MONTEZ MAGNO
Montez Magno (Timbaúba, 1934) é um pintor, escultor, escritor e ilustrador brasileiro.
Estudou desenho e pintura, entre 1953 e 1966. Em 1957, realizou sua primeira exposição individual no Instituto dos Arquitetos do Brasil, em Recife. A partir de 1960, publicou artigos e pesquisas sobre arte em jornais brasileiros. Tornou-se bolsista do Instituto de Cultura Hispânica entre 1963 e 1964, o que lhe permitiu viajar por vários países da Europa. Com o prêmio recebido no I Salão Global do Nordeste, viajou para Europa e Argélia, a estudos, em 1975. De volta ao Brasil, lecionou escultura na Universidade Federal da Paraíba. Ilustrou o livro O Diabo na Noite de Natal, de Osman Lins, e vários livros de sua própria autoria.
Fonte da biografia: Wikipédia
De
DIWÂN DE CASA FORTE
Recife: M&M Editor, 1992.
CASIDA n. 2 – RECUERDOS DE ANDALUZIA
De Alhambra o pátio andaluz e mouro,
nos muros a sombra de Ibn Zamrak,
versos de ouro gravados sobre as pedras
granadinas guardando o seu tesouro.
Onda recolhidas, tantas miragens,
nuvens de recolhos, imagens de cobre,
vizinha formas de sonho, o céu cobalto
forra tudo que foi e hoje retorna.
Ocre o que se viu alicerçado
em terra estranha pero de origen
que lhe distinguira a pátria Espanha:
Lorca iluminando calles e calzadas
como um fantasma rebelde de Granada.
(1985)
CASIDA n. 7 – NA JUVENTUDE A GLÓRIA
Ecos da juventude,
nos olhos simples lembranças:
gestos leves, a fibra nova,
e a certeza do eterno agora.
Nunca a árvore que perdeu os ramos
nem o verde que deixou as folhas,
mas o que vive o momento breve
celebra a juventude e a sua glória.
(1985)
CASIDA n. 10 – CANTARA APENAS
Cantara apenas a glória de viver
e tinha já o coração doente pelo tempo.
O que lhe diziam — agora é que sabia —
era balão furado, o sopro era vazio.
O futuro, flor que nunca se abre,
não lhe dizia respeito, ao menos
nunca o tivera em seus joelhos
mesmo quando as horas passavam
diante dos seus olhos sem viseiras.
Lembrava-se que um dia fora pego
caminhando sem luz como um deus cego.
(1986)
GAZEL n. 2 – O SOL É PERDULÁRIO
Tempo de amor que se rejubila,
fonte do prazer que se aniquila.
Petardo a explodir já programado:
eis o tempo: enganador dos enganados.
Mas o que esperam os jovens tão seguros?
Antes de saber a morte já é futuro.
Também o sol é astro perdulário —
por isso “nada de novo” é o seu receituário.
Não deixes o tempo ser o teu proprietário:
muda de corpo a cada horário.
RUBAI n. 20 – OMAR KHÁYYÁM
Tão rápidos como a água do rio
ou o vento do deserto, os dias passam.
Dois deles, todavia, deixam-me indiferente:
o que se foi ontem e o que virá amanhã.
MAGNO, Montez. Norkosis. 2ª. Edição. Olinda, PE: Casa das Crianças, 1981. 55 p. ilus. sobrecapa. Tiragem: 500 exs. Errata no final do livro.“ Montez Magno “ Ex. bibl. Zenilton de Jesus Gayoso Miranda
CINCO MOMENTOS DE UM PÁSSARO NOTURNO
(2)
Só dos rigores da mente a alma desconfia.
Prende-se à razão o corpo empenhado
em percorrer a sua trajetória física,
no transcurso solar, enquanto é dia.
Chegada a noite, que livre aventura
reserva a alma em seu trajeto curvo?
Ora, se da mente a alma tem suspeita
por rigores que a razão quase supera,
então, logo se vê, cabe a ela apenas
soltar-se em voo largo e noturno,
assim livrando-se dos tições do dia.
É condição para isso, que a alma decidida,
de acordo com a sua envergadura,
rompa os limites próprios, amplie
a extensão do espaço em que respira.
Se nele não demora, não lhe assiste
estranhar, mas saber ao que aspira.
POEMA PEDREGOSO
A João Cabral de Melo Neto
O que diz do verso o seu reverso,
áspero duplo na véspera do pulo
cabral nos cortes desertos da caatinga
é igual ao que se diz do seixo
roliço e uniforme no trajeto
que faz do rio ao seu local
de repouso, dormida provisória.
O que se diz do rio é o mesmo fecho
varal que se desdobra na restinga
sóbria, solar e promissória.
O solo sofre e cospe a pedra que demora.
Se os rios correm simples e ausentes
sem cuidados com quem está presente
a nós caberá não seguir tal exemplo
dizendo: o que pensamos são águas de um momento
fugaz, transitórias como o próprio tempo.
Por isso há de se ver que os rios correm simplesmente
sem notar que alguém está às suas margens
e as águas que passaram um dia, anónimas e silentes
não voltarão jamais do leito permanente
como nós que passamos uma vez somente
pela vida e a perdemos para sempre.
POESIA SEMPRE –No. 32 – Ano 16 – 2009. Poesia contemporânea do Irã. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2009. Editor: Marco Lucchesi. Capa: Rita Soliéri Brandti. ISSN 9770104062006. Ex. bibl. Antonio Miranda.
Buraco negro
Visto de cima o mundo é pouco,
pequeno grão rodando à-toa
sugado por um ralo vil agudo
por onde o universo escoa,
negro buraco e devorar tudo.
Escrínio
Vislumbro em teu corpo
a beleza dos ossos
de complexa arquitetura
finalmente escondidos
em uma caixa de metal.
24.01.2007
Pisalmo
Só Deus sabe o meu cálculo,
a minha prece feita em números.
O que peço é nada,
uma vida inteira na rede
conectado com o mundo,
contando os dias sem fim.
Página publicada em novembro de 2008; página ampliada e republicada em maio de 2015. Ampliada em julho de 2019.
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