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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

NUNO GONÇALVES

 

 

Nasceu em Recife, mas se considera cearense. Publicou os livros de poesia: Cacos de Cristo, O sol e a maldição, Cartas de navegação e Calabouço de reticências ou a aridez do oceano. De prosa: O rio das onças.

 

Recebeu o Prêmio Ideal de Literatura com o conto O caminho da novena e com o poema O canto do anjo vermelho.

 

Graduado em história pela UECE, mestre – na mesma disciplina – pela UFC & doutor em Estudios Latinoamericanos pela Universidad Autónoma de Méxido - UNAM. É professor de história da América na UFRB, e o pai de Marialice.

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS   -   TEXTOS EN ESPAÑOL

 

 

 

Os três poemas em seguida foram publicados no livro Cartas de navegação:

 

 

homem de água ou antigo testamento

 

Santiago veio aqui.

Inês também.

E Akin.

Os três lhe procuravam.

Você não estava.

Eles se foram e os grilos ficaram.

São muitos.

Acho que foram eles que espantaram a esperança verde da nossa cozinha.

Ou ela morreu.

Ou ela partiu.

Dizem que os grilos trazem sorte.

Dizem que os chineses comem grilos fritos.

Na dúvida comecei a ler um romance oriental.

Ele me trouxe uma tempestade de areia tão fina que parecia grãos de ossos moídos.

Açoitou minha pele.

Me trouxe memórias ruins.

Turvou minha visão.

Mas não apagou o verde que eu trouxe da viagem.

Não dissolveu o sal que veio comigo.

Nem me fez esquecer o sonho em que eu despertava entre afegãos.

Onde é que fica Pasárgada?

Do outro lado da muralha.

Lá eu sou amigo do rei.     

Seu nome: Hamurabi.

São suas as moças que acariciam os cabelos dos meus dois demônios.

Onde é que fica a passagem que nos leva ao outro lado da muralha?

Depois da tempestade.

Em Pasárgada deve haver justiça.

Amor sem crueldade, amor sem escrotidão.

Em Pasárgada deve haver justiça.

Será essa a sorte que trazem os grilos?      

Tapetes ao chão.

Procissão de zumbis.

Caminhamos todos ao altar onde se venera a justiça.

Rogando por uma paz que não seja submissão.

Amém.

 

 

 

maturi

 

Escreveu o próprio testamento e foi viajar.

Deixou o verde do mar entranhar mais dentro do que todas as vezes.

Tão dentro que parecia fora.

Reencontrou uma amiga depois de anos.     

Não disse que ela estava igual.

Não disse que ela estava linda.

Não disse nada além de um hola.

Ela estava de passagem.

Ele era demasiado tímido.        

Rasgaram com as mãos uma folha seca de cajueiro:

em mil pedaços.

Armaram sem pressa o quebra-cabeças:

enquanto o chá cozinhava

enquanto se acendiam as velas.

Apesar de não ter dito pensou:

¡hermosa!

Estamos todos de passagem.

Nos desfazendo do que não nos pertence.      

Não foi a única amiga que reencontrou.

Houve outra.

Que dividiu tantinho da água do seu mar com o rio dele.

E que com a ponta do dedo untou com sal sua língua.

Houve outra.

Que o ensinou sobre como abraçar quando o abraço pode ser o último.

Sobre como abraçar quem há demasiado tempo não se abraçava.

Houve outra que o chamou à calçada

e lhe segredou umas faísquinhas de estrelas provavelmente já mortas.
O tempo não alcançou a chegança das faisquinhas das por nascer.

Houve outra que lhe chamou amigo e lhe disse:

Estamos jovens lindos e felizes.

Houve outra que também estava apressada e se dizia cansada.

Deixou em suas mãos seu filho e foi estirar o espinhaço.

O testamento adquiriu a forma de romance.

Toda forma expressa diretamente contradições insolúveis do cotidiano.

Todo testamento é uma maneira arbitrária de dar cabo das muriçocas infernais.

Se existir outra coisa depois

já se tratará de outra coisa.

Quem assim o disse trazia olhos e aura de gente renascida.

