JOSÉ TAVARES DE MIRANDA
Nasceu em Vitória de Santo Antão, Pernambuco, em 1919 e faleceu em Sã Paulo em 1992. Seu primeiro livro foi "Alambôa" (1942), vindo depois "Poemas", Galha dos Infernos", "Voz em ergástulo" e "Tampa de Canasta".
POESIA DOS TRINT’ANOS
Para trás terreno baldio
para frente só o vazio.
Canção desajustada
de vida em movimento
parada.
A dor traspassa
de início à tumba
rasa.
Vozes frustradas
e toda harmonia
quebrada.
Para trás terreno baldio
para frente só o vazio.
Hora mais que magoada
e, em vão toda a vida
aniquilada.
SOBRE O AMOR
O corpo casto ou impuro
não importa ao amor
mesmo lágrimas advenham
címbalos ufanos de perjúrio.
Ao corpo casto ou impuro
outro corpo uma dádiva somente.
MARINHA
Diante do mar,
chegados do mar
os ventos rugindo.
Onde passastes
ventos sem abrigo
por caminhos do tempo
ou de outros espaços
sem memória?
Diante do mar,
a bruma e na bruma
a salsugem nas quilhas
das naves submersas;
ou apenas sargaços
sobre a praia,
e o passo dos homens-espuma
da solidão desertando.
Diante do mar,
a solidão, solidão
e silêncio, embora
o bramir das vagas
e rumor dos búzios
e do vento (solidão
uma palavra somente)
no entanto, solidão somente.
OFERENDA
A ti, flor,
do sortilégio
emanada
em luz de antélio
refletida a imagem.
Rosa sonâmbula
a ti a vigília
e o sono de encarcerado,
a ti a lágrima inclusa
em peito súplice.
SOBRE O AMOR
Além da morte
a rosa impõe
o seu perfume.
Página publicada em junho de 2010 |