Ilustração: Jorge Lopes
ROGÉRIO GENEROSO
Nasceu no Recife em 20 de setembro de 1963. Criou, em agosto 2004, o Movimento cultural Invenção de Poesia com um grupo de amigos e, em 2006, a Semana Alternativa Recifense de Arte Literária (SARAL). Ainda em 2006, recebe menção honrosa em concurso literário da UBE-PE e o 5° lugar no concurso Mostre Seu Talento do Sindicato dos Bancários-PE. Atualmente é assessor da diretoria da UBE-PE.
De
MARGINAL RECIFE
Organizadores: Valmir Jordão e Lara
Recife: Prefeitura do Recife, Secretaria de Cultura,
Fundação de Cultura da Cidade do Recife, 2007
92 p ( Coletânea poética 5 )
Gentilmente cedido por Silvio Hansen
Poema de uma cidade
A cidade é um caligrama
poema contorcionista
que a caligem não faz revelar
a quem não a conhece por dentro:
se demoras a cidade te alcança;
entregue, ela te come o osso
te sopra inverso a narina
te deita ao fosso
a cidade não anda, não pára;
amontoa-se cada vez mais
e arremessa-se do vigésimo andar:
eis a primeira página do jornal de ontem.
Réstia de sono
Bebo o silêncio de palavra
surda, cromada e azul
sob uma réstia de sono
incrusta em carne triste
em mim
a constância de solidão
são lírios imaturos, olvidos
de transparência e sonho
(sou ilha)
imune de outras flores
desmancho o jardim
em pântano propício
ao poema
(dentro das pálpebras os olhos
perdidos vêem o enfermo
pássaro que beija o lírio
uma só vez).
Habitar no poema
Habito o experimento do verso
no vidro das irreais flores
guardadas por anjos terríveis
A minha loucura acossada
de solidão pelas pedras de sal
liberta o peixe
do rictus da pantera
No pátio abandonado de sonhos
encanta-me ainda, a vida
na ausência de perfumes e azuis
Busco o corpo do poema
em tudo e nada
ou em qualquer existir
para longe dos dicionários.
Página publicada em janeiro de 2011 |