Uma viagem é só uma viagem e nada mais.

Uma maneira de ser verde.

Uma maneira de ser sal.          

Uma maneira de – sem deixar de ser rude – deixar-se afagar.

Uma maneira de – sem deixar de ser dor – tear com precisão e delicadeza a teia da beleza.

Uma maneira de esquecer todas as vezes que a morte lhe alcançou o calcanhar.

Uma maneira de ensinar Maria

a não esquecer de regar as flores

nascidas no mausoléu

(outrora revestido de azulejos azuis)

onde repousam nossos ancestrais.

Os fantasmas devoram maturis em seus aniversários.

Eles sim sabem que todo reencontro é só uma forma da despedida.

E que é necessário celebrar toda e qualquer despedida.

 

 

 

semblanza de mi abuelo

 

hoje, ainda mais que sempre, sua voz em minha voz sussurra

sua alegria, em minha garganta, como um gigante azul desperta

suas mãos trêmulas já nas minhas reverberam

seu canto rouco em meus gestos loucos reencarna

hoje, ainda mais que sempre, sei que fui seu último sonho e pesadelo

sua última tempestade e criação

tão bem recordo suas sentenças sobre a morte

seu hálito de amor e cachaça coagulada

sua saudade exposta às vésperas sobre a mesa:    

a cidade desaparecendo

as pessoas desaparecendo

os sentidos aturdidos

e o tempo apodrecendo à luz das lamparinas mortas       hoje, ainda mais que sempre, pressinto teu olhar pousando sobre minha filha

teus rancores corroendo a vastidão oferecida

e a desmedida do remorso incauto

abarcando com suas asas torpes

as fronteiras acesas de nossa imensidão

hoje, mais que nunca, o vento me traz tua imagem bíblica

faróis insanos, turbulentos mares

em meu peito segue a arder tua velha insígnia

e como as bestas do zodíaco alquímico

transfiguro-me e me dissolvo

em teu apocalipse: meu gênesis,

meu infeccionado chão.

 

 

 

desapontamento antibiográfico IV: a queda do céu, gente com buraco no peito & escadas para o nada

 

Quando abri os olhos

já era tarde:          

o céu já havia caído

e o buraco já estava lá

– cinzas, ossos, perfume & seda –

era tudo que restava        

um rio calado, uma cidade enfadada

– cílios de arame farpado –      

na boca até o mel sabendo a amargo...

quando abri os olhos

os mortos já estavam mortos

o fogo já em estado fátuo

– alma tem tempo próprio

se demora pra assentar coisas de dentro

limpar os trastes, arrumar a casa

se desfazer das tranqueiras

jogar fora o lixo acumulado nas entranhas        

– alma vive longe

é o jardim que floresce quando machucado...

quando abri os olhos

esses cílios de arame farpado já estavam aqui

– cinzas, ossos, perfume & seda –era tudo que restava

onça ainda cantava

pedra ainda ensinava

e distante daqui,

bem distante

corria um rio que ainda marulhava

respirava uma cidade que ainda dançava

&

o céu já tivesse caído

e o buraco no peito fosse irremediável

havia um menino que paria borboletas

tinha na pele todas as idades

e insistia em brincar de

– com escaravelhos & estrelas –

construir escadas

que

invariavelmente

levariam outra vez

ao nada de sempre...

 

 

 

o canto do anjo vermelho

 

um blues esfarinha os ossos da saudade

 

apenas o temor me abriga

nessa noite sem esperança

 

onde estão as mulheres-verdes ?

onde estão as mulheres-algas ?

onde está o gibão anti-radioativo

                 para desarmar a cabeça-dinamite do século ?

