PAULO GONÇALVES DE ARRUDA
(Recife/PE, 05/01/1873 - 08/05/1900)
poeta e jornalista. É patrono da Cadeira nº 19 da Academia Pernambucana de Letras. Foi considerado pela crítica da época um grande sonetista. Organizou conjuntamente com França Pereira e Teotônio Freire a Revista Contemporânea. Deixou inédito um livro de poemas intitulado “Nelumbos”.
SONETOS. v.2.Jaboatão dos Guararapes, PE: Editora Guararapes EGM, s.d. 151 - 310 p. 16,5 x 11 cm. ilus. col. Editor: Edson Guedes de Moraes. Inclui 171 sonetos de uma centena de poetas brasileiros e portugueses. Ex. bibl. Antonio Miranda
DESESPERO
Basta, Senhor! O bárbaro castigo
Que me infliges, não é castigo, é morte;
Não me aparece de um Deus clemente e forte
Mas de um mortal e acérrimo inimigo!
Vês? Arquejo de dor, arquejo e sigo
Sem conforto, sem fé, triste e sem norte;
Sem, como tu, achar um braço amigo
Que essa cruz ao Calvário me transporte!
Basta! Ao menos suavizar a angústia intensa
Que eu levo a errar por essa estrada imensa
No desespero eterno de um precito;
Que não me arranque mais tão cruelmente
Pedaços da alma o látego candente
Desse amor infernal, atroz, maldito!
COVARDIA
Sombra que adoro, e temo, e osculo, e odeio,
Fugir-te ao encontro embalde aspiro e tento...
Se bem longe és de mim, neste momento.
Toda escárnio sorris dentro em meu seio.
Quando te foste, eu te disse e até jurei-o
Eterno adeus de eterno esquecimento.
Mas bem longe és agora e é meu tormento
Maior, ver-me de ti somente cheio.
Quero esquecer e mais te anseio e vejo.
Sinto que me feriste cruelmente;
Resisto e sofro, luto e te desejo;
E a alma assim, nesta luta, se me exala;
Morro sorrindo, aos poucos, lentamente;
Morro beijando a mão que me apunhala!
Página publicada em novembro de 2019
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