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LIRINHA
( JOSÉ PAES DE LIRA FILHO )
José Paes de Lira Filho, mais conhecido como Lirinha (Arcoverde, 9 de novembro de 1976), é um compositor, poeta e escritor brasileiro.
Desde muito cedo frequentava rodas de recitais e “pelejas” dos cantadores e violeiros que aconteciam na fazenda de seu avô. Logo aprendeu a decorar versos e fazer rimas e, com apenas doze anos, foi convidado por Ivanildo Vila Nova e Ésio Rafael para declamar poesias no Teatro de Santa Isabel, o teatro mais tradicional de Pernambuco, no 4º. Congresso de Cantadores do Recife. Sua desenvoltura neste evento foi alvo de matéria do Diário de Pernambuco.
Sempre transitando no universo da literatura, música e teatro, além de participar da banda Cordel do Fogo Encantado, atuou em peças de teatro e filmes, e assinou trilhas sonoras para espetáculos e filmes.
Em 1997, José Paes de Lira se uniu com os conterrâneos Noé Lira, Alberoni Padilha e Pastor no projeto Cordel do Fogo Encantado, inspirado nas obras de cantadores e declamadores.
Em 1998, amadureceu o projeto teatral Cordel do Fogo Encantado, adicionando outros elementos da cultura popular local, resultado de uma pesquisa sobre manifestações do coco de roda e do reizado, saudando músicas do mestre Lula Calixto (samba de coco), mestre Horácio (reisado das caraíbas), padrinho Batista (banda de pífanos) ainda em formato teatral com 40 minutos de declamações e apenas 30 minutos de música. O espetáculo foi sucesso de público e percorreu o interior do estado de Pernambuco. Com direção de Miro Carvalho, cenário e luz de Roberto Baby, e no elenco José Paes de Lira, Clayton Barros, François Gomes, Alberone Padilha e Lúcio Flávio (DJ Coby).
Biografia completa em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Paes_de_Lira
INVENÇÃO RECIFE. Coletânea poética 1. Recife: Prefeitura; Fundação de Cultura da Cidade do Recife, 2004. 113 p. [ ANTOLOGIA ] ISBN 85-7044-128-2 Ex. bibl. Antonio Miranda.
POEIRA
(OU TAMBORES DO VENTO QUE VEM)
O pão que nasce do fogo
Na roda da saia
Na gira da terra
O vento que rasga telhado
Tambor ritmado
Trompetes de guerra
A guerra que traz a poeira
Que bate na gente
Poeira que vem do sertão
Configuração Bafo quente
Vem poeira
Vem poeira
Vem poeira
Trago poeira da terra queimada e a fumaça
Ah! Sequidão* sequidão pojuca
Malhada Craíba
Juazeiro torto
Moxotó velado
Serra das Varas
Trago poeira da terra queimada e a fumaça
Ah! Sequidão sequidão pojuca
Malhada Craíba
Juazeiro torto
Moxotó velado
Cabrobó Floresta Belém do São Francisco
Terra das Massas
* Sequidão, inspirada no trupé de Ciço Gomes
PROFECIA
(OU TESTAMENTO DA IRA)
Salve o povo Xucuru
Na cumeeira da serra Ororubá o velho profeta já dizia
Uma nova era se abre com duas vibras trançadas
Seca e sangue
Seca e sangue*
Herdeiros do novo milênio
Ninguém tem mais dúvidas
O sertão via virar mar
E o mar sim
Depois de encharcar as mais estreitas veredas
Virará sertão
Antôe tinha razão rebanho da fé
A terra de todos a terra é de ninguém
Pisarão na terra dele todos os seus
E os documentos dos homens incrédulos
Não resistirão a Sua ira
Filhos do caldeirão
Herdeiros do fim do mundo
Queimai vossa história tão mal contada
***
Ah! Joana Imaginária
Permita que o Conselheiro
Encoste sua cabeleira
No teu colo de oratórios
Tua saia de rosários
Teu beijo de cera quente
E assim na derradeira lua branca
Quando todos os rios virarem leite
E as barrancas cuscuz de milho
E as estrelas tocadeiras de viola
Caírem uma por uma
Os soldados do rei D. Sebastião
Mostrarão o caminho
* Profecia do Pajé Cauã (extraído do livro Lampião Seu Tempo e Seu Reinado, vol. 1, Frederico Bezerra Maciel)
FOGUETE DE REIS
No derradeiro luar
O sol saiu
Um trovão avermelhado
O sol saiu
Solta fogo do passado
O sol saiu
No peito de quem tá vivo
Salve
Eu quero ver rodar
A planta que vingará
O sol saiu
O medo de lampião
O sol saiu
As dores de Iemanjá
O sol saiu
E a lua quilariou
E eu vi o meu amor
Dentro do carnavá
E haja guerra e haja guerra
Haja guerra no ar
Boa noite senhor e senhora
Eu cheguei agora
Me preste atenção
Nesse mundo de fogo e de guerra
O santo da terra
Tem calo na mão
CHAMADA DOS SANTOS AFRICANOS
Quando a flor tava dormindo
Vento fogo corredor
É a bença prometida
Pra quem é merecedor
Pai Tomás levanta a cuia
Com incenso de fulô
Preta velha atiça o fogo
Que o trabalho começou
Vem arriar nessa casa
(A MATADEIRA
(OU NO BALANÇO DA JUSTIÇA)
Vê
A matadeira vem chegando
No alto da favela
No balanço da justiça
Do seu criador
Matadeira vem chegando
No alto da favela
No balanço da justiça
Salitre pólvora enxofre chumbo
O banquete da Terra
O Teatro do céu
Diz aí quem vem lá
O velho soldado
O que traz no seu peito
A Vida e a Morte
O que traz na cabeça
A matadeira
E o que veio falar
Fogo
NOSSA SENHORA DA PAZ
(OU O TRAPÉZIO DO SONHO)
Nossa Senhora da Paz
A bailarina do circo
Vem beijar a pele da cidade
As feridas
Os jardins
A pressão
O motor
Nossa Senhora dos Sonhos A trapezista do circo Venha descansar na minha cama Traga toda luz que há no céu Traga toda luz que há no chão Leva meu atalho e minha sorte No movimento da rua
VOU SAQUEAR A TUA FEIRA
Vou saquear a tua feira
Rasgar a capa do teu peito
Cercar de arame a tua boca
Botar garrancho no teu pé
Ah Sertão
Sesmaria sem dono
Bandeira vereda calor
Mar
A terra quente mergulhou nas águas
Salvação
Ave-bala sem dono
Bandeira vereda calor
Queima
As cercas velhas de arame novo
Página publicada em agosto de 2019
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