ISABEL VILHENA
Isabel Vilhena (20/08/1893 - 19/12/1988)
Maria Isabel Gonçalves de Vilhena
formou-se professora na primeira turma de concludentes da Escola Normal em 1913.
Isabel Vilhena nasceu em Teresina a 20 de agosto de 1896 e faleceu nesta mesma cidade a 19 de dezembro de 1988, aos 92 anos de idade.
É formada pela Escola Normal Oficial e, por educação domiciliar, estudou Francês, língua que dominava com fluência. Foi professora e diretora da Escola Modelo e lecionou Português e Francês nos colégios Diocesano e Sagrado Coração de Jesus. É acadêmica desta casa, tendo ocupado a cadeira cujo patrono é Da Costa e Silva.
(Texto extraído de https://www.portalentretextos.com.br/
A ALMA DO SINO
O sino canta!...
O sino está dizendo,
Numa voz de festivo repicar,
Que alguém chegou e vai se batizar.
Numa alegria doida de criança,
A voz do sino é um canto de esperança!
O sino vibra!
O sino vai cantando
Um hino de inocente contrição!
A capela da igreja encheu-se da revoada
De crianças de véu e de grinalda,
Que vão fazer a sua comunhão!
A voz do sino sai purificada
Como o sol, ao romper da madrugada!
O sino chora!...
O sino faz chorar ...
O sino entoa o derradeiro canto:
A prece da saudade, em voz de pranto!
E, soluçando, o sino vai dizendo
Que alguém partiu ... e que não vai voltar.
A BORBOLETA
Na transparência viva e luminosa
Dessa manhã de sol, passou fugindo
A borboleta azul, silenciosa,
Ligeira, breve, qual um sonho lindo.
Cabelo ao sol e face cor-de-rosa,
Dedinhos frágeis, gracioso unindo,
Atrás da flor aérea, vaporosa,
O garotinho ansioso vai seguindo.
A borboleta pousa numa flor,
Devagarinho, mudo, cauteloso,
Quase a pendeu! Fugiu... Que dissabor!
Garoto lindo! Borboleta esquiva!
— Coração moço, crente, esperançoso,
Em busca da ventura fugitiva!
(De Seara humilde...(1940))
ALMA DAS COISAS
Olhando a serra, lá distante,
E o sol que sobre a serra desce,
Escuto nesse instante
O pássaro feliz e as flores da campina,
O arvoredo que vive sem saber
Agasalhando a paz dos ninhos,
Dizerem sua prece!
E quando no horizonte o dia acorda,
Na pompa da alvorada,
A hora virginal do amanhecer,
É para mim como se eu mesma visse
O próprio Deus olhando para o mundo!
Então, minha alma reza ajoelhada,
Em silêncio profundo,
A prece mais bonita que eu já disse
E que a ninguém na terra eu vou dizer!
Ao ver o rio deslizar sereno,
Na sua vida plena de bonança,
Nessa marcha saudosa de partida,
Refletindo no espelho de águas mansas
Um retalho do céu todo estrelado,
Os ninhos e um pedaço de montanha,
Eu o comparo àquele que, na vida,
É bem feliz, porque o rio
Sonha acordado...
E sem saber que sonha!
(De Seara humilde (1940)).
ANTOLOGIA DE SONETOS PIAUIENSES [por] Félix Aires. [Teresina: 1972.] 218 p. Impresso no Senado Federal Centro Gráfico, Brasília. Ex. bibl. Antonio Miranda
O LAGO
Na superfície azul das águas transparentes,
Sereno e calmo vive o lago a refletir
A grandezas do Céu, os astros reluzentes
E a renda do arvoredo ameno a refletir.
E quem o vê assim na placidez dormente,
Sem um murmúrio vago ou leve proferir,
Nessa aparência mansa e doce de um demente,
Terá brasão demais, de certo, em se iludir!
Revolvei o seu leito! E o tendes já turvado,
Desfeito, emaranhada a renda do arvoredo,
E o calmo adormecer em vagas transformado!
Como o lago também há corações! E quantos!
De aparência feliz, guardando com segredo
Na placidez de um riso um vendaval de prantos!
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Página ampliada e republicada em março de 2023.
Página publicada em janeiro de 2020
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