versos a tinta forte da imaginação, os exageros "andaluzes" a que B. Lopes jamais chegou.
PAISAGENS DA CARNE
o teu corpo lirial, do alvor de Sete-estrelo,
É uma verde floresta em cuja sombra e solo
Passam deusas pagãs de aljava a tiracolo,
Ha rouxinóis de aroma em teu loiro cabelo.
Muita vez sob a aç~so de infernal pesadelo
Se transforna o teu vulto em paisagens do pólo
E cuido ver na alvura hibernal do teu colo
A refração do luar nas montanhas de gelo.
E na alucinação de apaixonado creio
Ver dois ursos, do Sol aos mortiços lampejos,
Dois ursos de rubis nos botões do teu seio.
E do gelo polar entre as pratas e espelhos
Vejo ao longe os viris esquimaus dos meus beijos
Lança em punho, em caçada a esses ursos vermelhos...
A poesia, com seu arabismo das comparações de ccncreto, profusas e preciosas, arriscando-se até a cair contudo bastante representativa da maneira de Jonas da Silva, derivou o senso de colorido e sonoridade de B. Lopes para verdadeiro .plano de alucinações.
REZENDE, Edgar. O Brasil que os poetas cantam. 2ª ed. revista e comentada. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1958. 460 p. 15 x 23 cm. Capa dura. Ex. bibl. Antonio Miranda
TERRA NATAL
Terra natal, ainda hoje me confranges
A alma sem fé, de miserando escriba,
Se me vens à memória, ó Parnaíba,
Com teu rio de amor, lembrando o Ganges.
Em criança, formávamos falanges
A correr e a brincar de riba em riba...
Hoje, o meu pranto, é como a copaíba
A golpes de machados e de alfanges.
Da ampla Igreja relembro a majestade,
Das novenas de maio, a suavidade...
Tem trinta anos a dor que em mim se expande!
Nunca, uns dobres alegres ou magoados,
De sino, ouvi, de festas ou Finados,
Como os dobrados do teu Sino Grande!
("Czardas")
AMOR SERTANEJO
Minha terra natal, com tantas lendas,
Dunas, mangues plantados e coqueiros,
Onde sobre espinhais vão-se os vaqueiros
E onde há moças gentis fazendo rendas...
Lutas, brigas, violências e contendas
Por terrenos e marcos medianeiros
E onde à lua os nostálgicos violeiros
Vibram canções nos pátios das fazendas...
Homens fortes, audazes, destemidos:
Uns, ilustres nas letras ou na guerra,
Os bons filhos, bons pais e os bons maridos...
Raro uma chuva nos sertões desaba...
E na gente que vem da minha terra
Amor é firme e nem com a Morte acaba!
("Czardas")
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Página publicada em setembro de 2009; ampliada em dezembro de 2019
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