 

a estrada tem fome

talhos & atalhos para os príncipes da paranóia

: são dez e cinqüenta e quatro

, posso morrer confortado pela ausência de olhares

 

estou em casa, meu sono está morto

& as mentiras soterradas em minhas unhas

um blues é um atalho

para a sobrevivência ou o esquecimento

 

o amor é a violência do assassinato

o desespero é o sangue do misticismo

assim como a noite é a estrela da fuga

& o escuro um daimon arcaico

 

há dias que estou em transe

aspirando o álcool prostituído dos postos de combustível

dirigindo meus sonhos no interior da valise das caveiras

& ruminando essas digitais impressões minerais

 

há anos que estou amedrontado

& nenhum raio me guia para nenhum território pacífico

ainda posso suicidar este corpo que não me pertence

mas prometi ao deus dos espelhos que não o faria

 

descobri essa arma enterrada nas cinzas de meus pulmões

morrerei como uma coruja que antes do parto tratou de profetizar sua própria morte

ou como um galo que pela manhã canta o velho sol esquecido

 

em minhas veias nenhuma morfina foi encontrada

                            nenhum metal precioso ou equivalente

em minhas veias foi encontrada a ira & a herança

                                                    a covardia e a nudez de um anjo     

 

o mar se curva perante a aurora

no altar de meus pesadelos

só há agora pecados & automóveis

& a poeira das vestes desfiguradas

 

ruge a sombra ruge a fera

ruge o sino assombroso da catedral

nunca serei fuzilado

a menos que o crepúsculo se instale no coração do meio-dia

 

meus braços foram criados para empunhar pás de areia

                                            para enterrar entes queridos

& se meu hálito recende à cachaça

isso é melhor que não ter hálito nenhum

 

espectros de caleidoscópios girando entre ressentidas estrelas

qual os ponteiros de um relógio fúnebre

                            ou de um mirar vazio no horizonte

assim é a vida: sina de telefone que toca insistentemente sem que ninguém atenda   

 

nos andes o frio me aguarda

sóbrio & sombrio como uma língua desconhecida

em busca de um beijo ou da garganta aberta do inimigo

somos todos a suavidade de um deus que dança

– escatológicos signos de uma relva que amanhece –

antes mesmo de nascer

 

 

 

medo das águas II

 

suas barbas de netuno, sua eterna tranqüilidade

chegando até minha casa através de um sonho

convivendo com bicicletas, espaguetes e cartazes de proibido fumar

com duas meninas gêmeas e peças de artesanato expostas

numa bela ilha no sul da manhã

suas barbas de netuno, sua aparente tranqüilidade

chegando até mim nas areias do deserto

arrastada pelos ventos delírios

convivendo com os besouros que coleciono na caixa de fósforos

e com meus velhos sapatos negros

 

fostes também um andarilho

mas voltastes para morrer em casa

na curva que liga nossa aldeia ao mar

às águas salgadas

aos sonhos, aos delírios, à espuma

que as asas agora te sirvam

nessa longa travessia

decisiva jornada

 

ficarei com suas barbas de netuno

sua eterna e aparente tranquilidade

com meus besouros, meus sapatos & meus sonhos

sem o medo da morte que nos espreita atrás da árvore

na curva que nos separa de nossa aldeia

na curva que nos separa das águas salgadas do mar.

 

 

 

o silêncio dos sonhos

 

tudo que é aspira à morte

do que já foi ou vem-a-ser

tudo passa e nada é

as estações, o amor, as fábulas

o ódio, a ira, a raiva

murcharam as flores do mal

e os cânticos de Maldoror

morreu Rimbaud e a juventude

entre escravos e armas

entre escarros e almas

entre

veja minha casa, meu pasto

não há nada

desta pedra não se tira leite

este é o deserto, o esquecimento

este é o mistério

não querer mais, querendo

nada saber, sabendo

germinar na terra infértil

agir na hora imprópria

sonhar o silêncio que nos sonha

a invenção da roda

                  da fortuna

                           &

                  do destino

 

 

 

 

 

 

TEXTOS EN ESPAÑOL

Traducción de Jonh Galán

 

 

canto del ángel rojo

 

un blues desmorona los huesos de la nostalgia

 

apenas el temor me abriga

en esta noche sin esperanza

 

¿dónde están las mujeres-verdes ?

¿dónde están las mujeres-algas ?

¿dónde está el jubón anti-radioactivo

                 para desarmar la cabeza-dinamita del siglo ?

