|   MEDEIROS E ALBUQUERQUE(1867-1934)
 José Joaquim de Campos da  Costa de Medeiros e Albuquerque (Recife, 4 de setembro de 1867 — Rio de  Janeiro, 9 de junho de 1934) foi um funcionário público, jornalista, professor,  político, contista, poeta, orador, romancista, teatrólogo, ensaísta e  memorialista brasileiro. Filho de José Joaquim de Campos de Medeiros e  Albuquerque. É o autor da letra do Hino  da República. Na imprensa, escreveu também sob os pseudônimos Armando Quevedo,  Atásius Noll, J. dos Santos, Max, Rifiúfio Singapura. Membro da Academia das  Ciências de Lisboa. Em 1896 e 1897, compareceu  às sessões preliminares de instalação da Academia Brasileira de Letras. É o  fundador da Cadeira número 22, que tem como patrono José Bonifácio, o Moço.   
                        
                          
                            
                               TEXTO EN ITALIANO    A VEREDA
 Ai das estradas onde a  populaça
 Vai e vem no incessante borborinho.
 Cada qual vai seguindo o seu caminho,
 Ninguém lhe nota a suavidade e a graça.
 
 Mais vale ser o anônimo caminho
 Que o olha das multidões nunca devassa
 E cujo encanto atrai quem nele passa,
 E se demora quando vem, sozinho.
 
 Eu sou a Estrada larga e petulante
 De gente, onde se vê, a cada instante,
 Todo um tumulto vão de estranhas faces.
 
 Antes eu fosse uma vereda aberta
 Na mata — e quase sempre erma e deserta,
 Por cuja sombra — tu somente andasses.
 
   ILUSÕES 
 Velas fugindo pelo mar em fora… Velas…pontos - depois … depois vazia a curva azul do mar onde, sonora, canta do vento a triste psalmodia…   Partem pandas e brancas… Vem a aurora e vem a noite após, muda e sombria… E, se em porto distante a frota ancora, é p’ra partir de novo em outro dia…   Assim as Ilusões. Chegam, garbosas, palpitam sonhos, desabrocham rosas na esteira azul das peregrinas frotas…   Chegam… Ancoram ‘alma um só momento; logo, as velas abrindo, amplas ao vento, fogem p’ra longe solidões remotas   
 QUESTÃO DA ESTÉTICA 
 Eu assistia à eterna discussão de uns que querem a Forma e outros a Idéia, mas a minh'alma, inteiramente alheia cismava numa íntima visão.    Cismava em ti... Pensava na expressão do teu lânguido olhar, que em nós ateia um rasto de volúpia e em cada veia coa as lavas ardentes da paixão.    Pensava no teu corpo, maravilha como igual certamente outra não brilha, e lembrei - argumento capital -    que não tens, animando-te o portento da imperecível Forma triunfal, nem um nobre e sublime pensamento!    (Pecados, 1889.)     ARTISTAS   Senhora, eu não conheço a frase almiscarada dos formosos galãs que vão aos teus salões nem conheço também a trama complicada que envolve, que seduz e prende os  corações...    Sei que Talma dizia aos juvenis atores que o Sentimento é mau, se é verdadeiro e  são... e quem menos sentir os ódios e os rancores mais pode simular das almas a paixão.    E, por isto talvez, eu, que não sou  artista, nem nestes versos meus posso infundir  calor, desvio-me de ti, fujo de tua vista, porque não sei dizer-te o meu imenso amor.    (Pecados, 1889.)     VERSOS DIFÍCEIS   Faço e desfaço... A Idéia mal domada o cárcere da Forma foge e evita. Breve, na folha tanta vez riscada palavra alguma caberá escrita...    E terás tu, ó minha doce amada, o decisivo nome da bendita companheira formosa e delicada a quem minh'alma tanto busca, aflita?    Não sei... Há muito a febre me consome de achar a Forma e conhecer o nome da que a meus dias reservou o fado.    E hei de ver, quando saiba, triunfante, o verso bom, a verdadeira amante, - a folha: cheia, - o coração: cansado!    (Pecados, 1889.)
     HINO À PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA   Letra de: Medeiros e Albuquerque Música de: Leopoldo Augusto Miguez   (Publicado no Diário Oficial de 21/01/1890)   Seja um pálio de luz desdobrado, Sob a larga amplidão destes céus. Este canto rebel, que o passado Vem remir dos mais torpes labéus!   Seja um hino de glória que fale De esperanças de um novo porvir! Com visões de triunfos embale Quem por ele lutando surgir!   Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós, Das lutas na tempestade Dá que ouçamos tua voz   Nós nem cremos que escravos outrora Tenha havido em tão nobre País... Hoje o rubro lampejo da aurora Acha irmãos, não tiranos hostis.   Somos todos iguais! Ao futuro Saberemos, unidos, levar Nosso augusto estandarte que, puro, Brilha, ovante, da Pátria no altar !   Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós, Das lutas na tempestade Dá que ouçamos tua voz   Se é mister que de peitos valentes Haja sangue em nosso pendão, Sangue vivo do herói Tiradentes Batizou neste audaz pavilhão!   Mensageiro de paz, paz queremos, É de amor nossa força e poder, Mas da guerra, nos transes supremos Heis de ver-nos lutar e vencer!   Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós, Das lutas na tempestade Dá que ouçamos tua voz   Do Ipiranga é preciso que o brado Seja um grito soberbo de fé! O Brasil já surgiu libertado, Sobre as púrpuras régias de pé.   Eia, pois, brasileiros avante! Verdes louros colhamos louçãos! Seja o nosso País triunfante, Livre terra de livres irmãos!   Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós! Das lutas na tempestade Dá que ouçamos tua voz!     Metadado:  Metapoesia : Poema “Questão da Estética”.       ALBUQUERQUE, Menezes e.  Poesias  – edição definitiva (1885-1901): Canções  da decadencia – Peccados – Ultimos versos.    Rio de Janeiro: H. Garnier, Livreiro Editor, 1905 p.  206 p.   12x18,5 cm.  Col. A.M.  (OR)     VERDADE   Como si pelo azul rolara decepada  uma cabeça enorme, ensanguentada e loura,  lentamente no mar, cuja amplidão redoura,  atufa-se do sol a esphera abrazeada.   E, como colossal e rúbida granada  mancha de sangue o campo onde, ao cahir, estoura  ella — ao baixar do oceano á curva rugidora —  de vermelho macula a abobada azulada.   Então, si a noite estende o crepe funerário  sem do sol recordar que o rubro lampadário  ha de, em breve, o romper com vivos arrebóes,   eu penso — ao ver a lucta assim dos elementos —  que a Verdade também se occulïa por momentos;   mas com brilho maior nos iUumina: após.,.                                                                                   Lisboa.     QUANDO EU FOR DOIDO   Eu sinto que a Razão em mim, ás vezes,  como um ébrio sem forças, cambaleia,  e, nas trevas da Insânia, que tacteia,            busca e não acha a luz.   E minh'alma confrange-se tremente,  como creança lívida e assustada,  porque lhe falta a vastidão rasgada            dos amplos céos azujes!   E eu vos quero pedir, a vós, carrascos,  que heis de — quando checar o triste dia  querer me dar a lúgubre enxovia            de um hospício qualquer,   que me deixeis, ao menos, nesse transe,  afinal, a suprema liberdade  de, em pleno sol, em plena claridade,                      como  um doido — morrer! 
   TEXTO EN ITALIANO    Extraído de MIRAGLIA, Tolentino.  Piccola Antologia poetica brasiliana.  Versioni.  São Paulo: Livraria Nobel, 1955.  164 p.   Ex. bibl. Antonio Miranda   IL SENTIERO Ah!  della strada dove il popolinoVa e viene, in continua ciarleria,
 Ognuno va, secondo il suo cammino,
 Senza nessuna grazia o cortesía.
 Più vale esser l’anonimo cammino,Dove la moltitudine no sai;
 Dove l’incantoa attrae il pellegrino
 E ache da sol riveve la magia.
 Io sons trada larga pullulanteDi gente, ove si nota, ad ogn’instante,
 Degli estranhei semblante, i vani chiassi.
 Meglio s’io fosse quel sentiero apertoNel bosco-ssquasi sempre ermo e deserto —
 E nei quale tu sola camminassi...
                                TEXTES EN FRANÇAIS   PUJOL,  Hypolyte.  Anthologie Poètes Brésiliens. Preface  de M. de Oliverira Lima.    S. Paulo:  1912.  223 p.       Ex. bibl. Antonio Miranda                         SILENCE                              Il  s´en plaignit, il en parla :J´en connais de plus misérables !
 JOB. BENSERADE
 
