MÁRIO HÉLIO
Mário Hélio foi o vencedor, em 1982, do Concurso Literário Cidade do Recife, na categoria poesia, com lívrório/opuszero, publicado em 1985, como separata da revista Arrecifes, do Conselho Municipal de Cultura,que lhe concedeu o PrÊmio Eugênio Coimbra Júnior pela obra. É jornalista e editor. Publicou, além do livrórió, O Recife melhor do que Paris, O Brasil de Gilberto Freyre e Cícero Dias - uma vida pela pintura. Foi o criador e ex-editor da revista Continente, da Companhia Editora de Pernambuco, e também criou e edita a revista Massangana, da Fundação Joaquim Nabuco. Foi editor do Suplemento Cultural do Diário Oficial de Pernambuco, repórter e editor do Suplemento JC Cultural, do Jornal do Commercio e repóter especial e colunista do Diario de Pernambuco. Atualmente, é o coordenador-geral da Editora Massangana da Fundação Joaquim Nabuco.
FOLHA E FLOR
espétala iridesce a face quieta
da manhã, como flama a folha espoca
os milagres da luz, o risco, a seta
que aviva o lume livre à flor da boca
da noite em arco alvo a flor secreta.
secreta ou mais exposta a flor escolha
boca que bebe as letras, como vinho
seta de chuva e sol que rega, molha
espoca verso a verso, em desalinho
quieta face a luz que lambe a folha
folha banhada em chuva, uma floresta
desalinho de fauna e flora, a chuva
molha árvore a árvore e desembesta
vinho talvez demais, incêndio de uva
escolha a língua, a boca, para festa.
festa e dança da chuva incendiada
uva brasa que ardendo essa torrente
desembesta a floresta na enxurrada
chuva, sim, folha, flor, caule, semente
floresta, mato, planta, flor aguada
aguada ou água forte, ou aquarela
semente de água-viva, urtiga brava
enxurrada que fechabre janela
torrente arroio rosto ardente lava
incendiada toca, acende, mela
mela a casa de terra e de água sândalo
lava a casa depois, abre a cortina,
janela escancarada por ar vândalo
brava planta penetra a casa e assina
aquarela tão luz que quase escândalo
escândalo de flor quando se alteia
assina a espuma nimbo, alísio, grito
vândalo beijo assim quando colméia
cortina brisa aroma, incenso, rito,
sândalo, rosa, loto, um corpo: almeia.
almeia ou gueixa, huri ou hetaíra
rito o mesmo: domar, tomar a selva,
colméia acesa sempre, como pira
grito de fogo rente à flor de relva
alteia cada folha e se retira
retira cada folha ao sol exposto
relva rente na mão, e a terra nua,
pira acesa de mel ou malte ou mosto
selva espessa banhada pela lua
hetaíra de tanto amor e rosto
rosto banhado em leite de almatéia
lua embebida em vinho, ingirtu, mel
mosto, moli, ambrósia, a mesma ceia
nua de um deus embebe este papel
exposto letra a letra e a quem mais leia
leia o que está escrito, e o que se oculta
papel ou via-láctea, o mesmo ta(n)to
ceia onde acabe a flor e cabe a fruta
mel para o rosto, e mão para esse ma(n)to
almatéia, hélicon, floresta e gruta...
Poemas extraídos de STEREO INVENÇÃO RECIFE coletânea poética 2. Recife: Prefeitura do Recife, Secretaria de Cultura, Fundação de Cultura, 2004.
Página publicada em agosto de 2010
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