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EDNÓLIA FONTENELE
Nasceu na cidade de Cocal, no Piauí, em 1º de Julho de 1960. Licenciada em Eletricidadepela Universidade Federal do Piauí. Como funcionária do Banco do Brasil, passou a residir em Sergipe, onde publica seu primeiro livro de poesias: Poemas que neguei – Entre caminhos, em 1994.
IMPIAUIDOSAMENTE
nesta cama
não haverá poesia
vendo-te distante
terra minha.
recordar o sabor
do arroz "maria isabel"
da paçoca com carne-de-sol
leva-me até "o manuelzinho"
lá em Campo Maior.
nesta noite
não sonharei,
ao fechar os olhos
não enxerguei o Igaraçu
estender seu braço
para abraçar a ilha grande
de Santa Isabel
entre jovens que comem
casquinhos de caranguejo
lá no cabana
tão lentamente
quase imperceptível passar
buscando em seu próprio leito
a cumplicidade para um coito
com as águas do mar.
(De In Poemarit(i)mos (1988)
E S P A Ç O L I V R E
Na poesia
não há espaço
para coisas pequenas,
fugazes.
Falemos pois
da fome do povo,
da miséria do trabalhador,
das injustiças,
das dificuldades dos menos
favorecidos.
Falemos da lama verde
que enche os olhos e bolsos
daquela gente de lá.
Na poesia
não há espaço
para coisas pequenas,
amores mesquinhos.
Falemos pois
dos homens que
cultivam espinhos,
escondem loucuras,
roubam sonhos,
colhem sangue
de toda gente!
(De Poemas que neguei/Entre caminhos (1994)
B U S C A
Procuro um poema novo
derramando sangue
cheirando mal
falando de paixões eróticas
de crimes violentos.
Procuro um poema
com a cor do sol,
o brilho da tua pele,
com sabor de língua.
Procuro um poema
perverso como eu,
triste, mas contestador.
Quero mais sal na comida,
mais prudência na vida,
evitar o espelho na saída,
sorrir na despedida
e sem dor nenhuma
negar essa paixão.
(De Poemas que neguei – Entre caminhos (1994)
Página publicada em janeiro de 2020
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