DIEGO MENDES SOUSA
Nasceu em Parnaíba, Piauí, em 1989. Começou a escrever poesia aos quatorze anos de idade e, aos dezessete, acaba de lançar o livro Divagações. Estudante do ensino médio, se intitula “leitor consuetudinário”, amante da música erudita, da pintura e admirador de Ferreira Gullar e Gerardo Mello Mourão, duas ascendências poéticas que levitam em esferas bem distintas, apontando para direções opostas... Ótimo para um jovem poeta tão reflexivo, plástico, esperpêntico. Ousado, nada trivial, não raras vezes amargo e perquiridor, sem indulgência. É a revelação de um talento que merece atenção, a quem auguramos um crescimento constante. Ele tem todas as condições, como revelou no livro de estréia. Antonio Miranda
“Diego é um poeta solitário, introspectivo e arredio por natureza. A angústia existêncial que às vezes o atormenta é revelada em “Candelabro”, poema comovente e de grande sensibilidade.” Tarciso Prado
Prêmio Olegário Mariano (incentivo a Jovens Poetas) da União Brasileira de Escritores, entregue no salão da Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, out. 2009.
Formado em Direito. Atualmente reside no Estado do Acre.
Vejam e leiam o ensaio:
O LIRISMO RADICAL: CONVERGÊNCIA E DIVERGÊNCIA DA NOSTALGIA DO NADA NA POESIA DE DIEGO MENDES SOUSA
Ensaio crítico sobre a obra poética de Diego Mendes Sousa -
Autor: Prof.Dr. João Carlos de Carvalho
Universidade Federal do Acre - Cruzeiro do Sul-AC
https://www.portalentretextos.com.br/post/ensaio-critico-sobre-a-obra-poetica-de-diego-mendes-sousa-por-joao-carlos-de-carvalho
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
Diego Mendes Souza e Antonio Miranda dando uma entrevista para a TV Brasil
(antiga TVE) durante a I Bienal Internacional de Poesia de Brasilia, set. 2008
VERTIGEM
A poesia desinfetou as entranhas
de
meu estômago
agora vomito como
restos sólidos
depois catarei essa
e
aquela
palavra
impulsarei na sintaxe
o de sobra
voltará à vertigem digestiva
VAIDADE
Esta pele morena
não é feita de ouro
O suor do corpo
contrapala
a côndea lisa:
Uma do homem presente
do tato presente
outra
Onde só os mais dotados
de sensibilidade
entenderão
a natureza-fátua e
frívola
desse homem
ainda nascente
OBSERVAÇÃO
O vento corredio passa engraçado
pelas árvores
dando-lhes os movimentos
e os pássaros
saltam
as trincheiras da brisa de outros nortes
Cantando tudo dentro de seu possível
como pardais
audíveis
por toda manhã
PECHA
Como macilenta
pode ser minha imagem?
E concluo:
não são banais
os coriscos
as nuvens
os penedos
inerentes à minha pessoa
Apenas são defeitos
CANDELABRO
Dói-me o peito
Queima-me a alma
esta solidão reclusa
Não por querer viver
nesta orla-névoa
albicante como meu rosto
Se por medo da morte
Se por medo da perda
desta vida sob velas
Uma noite...
... Não serei solidão
não serei solidão
quando o candelabro
for sereno
ao apagar-se
SINA
Libertei-me
da revelia
indivisa
de indivíduos
pródigos
engrenando
dentro
da afabilidade matinal
Freme
no sabor
prateado
de estar vivo
a clamar
a exortar
a ascensão
de um poema
de uma flama
no elevadiço interior
onisciente
e díssono
que ata
o poeta
pleno pescoço
e sua sina
Poemas extraídos do livro Divagações. Parnaíba: Edição do autor, 2007. 130 p.
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De
METAFÍSICA DO ENCANTO
Parnaíba: edição do Autor, 2008
Diego veio de longe, lá do Piauí, nordeste do Brasil... Muito moço, 20 anos de idade, que belo! A União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro te concede, Diego, o Prêmio Olegário Mariano, por sua Metafísica do Encanto. Parabéns e quanta felicidade. Diego é um poema. Stella Leonardos
Diego, tão jovem, você escreve com muita propriedade sobre o Amor. Gostei da dedicatória da Metafísica do Encanto ao poeta Gerardo Mello Mourão. Daqui a 30 anos, com a madureza da sua poesia, você será (já é) considerado um dos grandes poetas deste Brasil. José Santiago Naud
Metafísica do Encanto começa numa capa e termina em nenhuma outra! Jorge Tufic
Diego, sua Metafísica do Encanto é de uma beleza formidável, sofisticada, erudita, elevada e carrega dentro do seu universo de espanto, o canto apaixonado, a voz solitária, o desespero da alma à Piaf. Messody Benolie
Frisson à Rilke
Que o Tempo não refute nunca
o rastilho prisioneiro e perplexo
do Amor
pois o sangue- motor da vida- pulsa
rarefeito
no apelo escondido dos Astros
a debilitar o indispor do mundo
que arrasta o azul sobre o branco:
o ar puro da felicidade
Somente o Amor filtra a ofensiva
da amargura em qualquer coração
e derrama o inusitado sobre o rosto
a orvalhar a eviternidade
e apreender o martírio de tédio
que deslumbra
a existência sufocante
em recatos de sabedoria enevoada
O clarão da existência
Como enramar-me de felicidade
se o campo, a flor, o riso...
