PEDRO AMÉRICO DE FARIAS
(Ouricuri - PE, 1948) Escreve e diz poesia, ensaia prosa crítica e ficcional. Licenciado em Letras, pós-graduado em Educação de Adultos. Concebe e desenvolve projetos editoriais, entre os quais se inclui o do Festival Recifense de Literatura - A letra e a voz - e trabalha com oficinas de Leitura em voz alta de poesia. É funcionário da Fundação de Cultura Cidade do Recife.
Publicações: Poesia – Livro sem título (1973), Conversas de pedra (1981), Picardia
(1994).
A edição de seu livro mais recente — LINGUARAZ (Recife: Edição do autor, 2009), com o apoio da FUNCULTURA/ FUNDARPE do Governo de Pernambuco é digna de admiração. Singelo e belo livro, com projeto gráfico de Gilmar Rodrigues, desenhos de Victor Zalma, capa dura, acompanhado de um CD.
POESIE EN FRANÇAIS
GUERRA E PAZ
um velho índio sagaz
tanto fala quanto berra
contra a indústria de guerra
em um congresso de paz
Eh! Salve Zumbi
Salve Zumbi, camará!
Eh! Solano Trindade!
Salve Solano, camará!
Eh! Bezerra!
Bezerra da Silva, camará!
Eh! Patativa!
Do Assaré, camará!
em um congresso de paz
tanto fala quanto berra
contra a indústria de guerra
um velho índio sagaz
Eh! Dona Santa!
Salve Dona Santa, camará!
Eh! Clementina!
Salve de Jesus, camará!
Eh! Xucuru!
Salve Chicão, camará!
Eh! Amazônia!
Salve Chico Mendes, camará!
SÚPLICA
a poesia nossa de cada dia
nos dai hoje
perdoai os nosso sonetos
assim como nós perdoamos
os coveiros proclamadores
da decadência das artes.
DECIFRA-ME OU TE DEVORO
quem ama dá valor à auto-estima
ando lendo notícias atrasadas
mitos, lendas de eras já passadas
donde vem essa anima que me anima
que a mim torce e tritura em rica rima
a criança que vem para brincar
maraca, maracá, maracajá
faz-me tonto, o amor é minha fé
maca passo e compasso avante e a ré
fica doido quem tenta decifrar
POESIE EN FRANÇAIS
Pedro Américo de Farias est né à Ouricuri - Pernambouc. le 10 avril 1948, il ne fait partie cTaucun mouvement littéraire, se considère, lato sensu. comme un expérimentateur des formes poétiques, usant la métrique ou le vers libre. II écrit et parle de la poésie. fait des essais de prose critique, mais préfère se nourrir de la lecture de prose de fiction. Licéncié en Lettres, ayant une maitrise en Éducation des Adultes. il conçoit et coordonne des projets éditoriaux et fait de la révision de textes pour la Fundação de Cultura Cidade do Recife.
Livres publiés : poésie - Livro sem título (à compte d auteur, 1973); Conversas de pedra. (ed. Pirata. 1981): Picardia (ed. Língua de Poeta. 1994). Essai: Pernambuco: século e meio de ficção. Recife: Jornal do Commercio. 2001 (Pernambuco Imortal III, encarte n° 8).
Textes dispersés dans plusieurs périodiques, tels que : Suplemento Literário (Belo Horizonte, Brasil), Suplemento Cultural (Recife. Brasil). Correio das Artes (João Pessoa. Brasil) el les revues Rivaginaire (Tarbes). Continente Multicultural (Recife. Brasil). Camaleão (Porto. Portugal).
II a organisé et participé au recueil Imagem passa palavra (Porto : Projeto Identidades, 2004).
RECIFE – UM OLHAR TRANSATLÂNTICO – NANTES - UN REGARD TRANSATLANTIQUE –Antologia poética – Anthologie poétique. Organizada por Heloisa Arcoverde de Morais e Magali Brazil, tradução Everardo Norões, Renaud Barbaras. Recife: Fundação Cultural Cidade do Recife, 2007. 206 p. 15x20 cm. Inclui os poetas brasileiros: Alberto da Cunha Lima, Cida Pedrosa, Deborah Brennand, Erickon Luna, Esman Dias, Everardo Noröes, Jaci Bezerra, Lucila Nogueira, Marco Polo, Miró, Pedro Américo Farias. “ Ex. bibl. Antonio Miranda. Indifférent
Un marin et Recife
Indifférent
à la vérité et à l'imagination
au tracé du premier
et du dernier architecte
à la logique qui nest pas
celle de l'oeil et du toucher
à l'amour fou des ivrognes anxieux
et à l'auto-flagellation de ceux qui cuvent
à leblouissement de l’apprenti touriste d'aujourd'hui
et à la torture plaintive des passéistes
à la complaisance des pouvoirs pourris
et à la pénitence des pauvres béats
un marin
peint pour lui-même
la rue qui lui convient
réduit les distances et approche le port
défait la topographie
recompose la ville
sans perdre de vue
la mer et la ligne d'horizon
Um marinheiro e o Recife
Indiferente
à verdade e à fantasia
ao traçado do primeiro
e do último arquiteto
à lógica que não seja
a do olho e do tato
ao amor louco dos bêbados ansiosos
e à auto-flagelação dos ressacados
ao deslumbramento do turista aprendiz de hoje
e à lamentosa tortura dos passadistas
à complacência dos podres poderes
e à penitência dos pobres beatos
um marinheiro
pinta para si mesmo
a rua que lhe convém
diminui distâncias e aproxima o porto
desmancha a topografia
recompõe a cidade
sem perder de vista
o mar e a linha do horizonte
Vitupérations
je ne suis pas un poète de patries et de patios
lentement avec l'autel de la poésie,
poète. la muse peut être de terre glaise
mot, oiseau qui vole et va à l’aventure
vacarme qui va et vient heureux
je répands ma joie et ma douleur
je crie et braille les mots interdits
vitupérations que l'oppression impose
entrant dans la débauche aux pieds du Dieu censeur
je suis un sorcier poursuivant des maîtrises
je vais à la recherche de mon proust perdu
Impropérios
não sou poeta de pátrias e pátios
devagar com o andor da poesia,
poeta, a musa pode ser de barro
palavra, ave que voa e vai à toa
toada que vai e vem numa boa
espalho minha alegria e minha dor
grito e berro as palavras proibidas
impropérios que a opressão impõe
debochando nos pés do deus censor
sou um bruxo em meta de mestrados
vou em busca do meu proust perdido
Página publicada em junho de 2011; ampliada em fevereiro de 2016
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