MARIA DO CARMO BARRETO CAMPELLO DE MELO
Maria do Carmo Barreto Campello de Melo figura entre as mais importantes poetisas pernambucanas contemporâneas. Passou a infância no engenho da Torre, cujo terreno deu origem ao atual bairro da Torre, no Recife..
Bacharel em Letras Clássicas e Licenciada em Didática de Letras Clássicas pela Faculdade de Filosofia do Recife, e pós-graduada com os Cursos de Especialização e de Aperfeiçoamento em Literatura e Língua Portuguesa, pela UFPE.
É pernambucana. Iniciou a sua carreira poética publicando poemas no Diário da Manhã e, posteriormente, com o apoio de Esmaragdo Marroquim, no Jomal do Commercio do Recife. Publicou, apartirde 1968, vários livros de poesia: Música do Silêncio (Os Símbolos — Os Sobreviventes— Ciclo de Solidão), Tempo Reinventado, Verdevida, Ser em Trânsito, Varadouro.
Recebeu o "Prêmio de Poesia Othon Bezerra de Mello" (Academia Brasileira de Letras — 1970); Menção honrosa do Prêmio Manuel Bandeira (Govemo do Estado, 1978).
Ocupa a Cadeira n° 22 da Academia Pernambucana de Letras.
A GAIOLA
E era a gaiola e era a vida era a gaiola
e era o muro a cerca e o preconceito
e era o filho a família e a aliança
e era a grade a fila e era o conceito
e era o relógio o horário o apontamento
e era o estatuto a lei e o mandamento
e a tabuleta dizendo é proibido.
E era a vida era o mundo e era a gaiola
e era a casa o nome a vestimenta
e era o imposto o aluguel a ferramenta
e era o orgulho e o coração fechado
e o sentimento trancado a cadeado.
E era o amor e o desamor e o medo de magoar
e eram os laços e o sinal de não passar.
E era a vida era a vida o mundo e a gaiola
e era a vida e a vida era a gaiola.
Extraído de POETAS DA RUA DO IMPERADOR. Recife: Pool, 1986. Coletânea em homenagem ao Dr. F. Pessoa de Queiroz e ao jornalista Esmaragdo Marroquim.
MELO, Maria do Carmo Barreto Campello de. Música do silêncio. 3º. momento. Recife, PE: Universidade Federal de Pernambuco, 1971. 75 p. 13,5x22 cm. Capa: Aluisio Braga. Ganhador do Concurso de Poesia da Academia Pernambucana de Letras 1970”. “ Maria do Carmo Barreto Campello de Melo “ ex. na bibl. Antonio Miranda
OS TRANSEUNTES
Os homens olham a cidade
com olhos de posse.
Os homens
acrescentam
modificam a cidade
concluem
como se fora coisa sua.
Os rios (sábios) passeiam
suas águas e tentam reter
a face que passa e
(só por algum tempo)
povoará a paisagem.
Os transeuntes
não sentem sua própria transitoriedade,
A carne perecível e frágil passeia
entre os edifícios tranquilos
e sólidos que se erguem e bebem o azul
no alto.
A terra guarda os passos deléveis
dos caminhantes
incônscios de sua brevidade
ante a permanência do chão
que pisam.
OS CONVIDADOS
Quem faz a festa são os Convidados.
A mesa posta as frutas as flores que
acorreram dos jardins não compõem o essencial
de que se tece a trama invisível do
Encontro.
Os Convidados é que fazem a festa.
Nas garrafas de cristal, o vinho à espera.
Até a música
— que ao teu gesto irromperia —
despedaçando o silêncio
apenas
povoausenciaria a anti-sala
que o amor não compôs.
Inúltimente acenderás as luzes:
— Quem faz a festa
são os Convidados.
Só o teu olhar ansioso que
aguarda a chegada
dos Amigos
é o pré/a/núncio da
Festa que virá
dentro de cada Convidado.
Página publicada em outubro de 2009. Ampliada e republicada em agosto de 2014.
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