FRED MAIA
Piauiense de Oeiras, jornalista. Poeta, letrista, intelectual que atua no cenário da alta formulação e administração das políticas públicas da cultura nacional. Nasceu no Piauí e agora vive em Brasília. Como diz Chico César, “sempre com poesia e um sorriso no lábio...”
Publicou “Um Rock por Nada” (São Paulo: Ed.Arte Pau Brasil), “eupor” (São Paulo: Ed.Nômades); “Mais que Imperfeito” (Porto Alegre: Poema Editora, 2004) e o ensaio “Plinio Marques – a crônica dos que não têm voz” (São Paulo: Ed.Boitempo), em parceria com Vinicius Pinheiro e Javier Contreras.
“Mais que Imperfeito” tem letras, tem haikai, tem poesia e até prosa. NO “Mais que Imperfeito” de todo jeito se goza.” ALICE RUIZ
“Fred Maia chegou perto da perfeição nesse “Mais que Imperfeito”. Seja na precisão dos hai-kais, nos poemas mais extensos ou nas letras de música, ele esbanja lirismo e alma. Fred é um poeta comovente. Como os bons.” ZECA BALEIRO
“A densidade poética de Fred Maia é aplicada, verso a verso, sobre a base do inconformismo estético e da economia verbal. Sua poesia investiga e investe na invenção e na reflexão, que são exigências básicas para qualquer produção de linguagem moderna. A opção pelo poema curto, filiado à tradição do Hai-Kai, imprime à poesia de Fred Maia um lirismo essencial, sem adiposidades, convocando o leitor a retirar-se da comodidade discursiva, da compulsão verborrágica, tão comuns na tradição lírica brasileira.” FELICIANO BEZERRA
Extraído de:
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BRIC A BRAC 21 ANOS MAIOR IDADE. Brasília: Caixa Cultura, 2007. 112 p. ilus. col. 23x21 cm.. Exposição comemorativa . Curadoria e projeto expositivo: Marilia Panitz. Coordenação Geral: Luis Turiba. Inclui poemas visuais e arte gráfica. Inclui poemas visuais de Luis Turiba, Manoel de Barros, Paulo Leminski, Zuca Sardanga, Nanico, Franciso Kaque, Wagner Barja, Paulo Andrade, Antonio Miranda, Bernardo Vilhena, Paulo Cac, Ariosto Teixeira, Elizabeth Hazin, José Paulo Cunha, Fred Maia, Nicolas Behr, Claudius Portugal, Ronaldo Cagiano, TT Catalão, Francine Amarante, Adeilton Lima, Maria Maia, Ronaldo Augusto, Augusto de Campos, Arnaldo Antunes, José Rangel Farias Neto, Menezes e Morais, Cristiane Sobral, Eduardo Mamcasz, Vicente Sá, Nance Las-Casas, Bic Prado, Angélica Torres Lima, Flavio Maia, Ronaldo Santos, Joanyr de Oliveira, Sylvia Cyntrão, Carlos Roberto Lacerda, Carlos Henrique, Fernanda Barreto, José Edson, Vera Americano, Alice Ruiz, André Luiz Oliveira, Carlos Silva, Charles Peixoto, José Roberto Aguilar, Estrela Ruiz, Renato Riella, Chico César, Francisco Alvim, José Robert o da Silva, Eudoro Augusto, Amneres, Gustavo Dourado, Alexandre Marino, e ilustradores: Resa, e fotógrafos, etc.
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barato custa caro
na tua conta sobra zero
na minha falta
*
a justiça é cega
a injustiça cega
*
um dia fará sentido
o lado bom da vida
por outro lado
tudo fará sentido
o que é bom dura pouco
diz o ditado
mas nada estará perdido
do mal restará saber
quanto foi doído
e que tudo passa
como é sabido
para quem faz da dor
antídoto
*
contra o azul
nuvens rasantes
ascendentes urubus
*
o pássaro voa do galho
a árvore vai junto
num ato falho
*
biblioteca
primeiras leituras de menina
olhos de boneca
*
algo que diga
numa música arrasa
na chuva abriga
no amor abrasa
algo que faça
o silêncio grita
a noite abranda
o dia acata
se escreve
coisas impossíveis acontecem
pernas “pra que te lero”
a voz canta boleros
o coração pira, desembesta
histórias de amor
tocam pela vida
o espírito do cantor
abrem a janela
da amada
tanto esforço
por nada
incorrigível
o poeta perdeu-se
de madrugada
(com música de Zeca Baleiro)
LIVRO ABERTO
falar de mim
nas páginas
mais secretas
— entre tuas pernas —
nas margens
dos cadernos
poesia concreta
poeta torto
pilho a gramática
mais-que-imperfeito
língua na greta
gruta que urra
minha boca na
tua boceta
A seguir, poema de Fred Maia, extraído da célebre revista de vanguarda BRIC-A-BRAC VI, Brasília 1991.
o
po
ema
desce
a pá
gina
pa
rede
branca
música
cons
tante
o
po
ema
desce
um
de
grau
a
trás
cores
sem
nome
vogais
vagas
(
pinta
um
quê
pulso
aberto
)
o
po
ema
desce
mais
olha
para
dentro
sonha
real
desce
ao
pé
re
nasce
nota
de
roda
pé
II BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA DE BRASÍLIA – Poemário. Org. Menezes y Morais. Brasília: Biblioteca Nacional de Brasília, 2011. s.p. Ex. único.
Cabe ressaltar: a II BIP – Bienal Internacional de Poesia era para ter sido celebrada para comemorar o cinquentenário de Brasília, mas Governo do Distrito Federal impediu a sua realização. Mas decidimos divulgar os textos pela internet.
baterias contra o tédio
disparo baterias
contra o tédio
contra a guerra
o meu legítimo
rock n´roll
do outro lado
o animal contra Cabul
a fera que te espera, baby
ainda que,
só queiras bem
meu amor
a brutalidade não se entrega
quando posso
jogo flores contra o front
provocando a primavera
tanta coisa
se passou
já rompeu a nova era
o nosso amor
o nosso amo
escrevo em letra de escriba
escrevo em letra de escriba
garranchos calígrafos
falo uma língua de escracho
ganidos onomatopaicos
com ela construir
lavoura arcaica que seja
em ligeira prosa
dois dedos de Ramos outros de Rosa
minero no idioma pedra
que o sertanejo arqueja
poética de espaçotempo
fábula que arquiteto erga
almejo uma escritura suja
persigo a garatuja
que escreve a lesma
sobre si mesma
se você tivesse acreditado
se você tivesse
acreditado
na minha brincadeira
de dizer verdades
teria ouvido
verdades
que teimo em dizer
brincando
falei muitas vezes
como o palhaço
mas nunca desacreditei
da plateia que sorria
Página publicada em março de 2008; ampliada e republicada em fevereiro de 2011. Ampliada em julho de 2017; ampliada em abril de 2019 |