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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto: http://www.cafecolombo.com.br

 

MARCO POLO GUIMARÃES

 

Marco Polo Guimarães ou simplesmente Marco Polo (Recife, 1948) é um jornalista, poeta, cantor e compositor brasileiro.

Integrou o banda musical Ave Sangria, nos anos 70.

Tem músicas gravadas por Ney Matogrosso, Elba Ramalho, Teca Calazans, Zezé Motta, entre outros.

Foi editor do Caderno de Cultura do Jornal do Commercio (Recife), do Suplemento Cultural do Diário Oficial de Pernambuco e da Revista Continente Multicultural

 

 

POESIA SEMPRE –No. 32 – Ano 16 – 2009. Poesia contemporânea do Irã.  Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2009.  Editor: Marco Lucchesi.  Capa: Rita Soliéri Brandti. ISSN 9770104062006. Ex. bibl. Antonio Miranda.

 

Irresistível ventania

De repente, uma aranha de ouro menstruada e bêbada de
dor ou delírio avança seu balé sobre o minério do papel,
deixando um rastro cor de rubi. E assim que se inicia o delinear
deste mapa de tesouros desenterrados e expostos em nudez e transparência, que é o desenho de Félix Farfan.
Outras figuras metálicas - formigas de prata, escorpiões
de bronze, baratas de alumínio, lagartas de estanho - também tracejam sobre o branco seus passos hesitantes, acrescentando longitudes e latitudes a esta cartografia mágica. E este território estranho começa a se mover, como a musculação de um grande animal que desperta.
Aqui irrompe uma fonte de jorro cristalizado num gesto
de espasmo: ali se estende a prancha ocre de uma ponte interrompida sobre o vácuo: acolá desce para o inesperado fundo desta superfície a escada espiralada feita de algum material não traduzível. Espaços se desdobram como portas que se abrem.
A oeste uma mulher lasciva entreabre docemente as coxas;
ao sul uma serpente incandescente perfura o gelo das trevas;
a leste uma sucessão de escudos de couro reflete o sol do meio-dia; ao norte há um imenso deserto de pedras.
E Farfan, este perdulário de mistérios, está tranquilamente, lentamente, pacientemente, minuciosamente do outro lado de tudo, sentado no chão, costurando um silêncio para nos dar de presente. Um silêncio impecável. Um silêncio feito do reverso das coisas.
Um silêncio pelo avesso.
Então, é como se depois de percorrer esta abundância de
signos, esta cornucopia de sentidos, esta opulência de símbolos,
esta pletora de cores, esta fertilidade de formas - diante de tanta
luz só nos restasse ficar mudos. Mas ainda assim seguindo a navegar numa irresistível ventania.
Não há como escapar. O desenho de Farfan é aventura.

 

 

Dança

Se a língua roxa se balança
Por dentro e por fora da boca
Dança e balouça essa louca
Na pouca vergonha da moça

Se a língua se lambe e se roça
Áspera túrgida úmida
Na fresta dos lábios se lança
Por dentro e por fora ela avança

Se a língua lúbrica pinga
Saliva sal vivo salobre
Por cima e por baixo lambuza
Seu mel seu calor seu langor

Se a língua lama lanugem
Pelugem de rubro veludo
Introduz seu dedo no lodo
Um lobo no dédalo uiva

Se a língua nua no orgasmo
Na água langue do espasmo
Se volve em mormaço e conforto
Dissolve-se a dança em mar morto

 

 

Os dólares queimados

 

Dali caminha por seus desertos coloridos
Verga as antenas do bigode uma para o alto outra para o baixo
Estende a língua passarela violeta debruada com pingentes
E a gente debruçada no poleiro do teatro grita bis grita giz grita xis

Dali se enrola numa estola e cola a cartola do mágico
Fala que a Gala é de todos ele gosta de vê-la cantando
Abrindo escala na escada com a vela na mão tremulando
E ao longe os touros de sangue na arena resmuuungando

Dali riposta outra resposta negra na ponta da míngua
Se dissolve em chamas de ferro tudo passa na vista
Todo artista é um palhaço fuzilado no fim da piscada
Toda arte é uma força fechada no nó cego da forca

 

 

Página publicada em julho de 2019


 

 

 
 
 
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