ADAIL COELHO MAIA
(1909 – 1962)
Nasceu na cidade de São João do Piauí em 1909.
Poemas extraídos da Antologia poética piauiense (1974):
JANELA DO PASSADO
Debruçado na janela do passado,
Ao longe, distingui longos caminhos,
Repletos de cardos e de espinhos,
Em fileiras de um lado e de outro lado!
Lembrei-me de mim mesmo, hoje isolado,
Nos lugares desertos e mesquinhos,
Qual ave a cantar fora dos ninhos,
Num gorjeio saudoso e sufocado...
Se a criancinha encosta-se ao peito,
Que sorrindo ou chorando, a sorte escrava,
Não me permite aconchegá-la ao peito!...
Espelho sou de luz amortecida;
Foge de mim quem outrora me abraçava,
É uma vida sem vida, a minha vida!...
INTERROGAÇÃO
Ris, por que ris de mim? julgas por certo
Que eu seja indigno de qualquer carinho?
— Ave perdida procurando ninho
Na solidão profunda do deserto?...
Vivo longe de ti, e a passo incerto
Sigo em silêncio o teu feliz caminho,
Porque sem ti me sentirei sozinho,
Trazendo o peito em mágoas encoberto.
Não sou capaz de profanar-te o nome,
Sofrendo embora esse martírio ardente,
Na fogueira do amor que me consome!...
Não rias, pois, da dor que me rodeia!
Olha que Deus proíbe e não consente,
Que a gente ria da desgraça alheia!...
O USUÁRIO
Pensando simplesmente no dinheiro
Vive o rico usurário, noite e dia.
Se alguém lhe bate à porta, traz primeiro
A nota do que tem por garantia!
Por quase nada, tudo ele avalia
Num gesto de sagaz aventureiro;
E em tão pouco tempo, cheio de alegria,
Leva do pobre o traste derradeiro.
O seu Deus é a riqueza conseguida,
Com ela pensa em se livrar do inferno
Porque com ela triunfou na vida.
Mas um pesar em seu viver influi,
Saber que morre e o desespero eterno
De não poder levar o que possui.
ANTOLOGIA DE SONETOS PIAUIENSES [por] Félix Aires. [Teresina: 1972.] 218 p. Impresso no Senado Federal Centro Gráfico, Brasília. Ex. bibl. Antonio Miranda
O USURÁRIO
Pensando simplesmente no dinheiro
Vive o rico usurário, noite e dia...
Se alguém lhe bate à porte, traz primeiro,
A nota do que tem, por garantia.
Por quase nada, tudo ele avalia,
Num gesto de sagaz aventureiro!
E, em pouco tempo, cheio de alegria,
Leva, do pobre, o traste derradeiro.
O seu deus é a riqueza conseguida...
Com ela pensa em se limpar do inferno,
Porque, com ela, triunfou na vida.
Mas, um pesar, em seu viver influi:
Saber que morre... e o desespero eterno
De não poder levar o que possui!
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Página ampliada e republicada em abril de 2023.
Página publicada em janeiro de 2020
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