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MÁRCIA MAIA
(Recife/PE). É médica e poeta.
Publicou Espelhos (2003), segundo lugar no 3o Concurso Blocos de Poesia; Um Tolo Desejo de Azul (2003); Olhares/Miradas (2004); Em Queda Livre (2005) e Cotidiana e Virtual Geometria (2008), vencedor do Prêmio Violeta Branca Menescal (Manaus, 2007). Participa de coletâneas no Brasil e em Portugal.
Seu livro Onde a Minha Rolleyflex?, ganhou o Prêmio Eugênio Coimbra (Recife, 2008). Faz parte de Dedo de moça — uma antologia das escritoras suicidas (São Paulo: Terracota Editora, 2009).
Edita o blogue Itinerário.
POESIA SEMPRE - ANO 9 – NÚMERO 15 – NOVEMBRO 2001. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2001. 243 p. ilus. col. Editor Geral: Marco Lucchesi. Ex.bibl. Antonio Miranda
A chuva enxágua as calçadas
da sexta-feira
deserta.
Encharcada, a miséria se abriga
sob os pórticos das igrejas
antigas
pintadas de novo
preciosamente preservadas —
sombria imagem de esquecidos.
Não há páscoa, nesta cidade
de vivos-mortos.
Sem ressurreição e sem saída
aqui é sempre
— e todo dia —
sexta-feira da paixão.
*
A nseio pelo deserto
atávico
silente
para desdobrar-me
a alma
prenhe
de um sentir
afásico
— tormentoso exílio —
onde persisto
exaurida
afogada e afogando-me
na enxurrada
que atiça
as corredeiras
desta improvável
ilha
— invisível e indivisa —
de mim criada
e que
me contém
Página publicada em fevereiro de 2019
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