 

la carretera tiene hambre

tajos & atajos para los príncipes de la paranoia

: son las diez y cincuenta y cuatro

, puedo morir reconfortado por la ausencia de miradas

 

estoy en casa, mi sueño está muerto

& las mentiras enterradas en mis uñas

un blues es un atajo

para la supervivencia o el olvido

 

el amor es la violencia del asesinato

el desespero es la sangre del misticismo

así como la noche es la estrella de la fuga

& lo oscuro un daimon arcaico

 

hace días que estoy en trance

aspirando el alcohol prostituido de los puestos de combustible

dirigiendo mis sueños a las valijas de las calaveras

& rumiando estas digitales impresiones minerales

 

hace años que estoy amedrentado

& ningún rayo me guía hacia ningún territorio pacífico

aún puedo suicidar este cuerpo que no me pertenece

pero prometí al dios de los espejos que no lo haría

 

descubrí esta arma enterrada en las cenizas de mis pulmones

moriré como una bruja que antes del parto trató de profetizar su propia muerte

o como un gallo que por la mañana canta al viejo sol olvidado

 

en mis venas ninguna morfina fue encontrada

                            ningún metal precioso o equivalente

en mis venas fue encontrada la ira & la herencia

                                                    la cobardía y la desnudez de un ángel     

 

el mar se inclina ante la aurora

en el altar de mis pesadillas

sólo hay ahora pecados & automóviles

& el polvo de las vestiduras desfiguradas

 

ruge la sombra ruge la fiera

ruge la campana pasmosa de la catedral

nunca seré fusilado

a menos que el crepúsculo se instale en el corazón del mediodía

 

mis brazos fueron criados para empuñar palas de arena

                                            para enterrar seres queridos

& si mi aliento trasciende a cachaza

es mejor que no tener ningún aliento

 

espectros de caleidoscopios girando entre resentidas estrellas

cual las agujas de un reloj fúnebre

                            o de un mirar vacío en el horizonte

así es la vida: suerte de teléfono que suena insistente sin que nadie atienda   

 

en los andes el frío me aguarda

sobrio & sombrío como una lengua desconocida

en busca de un beso o de la garganta abierta del enemigo

somos todos la suavidad de un dios que danza

– signos escatológicos de una hierba que amanece –

aún antes de nacer

 

 

 

miedo de las aguas II

 

sus barbas de neptuno, su eterna tranquilidad

llegando hasta mi casa a través de un sueño

conviviendo con las bicicletas, espaguetis y letreros de prohibido fumar

con dos niñas gemelas y piezas de artesanía expuestas

en una bella isla al sur de la mañana

sus barbas de neptuno, su aparente tranquilidad

llegando hasta mí en las arenas del desierto

arrastrada por los vientos delirios

conviviendo con los abejorros que colecciono en una caja de fósforos

y con mis viejos zapatos negros

 

fuiste también un andariego

pero volviste para morir en casa

en la curva que une nuestra aldea al mar

a las aguas saladas                                    

a los sueños, a los delirios, a la espuma

que las alas ahora te sirvan

en esta larga travesía

decisiva jornada

 

me quedaré con sus barbas de neptuno

          con su eterna y aparente tranquilidad

con mis abejorros, mis zapatos & mis sueños

sin el miedo de la muerte que nos acecha tras el árbol

en la curva que nos separa de nuestra aldea

en la curva que nos separa de las aguas saladas del mar.

 

 

 

el silencio de los sueños

 

todo lo que es aspira a la muerte

de lo que ya fue o viene-a-ser

todo pasa y nada es

las estaciones, el amor, las fábulas

el odio, la ira, la rabia

se marchitaron las flores del mal

y los cantos de Maldoror

murió Rimbaud y la juventud

entre esclavos y armas

entre escupitajos y almas

entre

vea mi casa, mi césped

no hay nada

de esta piedra no se saca leche

éste es el desierto, el olvido

éste es el misterio

no querer más, queriendo

nada saber, sabiendo

germinar en tierra infértil

actuar en la hora impropia

soñar el silencio que nos sueña

la invención de la rueda

                    de la fortuna

                           &

                    del destino

 

 

 

 

Página publicada em janeiro de 2019


 

 

 
 
 
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