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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

MANUEL CAVALCANTI

 

Nasceu em João Alfredo, Pernambuco, em 1933.
Residiu depois no Rio de Janeiro.

Publicou os livros Lanternas pela Noite (1940), 
A Veste do Tempo (1946) e Pássaro Pássaro.
 Obra Reunida 1940-1948.

 

 

COSTA E SILVA, Alberto da, org.  A Nova Poesia Brasileira. Lisboa: Escritório de Propaganda e Expansão Comercial do Brasil, 1960.   287 p.  19x28 cm.  autografado   encadernado 
Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

POEMA

 

Presenciarei a vinda do grande milagre pela mão da morte,

a mão da morte, a que afasta para a invencível distancia.

Só eu a verei chegar e tocar teu leve corpo,

teu corpo tão frágil, mas logo liberto da fúria do tempo.

Brilhará em meus olhos a alegria de vê-lo afastado do tempo,

do tempo que o fez mais belo para consumi-lo com maior    
desejo.

Outros estarão presentes mas serão os que não souberam ver.

Terão olhos abertos diante do próprio milagre, mas nada
distinguirão.

Em verdade somente eu estarei presente, só eu serei o lúcido

quando em redor tudo for opaco e a tristeza escurecer os
próprios pensamentos.

Só eu verei fazer-se a aproximação, porque estarei em alegria.

Só eu exultarei de ouvir os festivos sinos, que a muitos
parecerão dobrar.

Só eu aspirarei o aroma desse momento de eternidade.

Só eu descansarei da aflição em que me martirizo,

sem mais emudecer de horror pelo que serias sob as garras do
tempo,

oh, evadida! oh, perpétua! oh, sacramentada de juventude!

 

 

                                                         (A Veste do Tempo)

 

 

 

EXPERIÊNCIA DO AFOGADO

 

(i.° movimento)

 

Muitos são os que morrem abraçados com o mar.

Velhos pescadores, de olhos turvos do vento

e voz rouca de cantar melopeias com que abrandam

a cólera do grande e inquieto cavalo azul.

Homens do mar, os que morrem bons de saúde,

apenas recolhidos ao seio vasto, ás vezes sem chamamento.

Morrem sem choro, sem lençol sobre o corpo,

vendo o luar, se é noite, abrir caminho nas águas.

Morrem lutando para não render-se a volúpia crescente,

braços cedendo ao cansaço, quase um gozo,

peito ar/ante retardando mais a doce entrega.

Morrem compondo sua marinha, a última, embalados

pelo gemido do mar, sentindo tudo no transe

ir ficando mais longe, entre névoas, confuso, mais longe...

 

A morte dos marinheiros, quem não sabe tão bela?

Tão bela se é um encontro, mais bela se é o encontro,

se é a amada que vem, o defrontar com a amada
desconhecida?

Marinheiros no mar são noivos, toda viagem é um noivado.

Ela pode surgir e de repente arrebatá-los, a todos,

ela, que em seu seio é pura e única para cada um.

 

Famílias de pescadores, saudosas famílias de navegantes, desesperadas famílias dos que morrem por afogamento, esposas que por tanto tempo ocupastes o lugar daquela
que dia e noite esperou no fundo das águas o corpo desejado.

 

 

(2.0 movimento)

 

Da terra, não vás ao mar.
Quem vai ao mar e é da terra
acaba por se afogar.
No mar não se pisa com segurança.

Ai de quem vê cascos de navio como paredes de um forte!

Ai de quem se recolhe ao conforto dos camarotes,

esquecido de que oscila sobre um chão que não é o seu.

Quem vai ao mar vai à aventura.

Da terra, não vás ao mar,

que o mar tem coisas irresistíveis

para te encantar,

tem mansos braços invisíveis

para te enlaçar.

 

No mar só se morre desesperado.
Escuta, da terra, não vás ao mar.

Quem vai ao mar, sendo da terra,
acaba por lá ficar.

Namoradas, donzelas que do amor só conheceis o desasossêgo,

noivas tomadas de pressentimentos, que suspirais nas praias
ao entardecer,

e rezais pela volta dos que enganosamente vos pertencem,

oh, infelizes mulheres, poupai vossas sentidas lágrimas.

No dia em que não vierem e o silêncio das brumas for mais
pesado,

é que o dia chegou, e eles partiram para a surpresa das bodas.

Partiram para as suas núpcias, belos como nunca, e
amorosamente

no seio da que tanto esperou foram enfim dormir.

 

 

                                    (in «Revista Branca», n.° 12)

 

 

 

 

Página publicada em outubro de 2020

 


 

 

 
 
 
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