e o descontentamento
e a sombra do tempo
e as estrelas se assomam
sob o canto e o silêncio
sobre a vida
e a renúncia
sobre uma pluma
em relâmpagos
a luz
existir em tua ausência
na morada da minh’alma
exânime
Ai bárbaro destino
como mondar a tristeza
que me perece e me amarga
tanto...
como?
Os escritores e poetas Miguel Barbosa, Stella Leonardos e Alice Spíndola, na entrega do Prêmio Olegário Mariano 2010 ao jovem piauiense Diego Mendes Sousa, na União Brasileira de Escritores/RJ.
De
Diego Mendes
50 POEMAS ESCOLHIDAS PELO AUTOR
Rio de Janeiro: Edições Galo Branco, 2010.
98 p ISBN: 978 85 7749 085-1
moras com o belo e o eterno6
Para Tarciso Prado
Espero a neblina
Brancos cavalos já passam
e o peito
(amolado na dor)
ensandece
sob o amor das éguas
E as constelações
dos sonhos pavorosos
fazem crescer
o ritmo do tempo-fogo
nas cordilheiras cordiais
E quando o sangue
do vermelho trágico
rasgar a sombra
As panteras já terão chegado
Acompanho a humanidade
além das muitas miragens
serenata aos iludidos
Amor não me deixa sofrer
Existem dias
que o coração
se parte
se deprime
se afoga
e dói até na alma
que se aperta
que se lastima
que se destrói
e depois do canto
nada mais resta
nem a força do encanto
que a vida explica
que o sonho baila
que o tempo mata
Amor não me deixa azul
que a pele sai a suar
que a boca inicia o soar
da canção dos pequenos
desventurados
Amor não me deixa morrer
De
Diego Mendes Sousa
FOGO DE ALABASTRO
Parnaíba, PI: Coileção Madrugada, 2011.
88 p. ISBN 978-85-60146-23-9
Cadência de fêmea
Garoa de remorso fagulhado
pétala de rosa amarela
chão de gaia molhada
não espero para te dizer
Amor
já amo
solicitude de estrela
orvalhada
mel de turbulência
avoada
asa de casa arrulhada
olhos de felicidade
verdinhos
luz brilho fuga
despertos
FEMINILIDADE
Divindade
colibri alteroso
gineceu e abelha - viço
céu alegoria seminua
alvo resoluto de aparição
SOUSA, Diego Mendes. Candelabro de alabastro. Parnaiba: Siert Gráfica e Editora, 2013 119 p. 10 anos de poesia (Edição comemorativa). 14x21,5 cm.
FATALISTICO
No campo o cajueiro se favorece
taciturno dos escombros de antanho
A copa das sombras
é o lume das calamidades
em ausente queixume
Ressoam as maviosas buscas
ressoam as andarilhas
alegrias
que o sonho é distante
signo e alume
e a completude do nada
o sonho:
a completude do nada
VATICÍNIO
Rebeldia concentrada se esvai
e fica o fel das cousas amargáveis
naufragosas dos destroços
imperdoáveis e monstruosas
das desventuras insinuantes
excessivas e imperativas
dolorosa é a amplidão das horas
TOADA DOS TOUROS
Ao galope da fêmea
sob os espinhos da roseira
— Os touros em pecaminosa tourada
Subterrânea é a convergência
das águas em remanso
Pelas estâncias do Amor
os sexos se refazem
contemplativos
ao caminho do imaginário
no horário de tempo algum
MÚSICA DA AGONIA
Poema de Diego Mendes Sousa
Para Antonio Miranda
A voz calou-se
dentro das essências
ruidosas
Destemido,
o anjo insiste
em extasiar-se
no subterrâneo
da alma
Na escuridão,
o corpo cego caminha
no descompasso
dos sonhos
extintos
Vagar
é uma errância
inesperada
O Amor,
a instantaneidade
no calabouço
dos tempos idos
Todos os olhos estão esquecidos
nos vícios
redimidos do desejo
Passar é um destino
rarefeito
a aplacar verdades
inabaláveis
afeitas ao sofrimento
ao vasto silêncio
do meu desespero
inaudível
A voz calou-se
novamente
no desatino
das coisas
supremas
Sou música devastada
em ronda inefável
em viagem secreta
por horizontes vários
Estou d’alma triste
na agonia
dos céus amplos
— sem ecos solares
SOUSA, Diego Mendes. Gravidade das Xananas. Guaratinguetá. SP: Penalux, 2019. 62 p. 14 x 21 cm. Prefácio por Marian de Carvalho. Posfácio por Maria de Lourdes Hortas; ISBN 978-85-5833-475-4 Ex. bibl. particular de Salomão Sousa.
