Foto: Thiago Lima e Jaqueline Sabino
NATANAEL LIMA JR.
Pernambucano de Cabo de Santo Agostinho, cidade da região metropolitana de Recife e radicado em Jaboatão dos Guararapes desde 1990. Livros de poesia: Clarear (Edições Pirata, 1982), Universo dos meus versos (Edições Grumete, 1985), dedicado aos 400 anos da Paraíba.
o poema
o poema é um réptil que sobrevoa
as criptas noturnas dos desejos
desassossega paixões
despovoa sentidos
desconstrói modelos
desregula normas
destitui ofícios
o poema prefere o deserto
e o silêncio árido da palavra
o tempo e o óbolo
Deixem-me só com meus botões
cegos, inválidos do tempo,
descasados das velhas togas
e do azinhavre das eruditas clâmides,
basta-me o tempo
e o seu crepuscular óbolo.
Sonata à Walt Whitman
A tarde anuncia um silêncio ardente,
prelúdio de orgias febris,
Teu corpo, sonata de desejos,
estendido por ruas e becos,
oráculos e deuses profanos.
Extasiado, visgo teus olhos
ao invés de ganir
na imensidão do vazio.
De
LIMA Jr., Natanael. À espera do último girassol & outros poemas. Recife: Bagaço, 2011. 103 p. ilus. ISBN 978-85-373-0874-5 autografado
Elegia às coisas que faço
(sobre tema de Mário Quintana)
no poema que me traço
ameaço e abraço
torturo e afago
às vezes me faço místico
e às vezes me faço louco
às vezes me faço coisas
restos
migalhas
lembranças
às vezes as coisas fazem
renascem
brotam
ressurgem
no poema que me traço
eternamente me busco
passo a passo
frente a frente
lentamente
no poema que me traço
todas as coisas
um dia existirão
setembro/2010
Poema a céu aberto
As noites passam ávidas.
Por vezes,
levianas, desregradas.
Algumas revelam
sombrias angústias
algemadas por paixões dissolventes.
Noutras se revelam
pálidas, tímidas.
Por vezes as desejo
obscenas, insanas,
dominadoras, cruéis.
E quando a noite cessa,
o poema se revela
a céu aberto.
maio/2010
Premonição
A cidade aflita deixa existir:
o caos, o medo, o pânico
em mim.
O medo prometeu
embora (ainda) acorrentado
transgredir o fim.
Página publicada em dezembro de 2011; ampliada em julho de 2017
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