 O malherreux, tais-toi. Quel que soit le tourment
 Qui  déchire en secret ton âme triste et fière,
 Garde-le  bien au fond, sans un gémissement,
 Sans  un gémissement, sans une plainte amère !
 
 Quelque  bien au fond, sans un gémissement,
 Sans  un gémissement, sans une plainte amère !
 
 Quelque  sanglant que soit la plaie de ton cœur,
 Ne  révèle jamais, trop plein de confiance,
 De  ton amour trahi la suprême douleur :
 Ne  prostitue point ton intime souffrance !
 
 Non,  il n´est point de Pleur, non, point de Verbe humain
 Capable  d´exprimer l´amertume sans fin
 D´un  grand cœur trahi que l´ingrat tude accable.
 
 Il  n´est rien d´aussi noble et de plus admirable
 Que  de voir, concentré dans sa morne douleur,
 En  silence, un mortel supporter son malheur !
 
           ILLUSIONS
 Des voiles s´enfuyant, fuyant, en plaine mer…
 Des  voiles… des points… puis… sur la plaine liquide
 Rien,  plus rien si ce n´est la courbe d´azur clair
 Où le vent vient gémir sa psalmodie humide…
 
 Toute  blanches, aux vents arrondissant leur sein,
 Elles  s´en vont ; et, sans laisser de trace encore,
 Quand  la flotte surgit un jour au port lointain,
 C´est  pou fuir de nouveau dès la première aurore…
 
 Tel  est, hélas ! le sort de nos Illusions
 Toutes  pleines de grâce et les avant-courrières
 De  rêves palpitants, en mille éclosions
 De  roses autour des flottes aventurières…
 
 Les  voici… Dans notre âme elles ont un moment
 Jeté  leur ancre ; mais, en routes incertaines,
 Soudain  elles s´en vont sur les ailes du vent,
 S´enfuyant  vers les bords de régions lointaines..
 
                     TROVAS 4 - [Seleção de Edson Guedes de Morais]  Jaboatão  dos GuArarapes, PE: Editora Guararapes EGM, 2013.  5 v.   17x12 cm.  edição artesanal, capa  plástica e espiralada.  Ex. bibl. Antonio Miranda
 
 
 
 
      *
 VEJA e LEIA outros poetas TROVADORES em NOSSO PORTAL:
   www.antoniomiranda.com.br/Trovas/trovas_index.html     +     Página  ampliada em maio de 2023   *  Página publicada em janeiro  de 2023 
 
       Página publicada em  janeiro de 2009; ampliada em dezembro de 2015. 
 |