ENSINAMENTOS SOBRE O POETA
Quando tenho saudades do mar
conchas ao ouvido!
... marulho de todos os dias
estendido ao peito
na imensidão dos azuis
imemoriais)
Homero!
Céu, outro mar,
nas águas solitárias
da infância,
os tempos proustianos,
a busca desenfreada
do tempo perdido,
de outras memórias
nos velhos poetas gregos,
nos amados escribas latinos,
— sonata de um naufrágio,
os poemas no abismo.
SOUSA, Diego Mendes. O viajor de Altaíba. Guaratinguetá. SP: Penalux, 2019. 102 p. 14 x 21 cm. Apresentação por Carlos Nejar. ISBN 978-85-5833-498-3 Ex. bibl. particular de Salomão Sousa.
METALINGUAGEM
Para Ferreira Gullar
Ai que vontade de esganar Clarice Ela me ensinou o infinito 0 perdido
o áspero e o desespero
no halo de uma flor a devorar meu espelho
SOUSA, Diefo Mendes. Tinteiros da casa e do coração desertos. Guaratinguetá, SP: Penalux, 2019. 100 p. 14 x 21 cm. ISBN 978-85-5833-488-4 Ex. bibl. particular de Salomão Sousa.
TINTEIROS DE SEGAR RAÍZES
Chega o tempo imediato
em que todos temos
de segar as raízes
(como batatas ou cenouras,
beterrabas ou mandiocas)
antes que a terra-mãe
apodreça o limo
das nossas cascas
duradouras,
mas perecíveis:
passa o tempo vivaz...
expiramos contidos
desde o ventre
OLIANI, Luiz Otávio. entre-textos 2. Porto Alegre, RS: Vidráguas, 2015. 104 p. 14x21 cm. ISBN 978-85-62077-19
Ex. bibl. Antonio Miranda
CANDELABRO
Diego Mendes Sousa
Dói-me o peito
Queima-me a alma
esta solidão reclusa
Não por querer viver
Nesta orla-névoa
albicante como meu rosto
Se por medo da morte
Se por medo da perda
desta vida sob velas
Uma noite...
... Não serei solidão
não serei solidão
quando o candelabro
for sereno
ao
apagar-se
(50 poemas escolhidos pelo autor. RJ: Edições Galo Branco, 2010. (Coleção 50 poemas escolhidos pelo autor) v.53.)
FORA DA RIBALTA
Luiz Otávio Oliani
quando o candelabro se apagar
ó poeta
não haverá solidão reclusa
apenas o silêncio
de quem, ao lê-lo
verá, em cada poema
a generosidade
nos versos partilhados:
herança à humanidade
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TEXTOS EN ESPAÑOL
Tradução de Helena Ferreira
SERENATA PARA LOS ILUSIONADOS
Amor no me dejes sufrir...
Hay dias
en que el coarazón
se rompe
se deprime
se ahoga
y me duele hasta en el alma
que se comprime
que se hiere
que se destruye
y después del canto
nada más resta
ni la fuerza del encanto
que la vida explica
que el sueño baila
que el tiempo mata
Amor no me dejes azul
pues la piel va a sudar
la boca empieza a sonar
la canción de los pequeños
desventurados
Amor no me dejes morir
EL FIN
Amor no me dejes morir
Ánimo poeta
Hallaste la polifonia de tu Musa
robusta enigmática deprimente estricta
no hubo la catástrofe mayor:
el verso malo
el verbo no inventivo
sólo los adjetivos que insistieron
pero qué te falta...
¿qué te fala?
— la filosofia retumbante
del bienteveo esta mañana
de diciembre
lluviosa, Mon Amour!
Página publicada em outubro de 2007; ampliada e republicada em outubro de 2008, ampliada e republicada em janeiro de 2010. Ampliada em abril de 2019; página ampliada em outubro de 2020 |