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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

J. RIBAMAR MATOS

 

(1946-1974)

 

 

era o poeta que partia sem ter tempo de transmitir à posteridade os sentimentos que lhe sufocavam a alma jovem e idealista. Nascido em Oeiras, Piauí, era funcionário do Banco do Nordeste do Brasil, morreu precocemente, vítima de um desastre automobilístico, acontecido no Ceará.

Era um poeta ligado à tradição da poesia; seus sonetos, rimados e metrificados, tinham substrato geralmente lírico.

Biografia: https://academia-oeirense-de-artes.webnode.com 

      

 

Poemas do livro  Poeira de estrada  (1984):

 

 

              RESSURREIÇÃO

 

 

              Se eu falecer, querida, bem distante,
e não vires, sequer, meu corpo frio,
ao meu sepulcro leva, a cada instante,
a dor cristalizada, fio a fio...

 

                Reza ao teu morto uma oração constante:
deixa cair do triste olhar vazio,
do teu, então, já pálido semblante
o pranto que te torna o olhar sombrio...

 

                Vai derramar em minha sepultura
chuva eterna de lágrima sentida
de tua alma, diluída na amargura;

 

                que, se molhar a minha face ungida,
então me erguendo lá da cova escura,
eu chamarei por ti, mulher querida!

 

 

 

       SILÊNCIO

 

        Pouco te importa o meu sofrer insano

        e que eu viva, afinal, como hoje vivo,

        nessa angústia de pássaro cativo,

        a andar de desengano em desengano!

 

        Já não tenho ilusões nem mais me engano

        com a minha existência sem motivo,

        pois não creio em, depois, ver redivivo

        o vigor de outros tempos, espartano.

 

        Ver-me-ás, entretanto, silencioso e mudo,

        nem um lamento de meu lábio triste

        ouvirás nunca mais, depois de tudo!    

 

        Calado e triste há de me ver agora,

        sem o vigor de quando tu surgiste,

        tecendo versos pela vida a fora...

 

 

 

                OEIRAS

 

 

              Do fundo do meu tempo encarcerado
emerge intacta a vida inconsequente
do menino de rua – impenitente
ladrão de umbus de Santa do Condado:

                O Sobrado, com grade e cata-vento,
lembrava estórias de lhe meter medo:
— estórias de fantasmas, cujo enredo
deixava-o todo num estremecimento;

 

                as ruas tortuosas, muito escuras,
com seus imensos casarões vetustos
e o cemitério, onde a tremer de sustos,
via almas brancas pelas sepulturas;

 

                e a torre solitária da Matriz
erguida para o céu (como se fosse
a presença de Deus, serena e doce,
na alma do povo simples e feliz!);

 

                e o Mocha de águas turvas que, perplexo
testemunhou primeira vadiagem,
do molecote impúbere, selvagem,
mal despertando pro prazer do sexo;

 

                Igrejas do Rosário e Conceição,
Poço do Silva, praça do Mercado,
ruas do Fogo e do Hospital, Condado,
Canela, Barro Alto, Boqueirão,
tudo emerge do fundo da memória
do menino que a vida endureceu...

 

                (...)

 

                (Oeiras, meu torrão de amor e glória,
saúda-te o menino, que sou eu!).

 

 

 

Página publicada em janeiro de 2020.

 

 

 

               

 

                         

 


 

 

 
 
 
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